Faz sentido se culpar por descansar?

Outro dia me peguei me sentindo culpada por ‘descansar’. Era como se eu não me permitisse não fazer nada, como se eu estivesse usando o meu tempo ‘de maneira errada’. Oi? Não se pode nem mais descansar em paz? Pois é, isso foi o suficiente para eu refletir e reavaliar a maneira como boicotei o ‘descansar’ e como nós humanos ansiamos pelo descanso, mas quando temos a oportunidade de relaxar, acabamos ficando angustiados e preocupados que estejamos sendo ‘preguiçosos’.

Vira e mexe quando somos confrontados com aquela pergunta ‘como você tá?’, a nossa resposta é ‘estou bem, mas ocupada, muito ocupada’. Por mais verdadeira que essa afirmação seja, até que ponto ela também é uma reivindicação de status? Afinal, estar ocupada é sinônimo de ‘ser importante’, ‘necessária’ e implica que você é uma pessoa ativa – é como se ‘a ocupação fosse um distintivo de honra’, de acordo com o pesquisador sobre a maneira que usamos o tempo, Jonathan Gershuny.

Poucos de nós sabem realmente como descansar de forma eficaz. Nosso estilo de vida é corrido, acelerado e tudo o que fazemos acaba reforçando como estamos cansados e como precisamos descansar. Acontece que quando tiramos um tempinho em nossas agendas atribuladas, muitas vezes nos sentimos inquietos ou como se estivéssemos sendo ‘vagabundos’. Preste atenção nestes 5 sinais para ver se você está trabalhando em excesso: você tem dificuldade em relaxar; sente que não há horas suficientes em um dia; sente que você nunca está acompanhando e no ritmo; está perdendo a paixão e se sente distante da sua família e amigos.

Um grupo de psicólogos da Universidade de Durham realizou uma pesquisa com 18.000 pessoas de 135 países chamada ‘Rest Test’ com o intuito de descobrir se outras pessoas também achavam difícil descansar. Foi descoberto que a sensação de déficit de descanso é amplamente compartilhada – dois terços das pessoas disseram que gostariam de mais descanso. Quando perguntaram o que o descanso significava para elas, frequentemente foram usadas palavras como ‘restaurativo, sublime e precioso’, assim como as palavras ‘culpa’ e ‘irritante’.

Cabe a nós entender que não aceitar o descanso vem justamente de uma cultura da obsessão por trabalho que nos força a dar checks em nossas intermináveis listas de afazeres 24/7. A ideia de que o descanso é um luxo permanece por aí. Por isso, te faço a seguinte provocação: se quando estamos descansando somos tomados pela pressão externa para alcançar as coisas e pelo sentimento de culpa, como podemos ser melhores em descansar? O que realmente queremos dizer quando falamos em descansar?

Não existe jeito certo e errado de descansar. Alguns descansam praticando esporte e outros lendo um livro. A questão é que uma atividade de descanso não precisa envolver preguiça, mas, crucialmente, deve ajudar a relaxar, refrescar e restaurar você. Inclusive, muitos acreditam que para obter um verdadeiro descanso é necessário um descolamento das coisas que estimulam nossas mentes, ou seja, em muitos casos estamos falando da tecnologia.

É importante aprender a fracionar o tempo e mesclar momentos agitados, intensos, com momentos de paz e de pausa. É preciso ignorar a ideia de divisão do tempo massificada que fomos ensinados a colocar em prática, na qual todos têm a mesma hora de almoçar, de dormir, acordar e de fazer pausas independentemente de suas necessidades individuais, das suas características e das suas vivências.