No começo dessa semana me peguei assistindo ao curta-metragem de animação, Save Ralph, feito em stop-motion e que estava cotado a entrar na lista de indicados para o Oscar deste ano, na categoria Melhor Curta Animado, mas acabou ficando de fora. Adianto que eu não costumo ser uma pessoa que compra brigas por causas que acredito – tenho minha opinião sobre, mas não saio postando a respeito e nem fico convencendo os outros a pensarem como eu, mas dessa vez senti o desejo de dividir.
Quando dei play, jamais imaginei o nó na garganta que me daria ao assistir a história de Ralph, um coelho sendo entrevistado para um documentário sobre sua rotina diária como ‘coelho teste’ em um laboratório. Produzido como parte da campanha da Human Society International, o filme tem como objetivo alertar as pessoas do problema de abuso de animais e proibir os testes em animais da indústria cosmética.
O curta é forte e impactante – quando você percebe os pequenos detalhes, as escovas de dentes de seus filhos, a foto do foguete em seu banheiro, o nome do cereal, os nomes riscados no armário, dá vontade de chorar. E uma das razões para isso é que nos faz pensar no coelho como um igual: ele vive em uma casa como a sua, ele fala da família e amigos, ele vive como nós, até que seu “trabalho” lhe tira tudo isso. E essa é de fato a grande realidade por trás de toda essa maldade com os bichos: as pessoas não pensam que a vida animal é tão importante quanto a delas.
Teste em animais não é algo novo e, sim, uma prática há muito documentada, com algumas das mais antigas ocorrências datando em cerca de 300 a.C. na Grécia antiga. De fragrâncias a analgésicos, tinturas de tecido em nossas roupas, todos os novos produtos químicos foram, em algum momento, introduzidos à força em animais. Em números, 10.000 animais são mortos para cada novo pesticida químico testado; 32 Beagles são exigidos pelo governo para cada novo medicamento ou agrotóxico a ser lançado; mais de 100 milhões de animais são usados em laboratórios a cada ano.
O mais louco disso tudo é que já foi comprovado que o uso de animais em pesquisas acadêmicas e testes laboratoriais é ineficaz. O processo consome grandes recursos financeiros, com resultados geralmente de baixa aplicabilidade em seres humanos, produzindo poucos, quando nenhum, benefício para pacientes. Do ponto de vista científico, é errado porque não funciona. E do ponto de vista moral, é errado porque é cruel e fatal para os animais. Mas então, por que os testes ainda são largamente usados por pesquisadores? Dinheiro, dinheiro e dinheiro! Afinal, as pesquisas em animais para doenças humanas, ao menos nos EUA, acontecem em universidades e ambientes acadêmicos, e, normalmente, são pagas com dinheiro público – cerca de US$ 13 bilhões são gastos todos os anos e, sem esse dinheiro, as grandes universidades nos EUA – Harvard, Yale, entre outras – colocam carreiras e construção de infra-estrutura em perigo, portanto, há grande resistência no uso de animais em pesquisa, porque é lucrativo.
Os cientistas e suas instituições dizem estar comprometidos em manter a dor ou a angústia no mínimo possível nos animais de laboratório onde puderem. Mas como eles sabem quanta dor sente um rato ou um peixe? Quem decide quanta dor é o bastante? Fica aqui esses questionamentos.
Essa provocação pode também te ajudar a ter mais consciência na hora de escolher quais marcas consumir, as que testam em animais ou as que têm como bandeira o respeito aos animais. Afinal, chamadas marcas “cruelty free” (sem crueldade animal) são o futuro da indústria cosmética, uma vez que não há mais sentido consumirmos produtos que dependem do sofrimento de um animal, enquanto temos alternativas para este tipo de prática.
Uma resposta
Muito triste, fiquei curiosa pra ver a animação mas me dói só de pensar!
Acho que o maior problema da humanidade é pensar que sentem mais e são melhores que os outros seres na terra 🙁
Muito bom (e necessário) o artigo!