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Felizes para sempre (de novo)

No último fim de semana, Jeff Bezos e Lauren Sánchez disseram “sim” em Veneza. Mas esqueça igreja, arroz e buquê: a cena parecia um sonho barroco dirigido pela Netflix com orçamento da Marvel. Três dias de festa, convidados como Oprah, DiCaprio e Kim Kardashian, e cifras que flutuam entre 10 e 25 milhões de dólares. Spoiler: não foi exatamente uma “cerimônia íntima”.

Esse casamento megalomaníaco serviu como ponto de partida pra uma pergunta menos cafona do que parece: o que virou o casamento hoje?

Porque sejamos honestos — o ritual do matrimônio há tempos deixou de ser sobre a “única e eterna união”. Virou statement. Virou performance. Virou experiência imersiva com figurino sob medida, trilha sonora personalizada e direção de arte. Virou storytelling.

O New York Times, que cobriu o evento, resumiu bem a nova lógica: “Você só se casa algumas poucas vezes na vida. Então por que não fazer uma superprodução?” A frase é dita com ironia, claro. Mas é também uma provocação. O casamento virou palco. E quem casa de novo, geralmente, já sabe muito bem o que quer apresentar.

A cerimonialista Marcy Blum, que há décadas trabalha com casamentos de altíssimo padrão nos EUA, diz que os segundos casamentos são mais significativos. E muito mais divertidos. “Na segunda vez, você já sabe o que quer. Está estabelecendo o tom pro resto da vida. O que você quer que seja diferente agora?”

Décadas atrás, segundos casamentos eram discretos, quase constrangidos. Quando o rei Edward VIII abdicou do trono britânico pra se casar com Wallis Simpson, a cerimônia foi descrita como “triste e trágica”. Era quase um castigo público.

Hoje, é o contrário. Em 2025, o segundo casamento virou redenção estética. Autoafirmação emocional. E, não raramente, uma superprodução que faz o primeiro parecer um ensaio geral.

Bezos e Sánchez vivem, desde o vazamento das mensagens íntimas que expuseram seus casamentos anteriores, um looping público de afeto — regado a iates, diamantes e viagens ao espaço. Agora, selam essa união com um evento pensado para viralizar.

Mas eles estão longe de ser os únicos. Huma Abedin também celebrou seu segundo casamento este ano, em grande estilo. Elizabeth Taylor casou oito vezes — duas com Richard Burton — e deixou pelo menos três vestidos icônicos no imaginário da cultura pop. Camilla Parker-Bowles também apostou em dois looks e chapéus nada discretos quando finalmente subiu ao altar com Charles.

Segundo os maiores organizadores de casamentos do mundo, o exagero da segunda vez virou padrão. Chefs estrelados, trocas de figurino, social media manager, roteirista e produção audiovisual de filme de Oscar. Porque, como define David Tutera, “o primeiro casamento é aprendizado. O segundo é diversão”.

O também lendário Colin Cowie vai além:
“O segundo marido tem mais dinheiro. A segunda esposa é duas vezes mais esperta. E ela definitivamente não quer o que a primeira teve.”

As noivas de segunda viagem usam a ocasião pra corrigir tudo — inclusive os erros do buffet. “O cardápio do meu primeiro casamento era horrível” virou um clássico entre as clientes de Marcy Blum. Ela própria se casou de novo recentemente, com um homem 20 anos mais jovem. “Agora, as pessoas sabem o que querem. Sabem quem são.”

Claro, nem tudo sai como no Pinterest. Cowie já organizou cerimônia em que o pai da noiva estava casando pela terceira vez com uma mulher mais jovem que sua filha. Tutera lembra do noivo que ainda não tinha finalizado o divórcio — e resolveram contratar um ator pra simular a cerimônia.

Mas no fim, a régua de tudo continua sendo o dinheiro. O casamento de Bezos e Sánchez é um espetáculo de afeto — e de capital. Ela ganhou um anel descomunal, uma escultura sensual com seu rosto no iate de US$ 500 milhões do noivo e uma viagem ao espaço com as amigas. Quem precisa de terninho cinza quando se pode ser musa intergaláctica?

Jennifer Lopez, outra veterana do altar, já foi noiva pelo menos seis vezes. Na cerimônia com Ben Affleck em 2022 (revival de noivado 20 anos depois), usou um vestido Ralph Lauren com mais de mil lenços recortados. Separaram-se dois anos depois. E a vida seguiu.

No fim das contas, como dizia Oscar Wilde, “o segundo casamento é o triunfo da esperança sobre a experiência”. No caso de Bezos e Sánchez, é também o triunfo de um patrimônio bilionário sobre qualquer noção de modéstia.

O amor, hoje, é experiência. E experiência vende. Vira lembrança, vira vídeo, vira post. E às vezes, vira legado. Como dizia Liz Taylor:  “Casar é uma das poucas coisas que valem a pena repetir.”

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