138

Somos os verdadeiros donos dos nossos gostos?  

Quando me deparei com o livro recém-lançado, ‘Filterworld – How algorithms flattened culture’, de Kyle Chayka, escritor da New Yorker e autor de The Longing for Less, pensei o quão válido seria trazer essa discussão para a EYN. 

Nele, o autor discorre sobre como ficou muito mais fácil encontrar filmes, programas de TV ou músicas que se encaixam em nossas preferências – uma vez que os algoritmos passaram a orientar a maior parte da nossa vida digital – mas, ao mesmo tempo, como ficou mais difícil encontrar coisas estranhas e surpreendentes (as quais nos ajudam, como indivíduos, a desenvolver nosso próprio senso de gosto). 

Afinal, você já parou para pensar que, embora seja conveniente ter nossas preferências, comportamentos e emoções “governadas” (ou se preferir, “sugeridas”) por computadores, isso pode colocar em xeque nosso livre-arbítrio? 

Pois bem, eu acabei parando para pensar… e isso me levou à seguinte reflexão:

Será que eu gosto mesmo de X estética, ou só aceitei, de forma passiva, as sugestões que apareceram no meu Instagram relacionadas a ela? Será que a lista de restaurantes que eu tenho salvas para ir são realmente minha vibe, ou apenas uma coletânea do que o algoritmo considerou “em alta” no momento? Ou até mesmo, será que aquelas roupas que não param de aparecer no meu feed estão em sintonia com a real imagem que eu quero transmitir, ou são apenas mais “achismos / determinismos” do algoritmo sobre o que combina comigo?

Talvez sim, talvez não… mas a questão é, as recomendações algorítmicas têm ditado cada vez mais nossas experiências e escolhas. Faça um exercício e tente lembrar: qual foi a última vez que você fez, assistiu, ou ouviu algo diferente do que foi recomendado para você? 

Sejamos sinceros, bem provável que a resposta seja um “faz tempo”, mesmo porque, o objetivo dessa ferramenta é, em suma, automatizar – então, analisando friamente, não deveríamos ficar tão surpresos por ela estar desempenhando sua função tão bem, né?

Ao menos não quando gigantes, como Amazon, Netflix e seus semelhantes coletam inúmeros dados de nós, usuários apáticos, enquanto aceitamos todos os seus cookies – sem nem sequer saber o que isso realmente significa, e muito menos quando passamos a “viciar” intencionalmente o algoritmo para nos mostrar exclusivamente aquilo que queremos ver, seja fofoca dos famosos, dicas de viagem ou até as fanarts da vida. 

Tudo isso dá ao algoritmo toda munição que ele precisa para “fazer sua mágica” e transformar dados aparentemente simples em informações minuciosamente poderosas, que lhes servem como base para calcularem e nos apresentarem aquilo que eles interpretam como “a nossa cara” (ou melhor, como aquilo que eles querem que seja “a nossa cara”) em um ciclo sem fim – o qual, por vezes, nos deixa mergulhados na monotonia e mesmice de escolhas…referências… compras… dicas, etc. 

Bom, depois desse turbilhão de fatos e reflexões, finalizo estendendo o questionamento pra vocês (com a pergunta de um bilhão de dólares que não poderia faltar): será que a liberdade pessoal é possível na Internet? 

O livro que citei lá no começo ajuda a entender por que a resposta é sim, no entanto, descobrir o “como” já é uma tarefa mais autônoma…

Pra te motivar, saiba que Ayad Akhtar, o vencedor do Prêmio Pulitzer e autor de Homeland Elegies, considera esta uma leitura necessária para todos que já tenham se perguntado como a Internet, ao mesmo tempo que expandiu nosso mundo, acabou esvaziando nossa experiência com ele… 

E aí, topa o desafio? Depois me conta suas conclusões!

Direitos reservados Eat Your Nuts