Imagine um jardim. Às vezes florido, às vezes dormente. É assim que Esther Perel, mestra em decifrar os enigmas do amor moderno, descreve nossos relacionamentos. Em sua visão, o sexo é como a água que nutre esse jardim – sua ausência não é apenas um sintoma, mas frequentemente a raiz de transformações profundas que abalam a estrutura do relacionamento.
Os números não mentem: 70% dos divórcios têm a intimidade física como protagonista da despedida. Mas por trás dessa estatística fria, existe uma história quente de desejos não ditos, expectativas não compartilhadas e sonhos guardados em gavetas empoeiradas.
O paradoxo é delicioso e cruel: queremos a segurança de um porto seguro e a adrenalina de mar aberto. Buscamos a previsibilidade do café da manhã juntos e o mistério de um encontro às escuras. Como diz Perel, é como tentar acender fogo debaixo d’água – precisamos da água para viver, mas do fogo para sentir que estamos vivos.
“Conserte o sexo e seu relacionamento se transformará”, provoca Perel, virando de cabeça para baixo décadas de sabedoria terapêutica. É como sugerir que, às vezes, é preciso dançar para aprender a caminhar. A intimidade física não é apenas consequência de um relacionamento saudável – pode ser o catalisador da transformação.
O casamento moderno é um animal curioso. Abandonou sua jaula de sobrevivência e dever para passear livremente pelos campos da realização pessoal. “Não nos divorciamos por infelicidade, mas pela possibilidade de maior felicidade”, observa Perel, capturando a essência de uma geração que não se contenta mais com ‘bom o suficiente’.
Os desafios são como estações do ano: casamentos tardios florescem após invernos de experimentação, a paternidade moderna brota com novas responsabilidades, a tecnologia semeia distrações no jardim da intimidade. Em meio a esse clima imprevisível, Perel nos lembra que “teremos vários relacionamentos ao longo de nossas vidas – alguns serão com a mesma pessoa”.
Pela primeira vez, somos arquitetos de nossos próprios relacionamentos. Podemos desenhar plantas personalizadas, construir cômodos únicos, derrubar paredes convencionais. Mas com essa liberdade vem a vertigem da responsabilidade: criar um lar que seja simultaneamente abrigo e aventura.
O segredo não está em manter a chama eternamente acesa, mas em aprender a reacender o fogo quando necessário. Um relacionamento saudável é menos sobre perfeição contínua e mais sobre a coragem de recomeçar, reimaginar, reconectar.
Em um mundo onde relacionamentos são frequentemente tratados como produtos descartáveis, Perel nos convida a uma revolução silenciosa: ver o amor não como um estado fixo, mas como uma arte em constante evolução. Uma dança entre proximidade e distância, desejo e segurança, rotina e aventura.
Afinal, como sugere Perel, o verdadeiro romance não está na ausência de desafios, mas na coragem de enfrentá-los juntos, redesenhando constantemente os mapas de nosso amor.
EXTRA: Indico ver esse vídeo da The School of Life e claro, o podcast da Esther cheio de conhecimento sobre o tema.