Hollywood

Hollywood não sabe mais como se promover

Por Lidiane Queiroz de Oliveira, diretora criativa da Eat Your Nuts

Fui convidada para escrever o editorial de hoje e, diante da responsa de escolher e desenvolver o tema da semana, resolvi falar sobre algo que é protagonista na minha vida: cinema.

E nada melhor — e atual, diante da chuva de 23 indicações ao Emmy — pra falar de cinema e Hollywood do que The Studio, da Apple TV+. A série — facilmente uma das melhores produções que vi este ano — é uma comédia que ama e entende profundamente o cinema. E o melhor: escracha o que os bastidores dessa indústria tem de melhor e pior com uma sátira inteligentíssima e atuações brilhantes. 

Criada por Seth Rogen e Evan Goldberg, The Studio é um deboche metalinguístico da indústria de que faz parte. E faz isso com acidez, timing cômico, planos-sequência que hipnotizam (e dão uma leve ansiedade), uma avalanche de referências à cultura pop e a clássicosnesta entrevista, a atriz Chase Sui Wonders comenta que a bagagem cinéfila do elenco e da equipe beira o obsessivo — e estrelas como Dave Franco, Zoe Kravitz e Martin Scorsese interpretando versões caricatas e constrangedoras de si mesmas.

Uma das minhas personagens preferidas é a diretora de marketing Maya, vivida por Kathryn Hahn. Hilária, pilhada, maluca e no limite entre a genialidade e o colapso nervoso, ela está sempre em busca do melhor ângulo e disposta a absolutamente tudo pra promover as produções da fictícia Continental Studios. 

É claro que criatividade sempre foi o coração do marketing, mas a ginástica mental — e as estratégias quase surreais e caóticas de Maya — são uma sátira cruelmente eficaz da nova realidade de Hollywood.

Hoje, apesar de grandes estrelas serem colocadas na linha de frente de cada campanha, ninguém mais tem certeza do que de fato funciona. O manual tradicional de RP foi substituído por um jogo de tentativa e erro em tempo real, onde viralizar se torna tão valioso quanto vender ingressos. A velha zona de conforto indicava um caminho: matérias em jornais, revistas, entrevistas matinais e noturnas. Agora, esse roteiro se fragmentou em uma rede expansiva, complexa e imprevisível — uma estrutura que mais parece um labirinto digital do que um planalto seguro.

Segundo essa matéria da Vulture, o chamado “New Media Circuit” se tornou um terreno inóspito e exigente — um oceano de plataformas como podcasts, vídeos do YouTube e memes em redes sociais, onde até a celebridade mais bem-intencionada pode se perder. Um exemplo emblemático foi a campanha de Andrew Garfield para We Live in Time, que misturou desde entrevistas tradicionais até participações em programas como Chicken Shop Date (eu não perco um episódio!), Modern Love Podcast e até interações com o Elmo, da Vila Sésamo. Mas, mesmo com esse esforço, o alcance não foi total — muitas outras plataformas, como Hot Ones ou SmartLess, ficaram de fora. Cansativo!

Confesso: como espectadora, eu me divirto. Mas, como alguém que trabalha com comunicação, não romantizo a complexidade crescente que é pensar — e executar — uma estratégia de divulgação hoje. As possibilidades criativas são infinitamente mais interessantes, é verdade. Mas também são bem mais trabalhosas, estressantes e, muitas vezes, imprecisas. Espero que quem está por trás dessas campanhas esteja ao menos se divertindo no processo. Afinal, ver ao vivo o Paul Mescal brincando com cachorrinhos na divulgação de Gladiador II não deve ter sido desagradável… Nem acompanhar o Timothée Chalamet no seu concurso de sósias para promover A Complete Unknown.

Enquanto isso, pro Wagner Moura segue sendo suficiente simplesmente sambar. Ah, o cinema nacional e o nosso carisma! Mas isso é tema para outra coluna.

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