O papo de hoje é bastante atual e relevante, com impacto direto ou indireto na vida de muitas pessoas, sejam elas amigas de influenciadores, aspirantes a influenciadores, diretores de marketing de empresas, e assim por diante. Vamos falar sobre os influenciadores não humanos – ou seja, as personalidades influenciadoras geradas por Inteligência Artificial – mas, antes de entrarmos nesse assunto, vamos contextualizar um pouco.
Segundo pesquisa recente da Morning Consult, mais da metade dos jovens da Geração Z aspiram se tornar influenciadores em tempo integral. Esse desejo não surpreende, considerando a cultura em que foram criados. Para muitos deles, crescer vendo amigos criando conteúdo online se tornou a norma, seja compartilhando tutoriais de maquiagem, sessões de jogos ou conselhos financeiros, etc… Sendo assim, o impacto disso em suas ambições profissionais é natural – para eles, o mundo online não é apenas um espaço de interação social, mas também uma fonte principal de informação e aprendizado sobre o mundo. No pacote, está a promessa de autonomia, ganhos potencialmente superiores aos de empregos tradicionais e a percepção de que estar diante da câmera é simples, tornando tudo isso muito atrativo.
É importante lembrar que, há pouco mais de uma década, muitos influenciadores bem-sucedidos alcançaram a fama e tal status de forma improvável, compartilhando suas vidas ou habilidades de nicho e, de repente, encontraram-se com um grande público e marcas ansiosas para colaborar. No entanto, nos últimos anos, a dinâmica do mercado de influenciadores mudou drasticamente. Já não basta apenas postar ocasionalmente para construir uma carreira lucrativa. Além do esforço necessário para se tornar um influenciador, a concorrência está cada vez mais acirrada, com mais pessoas buscando fama e sucesso.
Agora, vamos acrescentar nessa equação o mais novo desafio para tais aspirantes a influenciadores: a ascensão dos influenciadores de Inteligência Artificial. Sim! Com os avanços na tecnologia de IA, o surgimento de influenciadores não humanos se tornou uma realidade, oferecendo às marcas uma alternativa econômica para suas estratégias de marketing. À medida que o conteúdo gerado por IA se torna mais predominante, os influenciadores humanos se encontram em um mercado cada vez mais saturado, onde se destacar exige abordagens inovadoras e fluxos de receita diversificados.
O marketing de influenciadores é fascinante, porque permite alcançar públicos específicos de forma autêntica, mas para os gerentes de marca, encontrar os influenciadores ideais pode ser uma tarefa assustadora e dificílima – não é simples encontrar criadores que compartilhem os valores da marca e se conectem com o público-alvo, especialmente ao analisar uma infinidade de perfis em plataformas como Instagram, YouTube e TikTok.
É aí que entram as ferramentas baseadas em IA, revolucionando o marketing de influenciadores ao simplificar o processo de identificação de influenciadores adequados, analisando a demografia do público e prevendo o desempenho da campanha. Através de uma abordagem orientada por dados, as marcas podem tomar decisões informadas e maximizar a eficácia da campanha. Por exemplo, o Aria, criado pela Socially Powerful, é uma ferramenta que usa tecnologia avançada de linguagem natural para encontrar influenciadores com base em critérios específicos, simplificando assim, o processo de descoberta de parcerias autênticas.
Quanto aos influenciadores de IA, quem não se lembra da Miquela Sousa, com seus milhões de seguidores e acordos lucrativos com marcas? Criada em 2016, Sousa nasceu como uma brasileira-americana de 19 anos em plena forma. Ao longo do tempo, arrecadou 3 milhões de seguidores no Instagram, e tem recebido mais de US$ 10 milhões por ano em acordos com marcas, com campanhas para Prada e Calvin Klein – no entanto, ela não é uma pessoa real.
Na época em que foi criada, os influenciadores humanos ainda eram mais baratos, porém nos últimos dois anos, a IA avançou o suficiente para tornar os influenciadores digitais muito mais fáceis de criar e administrar. Com ferramentas como o gerador de imagens de IA Mid Journey e o futuro Sora da OpenAI, que faz vídeos extremamente realistas a partir de instruções de texto, a criação de conteúdo está se tornando muito mais acessível – eles podem ainda duplicar o conteúdo em diferentes idiomas.
Somado a isso, no final do ano passado, a Meta anunciou “um universo de personagens”, alimentado por IA, com contas do Instagram e do Facebook com as quais você pode interagir – “estamos criando IAs que têm mais personalidade, opiniões e interesses, e são um pouco mais divertidas de interagir”, dizia o anúncio. Uma agência de modelos com IA chamada “The Clueless”, foi lançada no ano passado, com duas modelos. Também em 2023,, a empresa de influenciadores de IA 1337 recebeu apoio de US$ 4 milhões, o que a possibilitou criar dezenas de entidades de IA, cada uma com interesses de nicho, histórias de fundo complexas e suas próprias listas de reprodução do Spotify.
Atualmente, há cerca de 200 influenciadores virtuais ativos, incluindo Micaela, Imma e Shudu, impulsionando a ascensão das personalidades geradas por IA. Jenny Dearing, CEO da IA 1337, prevê uma mudança gradual em direção à eles, embora os influenciadores humanos ainda tenham seu espaço. Para ela, no futuro poderemos testemunhar um aumento do foco das marcas nos influenciadores virtuais, com uma possível proporção de 80-20 em relação aos influenciadores humanos.
Agora, convenhamos que o que o público realmente quer nas mídias sociais é autenticidade e se uma animação computadorizada estiver promovendo um novo produto de skincare, provavelmente não confiaremos tanto nela quanto confiaríamos em um influenciador humano jurando que o produto mudou sua vida. Por outro lado, todavia, sabemos cada vez mais o quão rápido começamos a ver a IA como humana – alouuu, ChatGPT.
Por isso, esse movimento em direção aos influenciadores de IA levanta questões sobre autenticidade e confiança. Com o tempo, o foco não será em quem está criando o conteúdo, mas se o conteúdo é atraente e confiável, de acordo com o relatório 2024 Social Media Trends, da plataforma Hootsuite.
Na visão mais pessimista, Eric Schmidt, ex-CEO do Google, e Jonathan Haidt, psicólogo social e autor, alertam sobre o uso habilidoso da IA generativa para adaptar-se às necessidades individuais, além da criação de deepfakes prejudiciais à reputação e celebridades de influenciadores. A capacidade da IA de explorar os vieses cognitivos dos consumidores é de grande interesse para os profissionais de marketing, fornecendo uma versão altamente direcionada e aprimorada dos influenciadores humanos mais eficazes. Se a IA prosperar nesse campo, a busca por influenciadores valiosos será ainda mais desafiadora para as gerações Z e Alpha, enquanto a própria natureza da influência online enfrentará mudanças fundamentais.
Enfim, o equilíbrio futuro entre influenciadores humanos e de IA permanece incerto, mas uma coisa é certa: a natureza da influência na era digital está passando por uma profunda transformação.