serial killer

Por que amamos serial killers?

Se você abriu a última edição da newsletter do final de semana, deve ter visto que indiquei a série que eu – e, aparentemente, o mundo – está viciada, ‘Dahmer—Monster: The Jeffrey Dahmer Story’E aí que enquanto eu assistia, fiquei me questionando: o que está por trás do sucesso dela? Por que nós gostamos tanto de histórias de crimes verdadeiros? Por que nos interessamos por serial killers e qual o impacto disso tudo no nosso psicológico? 

Serial killers são um dos temas mais explorados em podcasts. O canal do YouTube Ask a Mortician” – abordando desde necrofilia até as piores maneiras de morrer – tem milhões de visualizações. O website FindADeath.com, fundado em 1997 por Scott Michaels, documenta os últimos dias, relatórios de autópsias, certidões de óbito e túmulos de algumas das mortes mais conhecidas e famosas, e conta com uma comunidade com mais de 10.000 membros registrados. Séries como Criminal Minds e Law & Order se tornaram fenômenos de toda uma década e geração que teve seu primeiro contato com o true crime através destes.

Existe ainda um segmento dedicado aos crimes dentro do turismo – é possível fazer tours em Whitechapel, na Inglaterra, para os locais onde aconteceram os crimes de Jack o Estripador. Em Washington, existe o Museu do Crime, onde é possível tirar uma selfie com o fusca cor de barro em que Ted Bundy atacou e assassinou dezenas de mulheres jovens na Califórnia, na década de 1970. 

Tá, mas por que todo esse fascínio em ver desastres e coisas horríveis? 

Bom, sabemos que os assassinatos em série são incrivelmente raros – menos de 1% de todos os crimes de homicídio anuais nos Estados Unidos. Sua raridade os torna mais atraentes para o público, tornando comuns todos os outros casos de crimes. Como resultado, os serial killers se transformam em uma espécie de lenda ou mito urbano. 

Assistir de longe crimes horríveis através das telas e páginas, de acordo com Gail Saltz, professora associada de psiquiatria da Escola de Medicina Weill-Cornell, do Hospital Presbiteriano de Nova York, nos proporciona conforto e distanciamento, permitindo que entremos nas histórias sem estar em perigo. Tal conexão também funciona como uma injeção de adrenalina, hormônio estimulante e viciante para o cérebro humano. 

No livro “Why We Love Serial Killers: The Curious Appeal of the World’s Most Savage Murderers”, Scott Bonn, professor de criminologia e sociologia da Drew University, diz que ver fotos das cenas de assassinato ou ler sobre os crimes hediondos são uma forma de escapismo –  “há uma necessidade inerente de chegar perto da beira do abismo e olhar sem cair.”

Por que tantas pessoas simpatizam com o serial killer Jeffrey Dahmer? 

Vamos combinar que o questionamento incrédulo ‘gente, como é possível’ ao longo da série vem várias vezes à cabeça né? Afinal, os assassinos são pessoas comuns que poderiam ser nossos amigos, vizinhos, colegas de trabalho. 

Helen Morrison, uma psiquiatra que entrevistou mais de 80 assassinos em série e foi testemunha de defesa no julgamento de Gacy, descobriu que, no geral, eles eram ‘atores experientes’, aptos a parecerem normais. Em suas memórias, “My Life Among the Serial Killers (Wiley, 2004)”, ela escreve: “eu nunca sei com quem estou lidando. Eles são tão amigáveis ​​e tão gentis e muito solícitos… Eles são charmosos, quase inacreditavelmente carismáticos como um Cary Grant ou um George Clooney.” De fato, muitos podem chegar a simpatizar com Jeff, o que soa como maluquice.

No caso de Jeffrey, é fácil romantizá-lo, porque ao contrário da maioria dos serial killers que simplesmente gostam de infligir dor e humilhação em suas vítimas, ele realmente buscava por amor e proximidade. Até mesmo aqueles próximos ao seu caso o trataram com simpatia. O Dr. Samuel Friedman, um psicólogo que foi convidado a testemunhar no julgamento, acreditava que era um ‘desejo de companheirismo que fez com que Dahmer matasse’. Derf Backderf, que conheceu o assassino no ensino médio, não glamouriza os crimes de Jeff em seu livro em quadrinhos, “My Friend Dahmer”, mas constrói seu personagem como uma vítima, um produto de seu ambiente. 

E quais os principais interesses por serial killers das pessoas?

Pode-se dividir o interesse em dois âmbitos: os que se interessam principalmente pelos detalhes grotescos e os que se interessam principalmente pela motivação de cada crime. O segundo parece ser predominante. Existe até um segmento do FBI que se dedica exclusivamente a compreender as mentes criminosas: a BAU. Séries como Criminal Minds, Mindhunter,Killer Inside: The Mind of Aaron Hernandez | Main Trailer | Netflix e Conversando com um Serial Killer: Ted Bundy” se dedicam a compreender o funcionamento da mente desses criminosos.

Por fim, quais são os impactos de assistir a séries e filmes e ler livros sobre crimes verdadeiros?

Ao mesmo tempo que séries que se concentram em assassinato e estupro podem ajudar você a se tornar mais vigilante e consciente, elas também podem te deixar reativo a ponto de não sair de casa, não socializar, não funcionar. E não são apenas histórias de crimes reais que podem impactar nossa psique. Portanto, é importante observar se você está com medo o tempo todo, se preocupando o tempo todo com o ‘e se’ e se isolando, evitando viver plenamente a vida. Outros sinais: sentir-se inseguro em casa, ser cauteloso demais com os outros, duvidando da humanidade das pessoas ao seu redor.

Além do mencionado acima, sabemos que a Netflix coloca muitas temáticas na boca e mente das pessoas, tornando-as mainstream. Tais histórias chegam em várias pessoas, inclusive, naquelas que podem ter algum problema psicológico ou até algum tipo de inclinação para pensamentos ‘problemas’. Portanto, me questiono: até que ponto expor esse tipo de crime tão inusitado pode desencadear a curiosidade sobre tais atos ao ponto de mais pessoas cometê-los? Será que tal conteúdo impacta a vida das pessoas, ao ponto de mais crimes como esse de fato virarem ‘mais comuns’? Seria interessante após uns anos da série no ar, ter dados de quantos casos de canibalismo apareceram.

Para concluir, penso que somos seres racionais e buscamos racionalidades em tudo que acontece, mesmo onde não existe. Adoramos o que não conseguimos entender, sendo fascinados pelo inusitado e sempre em busca de respostas e explicações para tudo que acontece ao nosso redor. E acredito que serial killers de fato ‘check all the boxes’, sendo inexplicáveis e portanto, desperte esse interesse tão grande.

Fonte: BBC / Vice / Wired 

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