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A cultura do “tá pago”

Hoje eu quero te fazer refletir sobre uns dos bordões mais famigerados do mundo fitness. Sim, estou falando do: “tá pago!”. Afinal, é muito comum vermos pelas redes sociais pessoas compartilhando suas fotos de pós-treino com essa fala em destaque, né. 

Ahhhh e antes que me acusem de problematizar essa questão (rs), eu quero convidar a todos a assumirem um raciocínio simples que, inclusive, foi o ponto de partida da minha reflexão: quando falamos que algo “tá pago”, indiretamente, queremos dizer que havia uma dívida a ser quitada, certo? E é exatamente aí que começa o problema…  pois muitos passam a treinar por acreditarem que existe uma dívida a ser paga: ou com a mídia, ou com sua própria imagem nas redes, ou seja lá com quem ou o que for.

A questão é que quem se deixa levar por esse pensamento, logo, passa a fazer as coisas certas com as motivações erradas – e isso, definitivamente, é um ponto de atenção! Pensa comigo: uma coisa é você se exercitar por puro prazer e encarar a atividade física como um caminho para ter mais bem-estar e saúde, outra, totalmente diferente, é encará-la como uma obrigação/ em conotação de dívida. 

Inclusive, não se sabe quando tudo isso começou, mas algumas fontes afirmam que a expressão “tá pago” foi ‘pega emprestada’, na verdade, do militarismo pelo esporte e demonstra de forma totalmente inadequada que você já fez sua parte, ou seja, que o exercício físico não passa de um boleto eterno, o qual você precisar quitar mensalmente, do contrário, aquilo irá te consumir.  

Como se não bastasse isso, um estudo conduzido por psicólogos da Brunel University London apontou que pessoas que fazem frequentemente posts sobre dietas, rotinas de treino e conquistas na academia, tendem a ser narcisistas. Além disso, eles também constataram que esse hábito de postar selfies praticando exercício é motivado por uma grande necessidade de atenção e validação dos outros. 

Wow, já tinha parado pra pensar sobre isso tudo? Embora, é claro, não seja surpresa nenhuma que as redes sociais potencializaram a premissa de “viver pelas aparências”, é doido pensar que ela também incutiu em nós uma necessidade fantasiosa que precisamos prestar contas de tudo aquilo que fazemos ou deixamos de fazer.… 

Bom, sem generalizações… porque, ao mesmo tempo, também acredito que existem aquelas pessoas que compartilham suas fotos de treino por livre e espontânea vontade sem, necessariamente, assumir uma posição de dívida com o exercício ou com os outros, o que considero OK… Concordo que até eu, às vezes, quando posto, sinto uma motivaçãozinha extra pra seguir treinando.

Acho que o grande lance aqui é ponderar por que a gente faz o que faz, sabe? Por isso, minha dica é boring, clichê, o que quiser tachar, mas é a premissa que sigo aqui na minha rotina: Treine porque você gosta! Corra porque isso te faz sentir bem! Exercite-se porque é bom pra sua saúde e bem-estar! Você não está em dívida com o seu corpo, nem com ninguém… portanto, estabeleça uma relação mais saudável com a atividade física e seja infinitamente mais feliz. 😉

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