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Desaprendemos a respirar?

É claro que sabemos que respiração é vida, mas o que muitos de nós não percebemos é como a respiração afeta nossas vidas. Ela desempenha um papel vital na maneira como pensamos, sentimos, descansamos e nos recuperamos, e afeta até mesmo nossa postura e movimentos. Mudar a forma como respiramos pode influenciar o peso, o desempenho atlético, as alergias, a asma, o ronco, o humor, o estresse e o foco, para citar alguns exemplos. Talvez seja novidade pra você, mas uma boa técnica de respiração pode ajudar a aliviar o estresse, da mesma forma que uma respiração inadequada pode gerar mais estresse em nosso corpo. 

Na minha vida, sempre levei a sério a arte de respirar – seja na yoga, seja em curso de mindfulness, meditando ou durante minhas crises de ansiedade, mas vira e mexe também me esqueço de observar como estou respirando e, infelizmente, acabo deixando tudo fluir no piloto automático. 

Até recentemente, a maioria de nós via a respiração como uma ação passiva, algo que fazemos automaticamente: respirar para viver, parar de respirar para morrer. No entanto, a respiração não é um processo binário. Não é apenas a ação em si que é crucial; a maneira como realizamos a respiração também desempenha um papel fundamental em nossa saúde e bem-estar. Fora que, diante de tudo o que estamos vivendo, e só de existirmos neste mundo doido, uma boa respiração é chave para enfrentarmos obstáculos e dificuldades da vida, daquelas habilidades que temos que aprimorar e valorizar. 

O livro “Breath“, escrito pelo jornalista James Nestor, relata a transformação de sua vida ocorrida há uma década, quando ele participou de uma aula de Sudarshan Kriya. Nessa época, Nestor estava passando por desafios físicos e mentais, tendo se recuperado recentemente de uma pneumonia. Seu médico recomendou que ele fizesse uma aula para aprender a respirar de maneira mais eficaz. A experiência foi tão impactante que o levou a uma jornada científica pelo mundo, explorando locais de mergulho livre na Grécia, cafeterias em Estocolmo e até as catacumbas da França, em busca de respostas sobre a arte da respiração.

Ao longo de sua jornada, James Nestor encontrou diversos pioneiros da respiração, ou “pulmonautas”, que se voltaram para o poder da respiração quando nada mais parecia ajudar. Eles promoviam técnicas esquecidas e redescobertas ao longo do tempo, que têm o potencial de beneficiar a respiração de todos nós. Como uma instrutora de mergulho livre entrevistada por Nestor afirmou: “Há tantas maneiras de respirar quanto há alimentos para comer. E cada forma de respirar afetará nosso corpo de maneiras diferentes.”

James estava convencido de que alguém já havia pesquisado os efeitos da respiração consciente em pessoas que vivem em ambientes terrestres e, de fato, encontrou material relevante em uma biblioteca. O desafio era que essas fontes tinham uma antiguidade notável, algumas delas datando de centenas, às vezes até milhares de anos.

Por exemplo, ele se deparou com sete textos do Tao chinês, que remontavam cerca de 400 a.C. Esses textos dedicavam uma atenção integral à respiração, explorando como ela poderia ser tanto benéfica quanto prejudicial, dependendo de como era praticada. Além disso, os hindus já consideravam a respiração e o espírito como aspectos intrinsecamente ligados, descrevendo práticas elaboradas destinadas a equilibrar a respiração e preservar a saúde física e mental. Os budistas também incorporaram a respiração, não apenas para prolongar a vida, mas como um meio para alcançar estados elevados de consciência. Em todas essas culturas e tradições, a respiração era vista como uma poderosa forma de remédio.

A capacidade de respiração da humanidade passou por notáveis transformações ao longo de sua trajetória evolutiva. No entanto, desde o início da era industrial, notamos uma acentuada deterioração na qualidade de nossa respiração. Ao longo dos últimos anos, as atitudes em relação à sua importância sofreram uma mudança radical, principalmente com a  Covid-19, que nos levou a um mundo onde a respiração tornou-se uma obsessão global. Passamos nossos dias cobrindo nossas bocas e narizes com máscaras, e nossas noites foram frequentemente preenchidas com ansiedade em relação a qualquer sinal de tosse ou desconforto no peito. Querendo ou não, essa transformação trouxe consigo um ponto positivo. Finalmente, reconhecemos que a maneira como respiramos desempenha um papel crucial em nossa saúde e longevidade, e essa ênfase deveria ter sido estabelecida como prioridade há muito tempo.

Para Nestor, a respiração perfeita é a seguinte: inspire por cerca de 5,5 segundos e depois expire por 5,5 segundos. São 5,5 respirações por minuto para um total de cerca de 5,5 litros de ar. Você pode praticar essa respiração perfeita por alguns minutos ou algumas horas. Quando respiramos dessa forma, os praticantes de respiração sugerem que a circulação no cérebro e no corpo aumenta, enquanto a carga sobre o coração diminui. Durante todo esse tempo, o diafragma – aquele músculo em forma de guarda-chuva em nosso peito – desce e sobe, permitindo que mais ar entre nos pulmões e ajudando a impulsionar o sangue por todo o corpo. Por esse motivo, o diafragma, às vezes, é chamado de “segundo coração”, porque ele não apenas bate em seu próprio ritmo, mas também afeta a frequência e a força dos batimentos cardíacos.

Enfim, para concluir a provocação de hoje, por mais que existam por aí muitas técnicas de respiração na forma de aulas, vídeos, livros e aplicativos, a abordagem simplificada é tão boa quanto qualquer outra e, pra melhorar, ela não requer baterias, wifi ou smartphones. Não custa nada, leva pouco tempo e esforço, e você pode fazer isso onde quer que esteja, sempre que precisar. 

Para se aprofundar ainda mais:

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