O tema da edição de hoje não poderia ser outro senão altruísmo. Para começar, duvido que você não tenha visto o vídeo da comediante, Luana Zucoloto (caso você não viu, veja), que viralizou de tal maneira que é impossível não se questionar como muita gente tem a mesma opinião que ela ao ponto de querer passar sua mensagem adiante e repostar, mas como tem tanta gente agindo justamente de maneira oposta, ao ponto de ter feito-a desabafar e criar tal conteúdo? No mínimo irônico…
Apesar dos impactos negativos da Internet, como disseminação de desinformação e polarização, vídeos como o da Luana e redes de apoio que estão se formando em prol do RS me dão uma ponta de esperança de que há sim chances de redesenhar as redes sociais para promover uma comunicação construtiva, uma sociedade mais altruísta, especialmente em momentos de crise (lá embaixo você encontra dicas de como ajudar, como marcas estão agindo e mais…).
Apesar disso, meu saco encheu também (desculpa o palavreado, mas tô seguindo a linha da Luana…) diante da militância na internet sobre quem doou, quem não doou; quem foi ao show de Madonna e quem não foi e afins. De forma resumida e direta, para os que estão ‘causando por aí’ nas redes, fica a minha indignação diante de tanto desperdício de tempo e energia que poderiam ser usados para o bem, mas são direcionados para criticar e destruir o outro. É frustrante ver tanto foco em atrapalhar ao invés de ajudar.
O ensaio clássico “Fome, riqueza e moralidade”, escrito por Peter Singer, em 1971, cabe como uma luva neste momento. Tal ensaio tem sido muito influente nos movimentos humanitários e de altruísmo efetivo e, nele, Peter argumenta o seguinte: “se estiver em nosso poder evitar que algo ruim aconteça, sem sacrificar nada de importância moral comparável, devemos, moralmente, fazer isso.” Parece óbvio, né? No entanto, muita gente esqueceu esse princípio básico.
Ele usa um exemplo que, infelizmente, é a realidade do que está acontecendo no Sul do país – só que em uma escala 1000000000x maior. Imagine andar em um parque e ver uma criança se afogando em um lago. A maioria de nós pularia no lago e salvaria a criança. Não pensaríamos duas vezes antes de danificar nosso novo iPhone ou molhar a roupa cara que estamos usando. Temos uma forte intuição moral de que a vida de uma criança vale muito mais do que o custo de tais coisas. Ou seja, muitos de nós poderia gastar uma quantia semelhante de dinheiro para salvar vidas que estão separadas apenas pela distância geográfica, sejam elas animais, idosos, adultos, crianças etc…
Estamos vivendo um momento sem precedentes na história, onde temos a oportunidade de agir contra a abundância de sofrimento ao nosso redor. Podemos adotar medidas concretas, desde pequenas ações até grandes iniciativas, todas com o potencial de causar impactos significativos.
Quando se trata de ajudar os outros, não há uma única maneira correta, nem certo ou errado. É essencial lembrar que as pessoas podem reagir de forma diferente do que você espera, mesmo que suas intenções sejam boas. As diferenças de valores e crenças não são um problema, e é importante não julgar e permanecer aberto, sem impor pontos de vista. Ouvir, mesmo que em discordância, é fundamental. Quem sabe você pode até ser surpreendido por uma perspectiva que mude sua opinião? É crucial estar aberto à mudança, afinal, não se pode esperar que os outros mudem suas crenças, se você mesmo não estiver disposto a mudar as suas.
Então vamos parar com tanto julgamento na internet diante de tal catástrofe. Não consigo acreditar em tanto mimimi e tanta gente só criticando ao invés de ajudar!
Outra coisa que é importante frisar aqui é o tal do mindset ‘ahhh, mas sou apenas uma pessoa, portanto, minhas ações não farão diferença”, mais comum do que imaginamos! Ele tem se provado errado. É fato que a escala dos problemas do mundo é muito grande, por isso, é fácil sentir que tudo o que você pode fazer é apenas uma gota no oceano, mas devido às grandes diferenças na renda global e à existência de intervenções extremamente simples e altamente eficazes (ALOOO PIX) que vidas podem ser salvas. Um doador pode fazer uma diferença significativa se doar de forma eficaz. Olha só para o que a mobilização nacional está fazendo pelo Rio Grande do Sul. Cada pequena ação, cada doação, faz sim uma diferença enorme.
Para ilustrar bem esse sentimento de ‘impotência individual’ frente a uma tragédia, basta observar exemplos que provam que esse sentimento não deve ser levado a sério. Norman Borlaug, conhecido por seu trabalho pioneiro com trigo de alto rendimento e resistente a doenças, é creditado por ter prevenido a fome em massa e salvado até um bilhão de vidas. Outro exemplo é Viktor Zhdanov, que liderou uma campanha global bem-sucedida para erradicar a varíola, uma doença que antes causava a morte de cerca de 2 milhões de pessoas por ano. Além disso, figuras proeminentes como Martin Luther King Jr. e Mohandas Gandhi são reconhecidas por terem provocado mudanças significativas e até revolucionárias na sociedade. Todos esses exemplos destacam o poder de agentes individuais na condução de mudanças impactantes no mundo. Então, por que seria diferente agora?
O altruísmo eficaz coloca perguntas importantes sobre como podemos ser mais eficazes em nossa busca por fazer o bem. “Como podemos fazer o máximo de bem com nossos recursos?”; “Como podemos maximizar nosso impacto?”; “Como podemos ‘fazer o bem’ melhor?” É importante fazer essas perguntas e tentar respondê-las. Como movimento social, os altruístas eficazes têm o compromisso compartilhado de descobrir como ajudar os outros da forma mais eficaz possível e, em seguida, agir com base nisso.
Então, meu recado é para aquelas pessoas que não entendem que ao invés de colaborar, ajudar, ser altruísta, se doar, doar o que puder, tão aí só digitando e falando mimimi… Reforço o que a Luana tanto enfatizou com outras palavras em seu vídeo, concentre-se nas ações, não nos atores. Concentre-se na questão sobre a qual está ajudando e não nas pessoas responsáveis, nos erros constantes do governo, milionários que não fazem doações ou pessoas que não estão postando algo a respeito – agora é hora de agir, depois achamos os culpados..
O desejo de fazer a diferença é a chave aqui.
Mais;
- O que as marcas estão fazendo para ajudar o RS? Parte I e Parte II.
- Resgate e apoio a animais. Que tal adotar? – Pix e demais infos
- Confira onde fazer doações para a população atingida.