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O poder da dúvida: uma reflexão de ano novo

Neste final de semana fui assistir ao filme Conclave, dirigido por Edward Berger. O thriller político explora a eleição de um novo Papa, revelando como a ambição e o desejo de poder permeiam tanto a política secular quanto a da Igreja. Mas o que realmente me tocou foi a mensagem central do filme que desafia a ideia de certeza como virtude, enfatizando a importância da dúvida na fé, na política e na vida. 

Saí do cinema em profunda reflexão… pensando sobre como somos constantemente pressionados a ter certezas absolutas. Vivemos no que os especialistas chamam de mundo VUCA – volátil, incerto, complexo e ambíguo – e ainda assim, nossa resposta automática é tentar controlar tudo ainda mais. E quanto mais tentamos controlar, mais as coisas parecem escapar por entre nossos dedos. Todo início de ano é a mesma história, não é? “Defina suas metas!”, “Tenha um plano infalível!”, “Conquiste seus objetivos!”. É como se a dúvida fosse uma inimiga a ser combatida.

Mas existe uma sabedoria antiga que temos perdido em meio a tanto ruído: a arte de duvidar. Não me refiro àquela dúvida paralisante, que nos mantém acordados à noite repassando cenários catastróficos. Falo da dúvida que é como uma lanterna em um quarto escuro – ela não ilumina tudo de uma vez, mas nos guia em cada passo do caminho. É essa dúvida que nos desafia a olhar para o mundo com curiosidade renovada, a questionar narrativas prontas, a enxergar possibilidades onde antes só víamos respostas fixas.

O físico Richard Feynman tinha uma visão fascinante sobre isso: ele dizia que o futuro da civilização depende da nossa capacidade de duvidar. À primeira vista, isso pode parecer contraditório, não é? Afinal, desde cedo nos ensinaram que líderes devem ser decisivos, que profissionais de sucesso precisam ter convicção, que a dúvida é sinônimo de fraqueza.

Se 2024 nos ensinou alguma coisa, foi justamente que nem sempre conseguimos prever o que está por vir. Grandes mudanças chegaram sem aviso. Novas perguntas emergiram. E, ao contrário do que muitos pensam, admitir que não sabemos tudo não nos paralisa – pelo contrário, nos faz agir com mais consciência e sabedoria.

A dúvida, quando bem acolhida, se torna nossa protetora contra certezas perigosas – seja do “eu sei tudo” ou do “não há saída”. Ela nos abre os ouvidos para perspectivas diferentes, nos ensina com nossos erros e, principalmente, nos dá coragem para agir mesmo sem ter tudo sob controle. Em tempos como os nossos, o excesso de certeza pode ser nosso maior risco, nos cegando para as mudanças ao nosso redor.

Quanto mais madura fico, mais percebo que a dúvida é como uma bússola fiel. Ela não nos paralisa – ela nos orienta. É ela que mantém nossa curiosidade acesa, que nos preserva humildes, que nos conecta verdadeiramente com os outros. É a porta que se abre para a criação e nos sussurra: “O que mais é possível?”

Por isso, para 2025, quero te fazer um convite diferente: Em vez de fazer uma lista de certezas, que tal cultivarmos algumas dúvidas produtivas? Em vez de buscar respostas definitivas, que tal nos permitirmos fazer perguntas melhores? “O que mais posso aprender?”, “Que outras perspectivas existem?”, “Que caminhos ainda não explorei?” Vamos juntos trocar o medo de não saber pela coragem de perguntar, deixar a vida nos surpreender um pouco mais?

Que este seja um ano de dúvidas significativas, de curiosidade genuína e da coragem de dizer “eu não sei” – porque o verdadeiro caminho para a sabedoria talvez não esteja em ter todas as respostas, mas em aprender a fazer perguntas melhores. É nas perguntas imperfeitas, nos caminhos inesperados e nas pequenas descobertas que encontramos algo maior: o espaço para crescer, aprender e viver com mais leveza.

Que 2025 seja o ano em que finalmente abraçamos nossas dúvidas – e encontramos nelas um mundo repleto de possibilidades.

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