Outro dia me peguei pensando nas pessoas que mais admiro. Nem sempre são as mais articuladas, nem sempre têm respostas rápidas, algumas nem sequer fizeram faculdade,mas todas têm algo em comum: uma forma de enxergar o mundo que amplia a minha, que me faz perceber coisas que, sozinha, eu não veria.
Foi com essa sensação que cheguei ao ensaio Different Kinds of Smart, do Collab Fund. Ele parte de uma provocação simples e necessária: existem muitas formas de inteligência – e a maioria delas não cabe em provas, diplomas ou métricas fáceis de mensurar.
Algumas são quase invisíveis. Como a inteligência de quem sabe calar na hora certa e evitar guerras inúteis. Ou de quem enxerga nuances no comportamento humano e antecipa conflitos que ninguém mais viu chegar. Existe a sagacidade do otimista realista, que consegue encontrar possibilidades no meio do caos sem cair na ingenuidade. Há também aquela inteligência profundamente prática, que não se expressa em teorias, mas em uma habilidade quase instintiva de tornar a vida mais simples – para si e para os outros.
Essa visão me lembrou de algo que a filosofia e a psicologia já vinham dizendo há tempos. Howard Gardner falava das inteligências múltiplas – linguística, lógico-matemática, espacial, musical, interpessoal, intrapessoal, naturalista. Hannah Arendt, quando refletia sobre a banalidade do mal, sugeria que a capacidade de pensar criticamente sobre o mundo é também um ato ético, uma forma superior de inteligência. E até os antigos gregos distinguiam sophia (sabedoria teórica) de phronesis (sabedoria prática), como se já soubessem que “ser esperto” é muito mais plural do que aparenta.
Talvez o ponto mais poderoso do texto seja este: ninguém é inteligente em tudo, mas todo mundo é inteligente em algo. O grande erro é tentar reduzir todas essas dimensões a uma régua única. Quando fazemos isso, não só ignoramos talentos invisíveis como também perdemos a chance de nos complementar.
Num mundo que premia quem fala mais alto, quem acumula mais títulos, quem dá respostas rápidas, é quase revolucionário valorizar o que é silencioso, implícito, não quantificável. Porque existe algo de profundamente sábio em admitir: eu não sei tudo, e é por isso que preciso do olhar do outro.
Enfim, desde que li esse texto, comecei a reparar mais nas pessoas que cruzam meu caminho – e percebi que algumas das inteligências mais raras são também as mais silenciosas.O que também me lembrou um pouco do filme “Amour”, de Michael Haneke, onde o cuidado, escuta e apresença revelam uma sabedoria que não se explica, apenas se sente.
👉 Leia aqui: Different Kinds of Smart – e talvez repense quem você considera verdadeiramente inteligente.