Confesso que quando fiz as malas para a Noruega, minha cabeça estava focada em um único objetivo: ver a Aurora Boreal. Mas preciso confessar, a viagem se mostrou muito mais do que isso… Mal sabia eu que essa ida à Ilha Manshausen, perdida no Arquipélago Steigen, seria muito mais do que uma caçada às luzes do céu ártico. Sem muita expectativa em termos do que aprenderia, do que refletiria, de quem conheceria, voltei repleta de pensamentos e ideias que quero dividir. Quero te levar comigo nessa jornada que enriqueceu a minha forma de ver o mundo e, principalmente, as pessoas.
Imagine acordar em uma cabine onde três paredes são feitas de vidro, e você está literalmente suspenso sobre o mar. O sol ártico, tímido nessa época do ano, muitas vezes nem dava as caras, mas a empolgação de um novo dia naquele lugar me tirava da cama, e rápido.
A história do local é fascinante: o que já foi um movimentado posto de comércio para pescadores no século XVII hoje é um refúgio criado por Børge Ousland, o explorador polar norueguês que foi a primeira pessoa a cruzar o Ártico sozinho. Hoje, as cabines revestidas de madeira, projetadas pela Stinessen Arkitektur, oferecem através da arquitetura discreta vistas ininterruptas da paisagem remota e dos elementos que nos circundam. Dentro delas, você se sente conectado à natureza – a ideia principal é estar seguro e aquecido e, ao mesmo tempo, ter a sensação de estar do lado de fora, devido ao vidro em todos os três lados.
Apesar de, pelas imagens, o hotel parecer associado ao luxo, ele está muito mais ligado a um lifestyle consciente. Há uma atmosfera realista do que é de fato viver ali, em contato com a natureza, em um lugar tão remoto. É como se a gente estivesse hospedado na casa do staff, daqueles que vivem ali.
Sabe aquela sensação de quando seus ombros finalmente relaxam após um longo dia? Foi exatamente isso que senti assim que cheguei. Aos poucos, quase sem perceber, o celular foi ficando de lado, o relógio perdeu a importância, e me peguei completamente imersa no ritmo do lugar. Na internet, Manshausen aparece como uma pousada de design e arquitetura no Ártico, mas essa sensação única de estar em um lugar onde você muda sua mentalidade, a atmosfera quase mágica que te faz desacelerar, respirar mais fundo e, de alguma forma, voltar para você mesma… Isso, elas não conseguem captar. Para experimentar isso, você tem que ir lá e ver por si mesmo.
E a Noruega? Ah, que surpresa deliciosa! Literalmente deliciosa – tudo o que provei tanto em Oslo quanto no hotel na ilha foi muito saboroso. Os noruegueses podem parecer sérios à primeira vista, mas carregam consigo uma sabedoria de vida que me pegou de jeito. Eles têm essa palavra linda, “friluftsliv”, que significa “vida ao ar livre” – e não é só uma palavra, é um estilo de vida que eles levam muito a sério. Somado ao conceito, seu compromisso com o equilíbrio entre trabalho e vida pessoal, reflete uma cultura que prioriza o bem-estar e o respeito pela natureza. Culturalmente, vivenciei seu apreço pela simplicidade, discrição e senso de comunidade. Sem contar o quanto são solícitos, amigáveis e generosos – pelo menos todos que conheci.
Viajei em grupo – há quanto tempo não viajava assim com pessoas desconhecidas? Nem me lembro… Só sei que valeu, e valeu muito. Tudo foi organizado pela @livstaexperience, que proporciona experiências únicas e tem uma expertise singular sobre a Noruega – recomendo! E quem disse que não se fazem amigos depois dos 30? Em meio àquela paisagem remota, um grupo de desconhecidos se transformou em uma pequena família temporária. As diferenças de idade, profissão e origem se dissolveram diante das experiências compartilhadas, das conversas profundas e do encantamento coletivo pela natureza selvagem.
Há algo mágico em compartilhar momentos intensos com pessoas até então completamente desconhecidas. As conversas profundas, enquanto esperávamos a Aurora aparecer, as risadas durante as trilhas, o silêncio compartilhado diante de uma paisagem de tirar o fôlego – tudo isso criou conexões que parecem ter sempre existido.
Nunca imaginei que me tornaria uma entusiasta de destinos remotos.Minha jornada com viagens de aventura começou despretensiosamente, mas cada experiência foi me conquistando de maneira única. Do Chile à Noruega, descobri que existe algo profundamente transformador em estar em lugares onde a natureza nos faz sentir pequenos e, ao mesmo tempo, parte de algo imenso.
Dentre as reflexões que ocorreram dentro de mim, repensei completamente o conceito de luxo. Ela só reforçou que o verdadeiro privilégio não está no conforto material, mas na capacidade de se sentir presente, de respirar ar puro. Os desafios que antes me deixavam apreensiva se transformaram em fontes de prazer e descobertas.
Parece clichê, mas não é. A natureza se tornou minha definição pessoal de luxo. É uma descoberta que vai além da escolha do próximo destino; ela vem redefinindo silenciosamente minha perspectiva sobre o que realmente importa. Hoje, quando planejo minhas viagens, meu coração bate mais forte por aqueles pontos no mapa que prometem aventura e reconexão. Não é mais sobre fugir da rotina, mas sim sobre encontrar uma versão minha que encontra paz no desafio de uma nova trilha.
Saí de Manshausen diferente do que entrei. Levei comigo não apenas fotos da Aurora Boreal (sim, ela apareceu!), mas uma nova versão minha, mais leve e simples. As melhores viagens são aquelas que nos transformam de dentro para fora.
E você? Já teve alguma viagem que te mudou dessa forma? Que te fez questionar suas certezas e descobrir novos significados para palavras como luxo, conexão e amizade? Me conta porque vou adorar ouvir suas histórias também.