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Sadomasoquismo: os limites e prazeres da dor

A sexualidade humana, sem dúvidas, é pauta de muitas discussões à mesa, principalmente quando ela não segue um caminho linear… e, aqui, estamos falando sobre sadomasoquismo: uma relação baseada no prazer pela dor. A palavra é originada dos termos: sadismo (aquele que sente prazer em proporcionar dor) e masoquista (aquele que sente prazer em sentir dor). 

Confesso que estou bem animada para dividir o que eu aprendi sobre o tema, por isso, quero começar quebrando alguns mitos muito difundidos por aí que, provavelmente, são os responsáveis por fazer você entortar o nariz quando ouve o termo logo de cara – até agora!

Durante muito tempo o significado de sadomasoquismo era atrelado a uma espécie de perversão mental no indivíduo, inclusive, foi só em 2019 que a OMS retirou o sadomasoquismo da classificação de diagnósticos psiquiátricos através da CID-11, dá pra acreditar? 

A nova legislação aponta que o sadomasoquismo faz parte da excitação sexual (sendo uma variante dela), de caráter pessoal e privado que não impacta em relevância na saúde pública, portanto, sim, a prática está liberada, mas NÃO do jeito que muita gente pensa – isso porque muitos consideram ela parte de uma “terra sem lei”, onde tudo é permitido, quando, na verdade, existem regras muito bem acordadas entre os praticantes!

Curioso pra conferir algumas delas? Lá vai: 1) tudo deve ser consensual entre os envolvidos e combinado previamente – alguns casais chegam até a assinar papéis contratuais a próprio punho (isso mesmo que você leu); 2) os limites em que cada um é capaz de ir precisam ser respeitados, ou seja, se alguém sentir incômodo ou dor além da conta, deve fazer uso da “senha de segurança” – palavra antecipadamente estabelecida que indica que o outro deve encerrar o ato no mesmo instante.

Vale dizer que, ao contrário do que muita gente pensa, este fetiche sexual nem sempre requer que o sexo e a penetração propriamente estejam envolvidos, mas sim a relação dominador-dominado. A partir disso, segue-se a lógica: não se pode ser sádico e masoquista ao mesmo tempo. Ou você assume o papel de submisso ou de opressor nesse relacionamento com as suas respectivas “funções” na busca pelo prazer.

Pra finalizar (espero que você esteja achando o tema tão interessante quanto eu), separei algumas práticas dessa relação que pode soar estranha pra muitos, todavia, trata-se puramente de interesses sexuais diferentes (isto é, tudo bem se sentir atraído ou não por elas):

1. Bancar o motorista: papel assumido por quem está na condição de submisso, em geral com uniforme. Há regras claras para esse “jogo”, como não olhar nos olhos do patrão/patroa, sob o risco de receber um castigo 

2. Obediência para se vestir e comer: aqui, quem assume a condição de submisso deve usar as roupas e comer os alimentos que o dominador permitir. O dominador pode ou não ser o responsável por vestir a pessoa e dar comida na sua boca e tal ato pode ser praticado em público ou na intimidade.

3. Mumificação com papel filme: talvez esse seja um dos exemplos mais conhecidos, onde o dominador imobiliza o dominado e se utiliza de recursos como cordas, fita adesiva, corda de varal, camisa de força e até papel filme para tal. *É importante ressaltar que os praticantes sempre devem tomar cuidado para não limitar a respiração, nem a circulação da pessoa que será imobilizada, afinal, sequelas não são bem-vindas, ou sequer um dos objetivos dessa prática…. 

Tá, falei, falei, mas o que você achou de tudo isso? Se a resposta ainda for “hmmm, não curti” ou “não é pra mim”, ok! O que não vale é desrespeitar a prática pela ignorância em não saber o que ela realmente significa.. Está claro que o universo da sexualidade é super extenso e, às vezes, pode ser denso, mas, sem dúvidas, sempre é extremamente subjetivo. Praticantes do chamado “sado” seguem crescendo pelo mundo – ainda mais após a febre da saga dos livros e filmes “50 tons de cinza” – e defendem que com respeito e equilíbrio, tal forma de se relacionar é sim capaz de impulsionar sua satisfação sexual, alavancar sua criatividade e ainda trazer um “a mais” para a relação, de forma gostosa e inovadora.

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