#206

E se largar o controle for o verdadeiro ato de coragem?

Estou passando por uma grande mudança na minha vida. Daquelas que viram tudo de cabeça pra baixo, bagunçam as rotinas, as certezas, os planos. E nesse momento, o que mais tenho tentado praticar é aceitar que as coisas vão se encaixar — mas devagar. No tempo delas. E que tudo bem se eu não estiver feliz agora. Tudo bem não sorrir. Não fingir pra mim mesma essa história de “vai dar tudo certo”. Porque talvez o melhor que eu possa fazer por mim nesse processo de adaptação seja exatamente isso: viver um dia de cada vez, sentir o que eu estou sentindo, sem julgamento, sem expectativa de como eu deveria estar me sentindo.

Foi nesse mood que cheguei a um artigo da escritora Nadine Levy no The Guardian, que propõe algo simples, mas potente: e se parar de tentar “pensar positivo” for o verdadeiro ato de coragem? E foi justamente o tema da minha terapia da semana…

Vivemos num mundo onde o otimismo virou quase um dever. A positividade foi vendida como ferramenta de sucesso, como prova de força emocional. Só que, muitas vezes, esse discurso apaga o que a gente está realmente vivendo. “Tudo acontece por uma razão”, “é só uma fase”, “você precisa mudar sua energia” — frases como essas, mesmo bem-intencionadas, só aumentam a solidão de quem está atravessando algo difícil.

O problema é que essa tentativa de se manter otimista a qualquer custo acaba virando um tipo de negação. A positividade tóxica não deixa espaço para o luto, para a raiva, para a tristeza. E quando esses sentimentos surgem (porque eles vão surgir), ainda vem a culpa: “não estou sendo forte o suficiente”, “eu devia estar agradecida”.

A proposta da aceitação radical vai na contramão disso. Não é sobre se resignar, mas sobre parar de brigar com a realidade. É reconhecer: “isso aqui está difícil”, sem tentar dar um enfeite em cima. É permitir que a dor exista, sem precisar transformá-la imediatamente em lição. Sem tentar pular etapas emocionais pra chegar logo num final feliz.

Essa abordagem, além de mais honesta, é mais gentil. E mais humana. Porque a gente não precisa estar bem o tempo todo. E admitir que as coisas não estão fáceis — primeiro pra si mesmo — é libertador.

Tem sido assim por aqui. Um dia de cada vez. Tentando, mais do que ser positiva, ser verdadeira comigo. Talvez não seja sobre “vai dar tudo certo”, mas sobre “vai dar pra viver com o que for”. E isso já é muito.

E você? Como tem se sentido diante das mudanças da sua vida? Tem conseguido ser honesto com o que sente — mesmo quando o que sente não é bonito? Divide comigo nos comentários se quiser, e bora ampliar essa conversa.

Se quiser se aprofundar no tema, abaixo algumas sugestões:

Leitura:

Podcast: Unlocking Us, com Brené Brown – episódios sobre vulnerabilidade, emoções reais e a coragem de ser imperfeito.

Direitos reservados Eat Your Nuts