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E se uma garota durante o Holocausto tivesse Instagram?

Essa pergunta me veio à cabeça durante esse recém completado 01 mês de guerra Israel x Hamas – nesses tempos onde todos têm opinião sobre tudo, no qual estamos rodeados de fake news e de muita informação (e pitacos) rasos. É impossível não lembrar dos acontecimentos terríveis da Segunda Guerra Mundial diante dos atos horrendos cometidos pelo Hamas em 07 de outubro, mais ainda, é assustador ver pessoas falando que tais crimes não aconteceram… 

Mas eu não fui a primeira pessoa a se questionar isso… Existe um projeto da mídia israelense criativo, ambicioso e controverso, que faz com que esse cenário seja uma realidade através da página do Instagram de Eva.stories. O objetivo é simples: aumentar a conscientização sobre o Holocausto. 

Com um celular na mão, uma atriz interpreta a personagem real de Eva Heyman, uma menina judia de 13 anos de Nagyvárad, Hungria. Sua vida em 1944 se desdobra em dezenas de postagens de selfies, fotos e vídeos, desde sua inocente atitude de adolescente em relação à família e aos amigos até sua necessidade apaixonada de documentar a brutal perseguição de sua família pelos nazistas. Os eventos, as palavras e os personagens são baseados no pequeno diário que Heyman começou a escrever em 13 de fevereiro de 1944. Seu último registro foi feito em 30 de maio. Três dias depois, ela foi deportada para Auschwitz, onde foi assassinada. Vale dizer que o foco está nos stories e não no feed! 

O projeto produzido e criado pelo empresário de alta tecnologia, Mati Kochavi, e sua filha Maya, com custo na casa de milhões de dólares, gerou controvérsia, com algumas pessoas preocupadas se isso poderia reduzir ou simplificar as nuances do Holocausto ou causar ofensa aos sobreviventes. Por outro lado, muitos o consideraram “autêntico e eficaz”. Independentemente das opiniões divergentes, o principal objetivo foi alcançado com sucesso, uma vez que reacendeu o debate e levou muitas pessoas, tanto em Israel quanto no exterior, a discutirem a importância da educação sobre o Holocausto.

Pesquisando mais a respeito do tema, encontrei a @RealTimeWWII, uma conta do Twitter, que reconstituiu a Segunda Guerra Mundial por meio de “tweets ao vivo” dos eventos diários de mais de 70 anos atrás, dividindo a guerra em postagens de 140 caracteres. Gerenciada por Alwyn Collinson, editor digital do Museu de Londres, tudo começa em setembro de 1939, com atualizações nos seis anos seguintes. Collinson passou cerca de uma hora por dia fazendo a curadoria e publicando tweets, muitas vezes com base em registros históricos e relatos em primeira mão de cartas e diários.

O editor inspirou-se a criar o @RealTimeWWII depois de testemunhar o papel da mídia social durante a Primavera Árabe, em 2010. À medida que a conta passou a ganhar seguidores, os usuários começaram a compartilhar histórias pessoais e a corrigir imprecisões factuais. No entanto, Collinson também se deparou com comentários agressivos, principalmente, ao falar sobre o Holocausto. Ele observou a mudança na atmosfera da mídia social na última década, que se tornou menos inocente e mais reflexiva.

O relato destaca os paralelos entre a Segunda Guerra Mundial e os eventos políticos e econômicos contemporâneos, como o aumento dos sentimentos nacionalistas. Ele enfatiza o papel da história na formação de nossa compreensão do presente, lembrando-nos de que ninguém vive fora da história e que o estudo da história evita a complacência em nosso próprio tempo.

Mas, voltando à pergunta inicial, e incrementando um pouco: o que seria da Segunda Guerra Mundial com a presença da internet? Pensando por alto aqui e sem adentrar muito no detalhe, com certeza veríamos muita propaganda e desinformação, com os envolvidos tentando influenciar a opinião pública. Seria (como está sendo) um grande desafio identificar fontes confiáveis em meio à enxurrada de informações. Supondo que todos países teriam acesso à internet e os recursos dos computadores modernos, haveria também um aumento de adeptos do fascismo em seus países. Fora a rápida velocidade de disseminação de informações que se espalhariam instantaneamente por meio das redes sociais, permitindo atualizações em tempo real sobre desenvolvimentos militares e respostas civis. Governos, militares e agências de notícias poderiam usá-las para compartilhar informações e coordenar com mais eficiência.

O ciclo de notícias 24 horas por dia, 7 dias por semana, traria um impacto psicológico, afinal, imagens gráficas e todo o conteúdo viral podem levar a um aumento do estresse nas pessoas em todo o mundo. E olhando ainda pela lente negativa, as narrativas pós-guerra seriam diferentes, afinal o rastro digital de uma guerra persiste por muito tempo após o fim do conflito, moldando a forma como a história se lembra dos eventos.

Já por outro lado, civis de todo o mundo poderiam se envolver nos esforços de guerra por meio de iniciativas on-line, como o apoio de crowdfunding para as regiões afetadas, oferecendo refúgio ou fornecendo ajuda humanitária. Documentar crimes de guerra e abusos de direitos humanos  seria mais fácil com câmeras e smartphones em todos os lugares, facilitando assim, os tribunais criminais internacionais que teriam mais provas para responsabilizar os criminosos.

Enfim, para concluir minhas elucubrações, a presença da Internet e das mídias sociais em uma guerra mundial moderna levaria a uma população global mais interconectada, informada e mobilizada. Embora essas ferramentas possam facilitar os esforços humanitários e a responsabilidade, elas também introduzem novos desafios, como a disseminação da desinformação e o risco de guerra cibernética. 

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