
Para ler ao som desta playlist – que ouvi a caminho de Es Trenc.
Enquanto eu jantava durante o pôr do sol no Sa Pleta by Marc Fosh, em Mallorca, dividida entre o êxtase com o lugar, o menu criativo e delicioso — destaque para a gamba local, de Soller, — e a extrema atenção ao detalhe da equipe (hola, Marta e Pepe!), eu pensava no que tinha me trazido até ali. Obviamente a EYN e o meu amigo Matheus, que escolheu o destino. Mas, antes disso, as faculdades de História ou de Jornalismo? O intercâmbio em Salamanca? Ou talvez o dia em que assisti a Habla con Ella na sala do meu tio Hércules, ainda adolescente, e decidi que iria para a Espanha todas as vezes que a vida me convidasse?
O fato é que somos um pouco — ou muito — de tudo que vemos, vivemos e das pessoas que passam pelo nosso caminho. Não podemos fugir das referências que nos levam às experiências. Mas o que acontece se as decisões ao viajar são simplesmente “copiar e colar” o que nos oferecem as redes sociais – sem saber se são autênticas ou se fazem sentido pra nós?
Segundo uma matéria do Le Monde, nos últimos quatro anos, o conteúdo digital relacionado a turismo explodiu: até 420% no TikTok. No Instagram, quase dois milhões de posts sobre viagem foram feitos só em 2024. Muito culto a bons negócios, listas obrigatórias e eleições do “melhor” em várias categorias. Podem ser ótimas dicas, mas, caso o objetivo seja ser um viajante (não só um turista!), encontrar recomendações autênticas é fundamental.
Graças ao Torre de Canyamel, o único grupo familiar 100% mallorquino com quatro hotéis cinco estrelas na Ilha, vivi dias realmente idílicos.
Comecei a minha viagem no centro histórico de Mallorca, onde me hospedei no Convent de La Missió, um antigo convento do século XVII no coração de Palma. Dormi em um quarto fabuloso e silencioso, que um dia foi habitado por monges — imagine-se abrindo uma porta original da época! —, e fiquei surpresa ao saber que ainda há alguns deles vivendo no primeiro andar. Foi lá também que anotei a primeira dica local, testada e aprovada: a Vermutería Jan Jaime, para vermute e tapas (gracias, Edgar!).
Veja aqui o meu guia de Palma.
Deixei a cidade em direção ao Fontsanta Thermal Spa & Wellness, o único spa de águas termais das Ilhas Baleares. Emergindo das profundezas da terra, essas águas percorrem aquíferos rasos, absorvendo minerais de uma forma praticamente impossível de ser reproduzida artificialmente. Os hóspedes têm acesso ao circuito que inclui jacuzzi, vaporizador, sauna finlandesa, banho turco, fonte de gelo, salas com camas de água e muito mais.
Uau? Sim, mas fiquei ainda mais deslumbrada ao descobrir as histórias e lendas que cercam o Hotel Fontsanta. Conta-se que datam da época do Império Romano, quando foram descobertas as propriedades curativas das águas. Em meio às instalações luxuosas, repletas de calma, jardins e obras de artistas locais, três pequenas termas originais preservadas para visitação me transportaram no tempo.
E como nem só de relax vivemos, depois de aproveitar o spa, você pode conhecer as criações do chef chileno Jhonatan Maldonado ou ir passear em Ses Salines ou Santanyí e comer na Casa Manolo ou Laudat.
Eu achava que a minha estadia não poderia ficar melhor, quando me contaram que o Fontsanta tem um transfer, por meio de um bosque, até uma praia de águas cristalinas, através de um parque natural protegido. Fui levada pelo Brian, que colocou a playlist que citei no início da coluna, até a cabana Es Refugi. Que paz! De lá, são cinco minutos de caminhada até Es Trenc, um dos lugares mais mágicos em que já nadei. Outros mergulhos inesquecíveis foram na Cala Deià, ao entardecer, quando já não havia muita gente, e na pequena cala que é possível acessar pelo Can Simoneta, onde passei horas sozinha com a natureza.

Coloquei na lista para a próxima visita a Cala Murta e deixei Es Trenc tentando encontrar palavras para fazer anotações que fizessem jus à experiência. Mas nem tive tempo porque perdi completamente o fôlego ao chegar ao Hotel Can Simoneta, onde passei o final de semana completamente extasiada. Decidi que a palavra que melhor traduz a beleza quase irreal daquele lugar é “surreal” — não por acaso, um termo que tem raízes na cultura espanhola, berço do movimento surrealista.
Em plena alta temporada, com seus mais de 30 quartos deslumbrantes ocupados, o Can Simoneta (um dos raros “pé na areia” da ilha) ainda consegue oferecer privacidade, espaço, silêncio e contemplação. Instalado no norte de Mallorca, na região de Canyamel, o hotel desfruta de uma localização tão dramática quanto serena — um cenário esculpido pelo tempo, com vistas arrebatadoras do Mediterrâneo a partir de jardins que se espalham por uma antiga propriedade de família, pontuada por gramados impecáveis, piscinas, chaises longues e esculturas cuidadosamente posicionadas. Um paraíso.
Como mencionei no início, essa experiência em Mallorca despertou memórias da minha própria trajetória — vivências e pessoas que, de alguma forma, me trouxeram até aqui. Espero que este texto te leve à Mallorca que eu conheci.
*Lidiane se hospedou no Convent de la Missió, Fontsanta e Can Simoneta a convite do grupo Torre de Canyamel.