Quando minha sócia começou a falar sobre Tarot e suas práticas místicas, confesso que fiquei intrigada. Sua conexão com energias e rituais me levou a mergulhar nesse fascinante universo, descobrindo uma história que atravessa séculos e se entrelaça com a própria humanidade de maneiras surpreendentes.
Suas origens remontam ao século XIV na Itália, onde surgiu inicialmente como um jogo de cartas chamado “Tarocchi”, apreciado pela nobreza italiana que encomendava baralhos ricamente ilustrados como verdadeiras obras de arte. Ironicamente, o Tarot não é mais misterioso em suas origens do que jogos familiares comuns – sua diferença crucial está em ser o jogo de cartas mais artisticamente ambicioso já criado.
A transformação em instrumento místico ocorreu no século XVIII, quando o clérigo Antoine Court tentou estabelecer conexões com o antigo Egito. Em 1910, Arthur Waite e Pamela Colman Smith criaram o que se tornaria “o tarô mais popular do mundo”, recentemente reeditado pela Taschen. Foi o primeiro baralho projetado explicitamente para uso esotérico, com Colman Smith traduzindo as ideias ocultas de Waite em imagens lúdicas que influenciam as concepções ocultistas até hoje. O conjunto inclui um livreto explicando as supostas raízes místicas e o significado dos símbolos, como “Morte: Fim, mortalidade, destruição, corrupção. Invertido: Inércia, sono, letargia”.
O Tarot na arte contemporânea
Ao longo dos séculos, o Tarot tem sido uma fonte inesgotável de inspiração para artistas e designers. De Salvador Dalí à maison Dior, suas imagens e simbolismos são constantemente reinterpretados. Na arte contemporânea, artistas como Tattfoo Tan desenvolveram trabalhos inovadores, criando baralhos voltados para a conscientização sobre mudanças climáticas. Já Courtney Alexander trouxe uma perspectiva única ao criar um baralho que celebra a cultura preta, incorporando figuras como Neil deGrasse Tyson e Missy Elliott. Na Toscana, o Jardim do Tarot, criado pela artista Niki de Saint Phalle, exemplifica como essa antiga tradição pode ser transformada em uma experiência artística monumental.
O renascimento digital
A era digital transformou a prática do Tarot, com a hashtag #Tarot acumulando mais de 8 bilhões de visualizações no TikTok. O mercado respondeu com um aumento de 30% nas vendas de baralhos entre 2016 e 2017, enquanto marcas de luxo como Armani Casa criaram suas próprias interpretações. A ITV baseou sua campanha da Copa do Mundo de Rugby 2023 no tema, com designs especiais de Yousef Sabry para refletir sobre a imprevisibilidade do torneio. Também surgiram aplicativos, cursos online e comunidades virtuais, democratizando ainda mais o acesso a essa antiga prática.
Mais que misticismo
O que mais me fascina no Tarot contemporâneo é como ele transcende sua função original como ferramenta divinatória. Tornou-se um fenômeno cultural que une espiritualidade e autoconhecimento com expressão artística, moda, design e tecnologia. Em Nova York, a empresária Tina Gong redefine a prática através do Labyrinthos. Seu site comercializa baralhos autorais a partir de US$ 38, apresentando as cartas como ferramentas de autoconhecimento. “As cartas veem, reconhecem e refletem todas as partes de você. O verdadeiro poder está em conhecer e aceitar a si mesmo, com suas limitações e potencialidades, permitindo uma vida mais harmoniosa consigo e com os outros.” Durante a pandemia, seu aplicativo de leituras e aulas registrou um crescimento de 178% em número de usuários, evidenciando como práticas ancestrais podem se adaptar às necessidades modernas.
A permanência e evolução do Tarot através dos séculos demonstram como a busca humana por significado e direção é uma constante que atravessa gerações. Na era digital, suas cartas continuam a servir como espelhos da experiência humana, adaptando-se e evoluindo junto com a sociedade, mantendo sua relevância mesmo após 600 anos de história. Assim como minha sócia encontrou nas cartas uma fonte de inspiração e autoconhecimento, milhões de pessoas ao redor do mundo continuam descobrindo novos significados nessa antiga arte.