No mês passado, sete passageiros em um voo da Lufthansa do Texas para Frankfurt foram hospitalizados com ferimentos leves, por conta de uma turbulência severa ao sobrevoar o Tennessee. Em dezembro, cerca de duas dúzias de pessoas, incluindo uma criança, ficaram feridas em um voo da Hawaiian Airlines, de Phoenix para Honolulu, um pouco antes do pouso. Tirando essas duas histórias, você com certeza já ouviu muitas outras..
Imagino que também tenha entrado em um avião e desejado que sua jornada fosse tranquila, sem turbulências… mas, te pergunto, você sabe o que realmente é considerada uma? Por que ela acontece e o que significa? Sem querer te deixar ansioso, relatórios recentes levantam questões sobre o fato dela vir ocorrendo mais frequentemente e intensamente, por isso, achei válido nos aprofundarmos no tema.
Afinal, o que é turbulência?
Um avião atravessa uma zona de turbulência quando se move violentamente pelas alterações de velocidade e de direção das correntes de ar, ou seja, ela nada mais é do que um movimento instável do ar que é causado por mudanças na velocidade e direção do vento, tais como correntes de jato, tempestades e frentes de tempo frio ou quente.
Ela não necessariamente acontece apenas quando o tempo está instável, mas também, com “céu de brigadeiro”, sendo visível ou não aos olhos humanos bem como para o radar meteorológico.
Existem quatro classificações de turbulência: leve, moderada, severa e extrema. Em casos de turbulência extrema, o piloto pode perder o controle do avião e pode até haver danos estruturais à aeronave, de acordo com o Serviço Meteorológico Nacional. Além disso, aviões pequenos são mais suscetíveis a mudanças na velocidade do vento, ao contrário de aviões comerciais maiores.
EXTRA: Esse vídeo do The Wall Street Journal com um piloto veterano explica de maneira bem clara.
E por que temos vivenciado mais casos de turbulência?
Paul Williams, professor de ciências atmosféricas da Universidade de Reading na Inglaterra, que estuda a turbulência há mais de uma década, acredita que elas estão aumentando em todo o mundo, em todas as categorias e em todas as altitudes de voo. Na sua opinião, a turbulência, que ocorre mais frequentemente em altitudes elevadas e no inverno, poderia triplicar até o final do século.
Tais mudanças na corrente de jato resultarão em um aumento de sua incidência de 113% na América do Norte e 181% sobre o Atlântico Norte.
Mas, por quê? Bom, de acordo com suas pesquisas, devido a alteração climática, mais especificamente, pelas elevadas emissões de dióxido de carbono que afetam as correntes de ar.
E como conseguimos prevê-la e monitorá-la?
Os meteorologistas recorrem a uma variedade de diferentes algoritmos, satélites e sistemas de radar para produzir previsões de aviação detalhadas para condições como ar frio, velocidade do vento, tempestades e turbulência. Eles sinalizam onde e quando a turbulência pode acontecer. Soma-se a estas previsões, a orientação dos controladores de tráfego aéreo. Mas um alerta: para Robert Sumwalt, ex-presidente do Conselho Nacional de Segurança do Transporte, é impossível evitar ou prever todas as turbulências.
Assim, os pilotos tentam contornar as áreas turbulentas ajustando sua altitude para encontrar o passeio mais suave. Isto significa voar mais alto ou mais baixo do que a altitude onde os preditores preveem-a e, potencialmente, queimar mais combustível do que inicialmente previsto, um esforço que pode custar caro. Para você ter ideia, estima-se que tais mudanças de rota de voo e altitude custem às companhias aéreas dos EUA até US$ 100 milhões por ano e queimem mais 160 milhões galões de combustível anualmente.
E qual o tamanho do perigo?
De acordo com a Federal Aviation Administration, 146 passageiros e tripulantes foram gravemente feridos pela turbulência entre 2009 e 2021. Isso pode acontecer, porque em turbulência severa, o movimento vertical do avião excederá a atração da gravidade. ‘O que isso significa é que se você não estiver com o cinto de segurança, por definição, você se tornará um projétil, você é uma catapulta, você se levantará de seu assento”, disse o Dr. Williams.
Por isso, aquela famosa frase de ‘mantenham os cintos afivelados durante todo o voo ou o máximo que der’ continua sendo, de acordo com os especialistas, a melhor maneira de reduzir os riscos. A notícia boa é que os aviões são projetados para resistir a condições adversas e é raro que as aeronaves sofram danos estruturais devido à turbulência.
Já as fatalidades causadas pela turbulência, embora extremamente incomuns, acontecem. E pra você que sempre fica tenso quando começa uma turbulência, achando que o avião pode simplesmente despencar, saiba que a resposta mais breve para isso é que é muito, muito raro que a turbulência seja poderosa o suficiente para realmente derrubar um avião.
O projeto do avião poderia ser alterado para eliminar completamente a experiência da turbulência?
Marilyn Smith, engenheira aeronáutica da Georgia Tech diz que, provavelmente não, pelo menos no curto prazo, reforçando que este é um problema extremamente difícil de resolver, mantendo um avião leve, de baixo custo e energia eficiente. Mas, sabemos que existem pesquisas que estão analisando a possibilidade de reação instantânea a rajadas repentinas, alterando o fluxo de ar ao redor da superfície da própria asa.
Como lidar
Existem algumas estratégias mais sólidas para planejar e lidar com a turbulência uma vez no avião. De acordo com Heather Poole, comissária de bordo há 21 anos e autora do livro “Cruising Attitude”, voe no início do dia e sente-se o mais à frente possível no avião.
E claro, busque conhecimento e se informe, afinal o medo é gerado principalmente pela falta de senso de controle. “Se você aprender mais sobre o clima, o que é e onde pode estar a turbulência, terá uma noção melhor de como isso acontece e de que ficará bem”, segundo o Poole.