Esse final de semana fui a um show com um monte de amigos, mas em alguns momentos parecia que eu estava sozinha. Minha cabeça ia longe… Entorpecida pela banda (e que banda, meus amigos — Dave Matthews Band!), fui percebendo que estava, de fato, oficialmente passando pela tal crise dos 30 anos. O que, pensando bem, era de se esperar, ainda mais em meio à grande mudança que está acontecendo na minha vida (como mencionei há duas edições).
Você faz um plano para sua vida — e a vida, de repente, muda tudo. Ou, então, você começa a reavaliar onde chegou até aqui.
Será que estamos menos felizes do que os trintões de outras gerações? Talvez. Principalmente porque esse momento de balanço vem justamente numa fase em que os marcos da vida adulta — e a ausência deles — estão se embaralhando de um jeito único. E claro, com a minha mente inquieta, fiquei tentando entender de onde vem essa tal crise. Seria ela mais existencial? Acho que sim, mas confesso: não é uma crise fácil de explicar — nem de entender.
Existe uma pressão silenciosa para que a gente já tenha encontrado a felicidade nos 30. Mas ela, na prática, costuma atingir o auge em idades diferentes, dependendo do estudo. Por exemplo, a pesquisadora Sonja Lyubomirsky, da Universidade da Califórnia em Riverside, diz que as pessoas tendem a ficar mais felizes com o passar do tempo. Já os economistas costumam apontar uma curva em forma de U, com a menor queda por volta dos 45–50 anos – nessa fase várias variáveis estão mais sob controle.
A felicidade em si é um conceito escorregadio. Em um dos meus estudos favoritos, perguntaram a pessoas de 30 e de 70 anos qual faixa etária elas achavam que era a mais feliz. Ambos os grupos responderam: os de 30 e poucos. Mas quando os pesquisadores perguntaram a cada grupo sobre seu próprio bem-estar subjetivo, quem pontuou mais alto foram os de 70.
“Acho que as pessoas erram sistematicamente ao prever sua satisfação com a vida ao longo dos anos”, diz o economista Hannes Schwandt. “Elas esperam — incorretamente — que a felicidade aumente na vida adulta jovem e diminua na velhice.”
Os 30 (e poucos) me atingiram com mais força do que eu esperava. Todo dia é esse ciclo de introspecção, seguido da tentativa de viver de acordo com o que descubro lá dentro. Dá trabalho. Muito trabalho. Ninguém te conta o quanto de esforço é necessário para se tornar quem você realmente é. Vivo num paradoxo constante: de um lado, a pressão de conquistar tudo logo — porque “nos 30, você já devia ter chegado lá”; do outro, o lembrete gentil (e às vezes sarcástico): “calma, você ainda está nos 30”.
Para mim, essa é a década em que finalmente tenho idade suficiente para ouvir (e acolher) alguns bons conselhos de vida. A comparação com os outros já não pesa tanto. Pelo menos pra mim. Tenho tentado praticar mais a gratidão, aceitar que nossas vidas são mais comuns do que parecem — e maravilhosamente bagunçadas. Tento não me apegar a uma única visão rígida de como a vida deveria ser. Por mais difícil que seja, busco ser flexível e adaptável. Descobrir o que eu realmente quero, versus o que acho que quero — e ir ajustando o rumo.
Minha crise tem pouco a ver com conquistas ou expectativas não alcançadas. É muito mais sobre o que eu não quero do que sobre o que eu tenho — muito mais sobre o que eu não aceito. É uma crise que gira em torno de relações, sim, mas principalmente de uma relação íntima: eu comigo mesma. De dúvidas profundas sobre se eu, de fato, sei quem sou — e pra onde estou indo.É, como falei acima, uma crise ligada ao que é necessário encarar, abandonar ou acolher para seguir no caminho de me tornar — e simplesmente ser — quem eu realmente sou.