Primeira newsletter do ano e lá vem um pequeno desabafo…
Começo 2024 um tanto confusa, com o desejo de estar em dois lugares ao mesmo tempo. Ao refletir, percebo a vontade de me dividir entre lá e cá. Às vezes, quando estou em Londres, nos dias chuvosos e frios, anseio acordar sob o sol de São Paulo. Já nos momentos em que me sinto “aprisionada”, almejo acordar em Londres, buscando a sensação de liberdade.
Ser apaixonada por duas cidades tão complementares e diferentes ao mesmo tempo não é nada fácil. Muitos me perguntam ‘você não volta mais, né?’, e preciso admitir que não tenho tal resposta. Hoje, não quero. Amanhã, eu quero. Confesso que a busca por um equilíbrio entre esses pólos opostos gera um constante conflito interno: quando estou aqui, quero estar lá e quando estou lá, quero estar aqui…
Morar na Inglaterra me traz muita tranquilidade. Me sinto segura, mas mais que isso, sinto que a minha filha está segura. Londres é uma cidade limpa, previsível e confiável. Experimento uma certa distância respeitosa entre as pessoas e aprecio a eficiência do transporte público – apesar das ocasionais greves. De modo geral, vivo lá pela qualidade de vida que não tenho aqui (onde me encontro atualmente, no Brasil).
Por outro lado, o frio é um agravante, tanto no clima quanto nas interações.
Noto uma dificuldade maior nas conexões sociais, sem falar na ausência da espontaneidade e fluidez que a gente tanto adora por aqui. Em algumas situações, o respeito acaba dando uma escorregadinha para a antipatia, o que acho uma pena.
A falta de luz solar no inverno é outro incômodo e me faz repetir todo ano a mesma pergunta ‘o que eu ainda estou fazendo aqui?’. Se der azar, a estação consegue pesar ainda mais com suas semanas intermináveis de muita chuva.
O Brasil, por sua vez, também tem seu lado ruim. Não é segredo para ninguém a sensação de injustiça que encaramos com tanta violência, o trânsito das grandes metrópoles, a sujeira, as ruas esburacadas e a falta de calçadas decentes. Por aqui, o amanhã é uma incógnita total.
Mas a real é que o Brasil é bom. Ah, e como… começar o dia na padaria com um pão na chapa é imbatível! E aquela tarde com café e bolo de fubá quentinho? Nem se fala! Abraçar a família e jogar conversa fora a noite toda, saboreando uma caipirinha com os amigos, novos e antigos, não tem preço! Assim como sentir o sol batendo na pele, acordar com um céu azul por dias consecutivos e mergulhar na malemolência que só existe por essas bandas… priceless, definitivamente.
Fato é que morar fora nos permite expandir a nossa visão e compreender se tudo o que vivíamos antes era, realmente, ‘o melhor’ ou ‘o pior’. Afinal, só conseguimos mensurar realidades a partir do momento em que passamos por experiências distintas – o legal e o chato, o frio e o calor, o bom e o ruim – para, assim, ponderarmos e avaliarmos melhor aquilo que estamos vivendo.
E digo com propriedade, fazendo das palavras do grande Tom Jobim, as minhas… ‘viver no exterior é bom, mas é uma merda. Viver no Brasil é uma merda, mas é bom’.
Eis o infindável dilema… Entende agora por que quero estar lá e cá ao mesmo tempo?