Ao longo dessa última semana me peguei pensando no porquê conviver com os mais velhos tem sido cada vez mais difícil para as gerações de hoje em dia e, confesso: cheguei a tantas possíveis respostas que tive que me segurar pra não tornar este #PraSeAprofundar uma bíblia.
Pra começo de conversa, quero deixar algo bem claro aqui: se você, caro leitor(a), se dá bem com pessoas mais velhas – conhecidas ou não – saiba que você é a exceção, não a regra. Porque sim, manter uma relação saudável e empática entre as gerações têm se mostrado um verdadeiro desafio.
Mas por quê? Sem dúvidas, a falta de paciência para lidar com o raciocínio um pouco mais devagar da chamada melhor idade é o primeiro tópico que me vem à mente, afinal, as pessoas hoje em dia andam tão frenéticas e ávidas por fazer o máximo de tarefas no menor tempo possível que desacelerar, por um minuto sequer, causa uma grande e desesperada sensação de desperdício de tempo… E como vivemos em uma sociedade que classifica tempo como dinheiro, não é de se espantar que essa repulsa pela diminuição do ritmo aconteça, ainda que seja para ouvir ou ensinar o outro.
Além disso, as diferenças de valores, com certeza, também entram para equação, até porque, querendo ou não, gerações diferentes interpretam e lidam com questões como, trabalho, casamento e religião, de modo igualmente distintos. E cá entre nós, a maioria dos jovens não estão nem um pouco a fim de escutar o que eles têm a dizer sobre isso (ou qualquer outro assunto, na real), justamente por acharem que eles não têm absolutamente nada a acrescentar, o que dá margem para reforçar antigos estereótipos e falas maldosas de que “gente velha não sabe de nada” ou “não entende as coisas hoje em dia”…
E não se engane: quem pensa assim, na verdade, se esqueceu de que pessoas mais velhas já foram jovens um dia e também experienciaram e experienciam – cada um do seu modo – as loucuras, amores e emoções da vida. Por isso, precisamos urgentemente parar de associar fios de cabelo branco na cabeça à lentidão, chatice e estupidez e começar a atribuir novos significados a eles… que tal: experiência, diversidade e longevidade?
Nesses casos, é claro, não sou ingênua e sei que o culto à juventude contribui (e muito) para uma resistência nessa mudança de mindset, mas por que será, hein? Alguém adivinha? É bem simples… pensa comigo: muita gente não consegue lidar com pessoas mais velhas, porque isso remonta a lembrança de que um dia elas vão envelhecer também – e muitas delas não querem, de jeito nenhum, lidar com essa dura realidade frente a um mundo que vende a ideia de “juventude infinita” como a fórmula da felicidade – seja pensando em termos estéticos ou de energia, e de tempo para viver tudo que há para viver.
Ahhh, se todo mundo parasse pra pensar que a velhice é um destino certo, talvez, aproveitassem mais a jornada e dariam mais valor às trocas com as pessoas que já chegaram lá, ao invés de menosprezá-las.
Inclusive, o conflito de relações entre as gerações tem se tornado cada vez mais evidente. Segundo pesquisa realizada pela OMS, em 57 países, mais de 60% dos idosos disseram ter sido vítimas do etarismo – nome dado ao preconceito contra o envelhecimento. Enquanto no Brasil, onde mais de 30 milhões de pessoas têm mais de 60 anos, nove em cada dez disseram serem vítimas.
Aliás, dispensando surpresas, quem mais sofre com o etarismo, geralmente, são as mulheres, visto que a cobrança de sempre se manter bonita e ‘apresentável’ à sociedade recai infinitamente mais sobre elas, embora, é claro, o preconceito atinja a todos que sentem na pele os anos passando.
A antropologista e escritora Mirian Goldenberg, que estuda o fenômeno há quase 30 anos, diz uma frase que vale a reflexão: “se a gente não mudar a forma de enxergar a velhice, estamos condenados a viver a maior parte da nossa vida como seres inúteis.”
Quem concorda que já passou a hora de sermos guiados por uma cultura centrada na juventude que ensina todos a temer, menosprezar e ridicularizar a idade para adotar uma nova, que preza por abraçar todos os estágios da vida e que apoie a diversidade e inclusão em todas as suas esferas?