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Ninguém aguenta mais cardápios em QR code?

Aqui em São Paulo, visitei vários restaurantes que continuam utilizando o ‘insuportável’ QR code em vez do menu físico. Bem, de cara, ao ler essa frase, você já sabe de que lado estou, não é mesmo? Apesar da conveniência que eles ofereceram nos estágios iniciais da pandemia, os clientes (eu inclusa) estão expressando cada vez mais uma forte aversão aos menus digitais.

O sentimento entre eles é de que o uso de telefones à mesa é considerado rude, e a necessidade de solicitar um cardápio em papel parece estranha. Além disso, o formato digital é visto como carente da sensação tátil e do charme dos tradicionais cardápios de papel, prejudicando os aspectos românticos e íntimos da experiência gastronômica. Como afirmou o proprietário do Dutch Kills Bar, em Long Island City, Queens: “eles dificultam a comunicação e a intimidade”. 

Alguns garçons mencionaram que os QR codes retiram a alegria do trabalho. Alec Moran, garçom de um sofisticado restaurante italiano em Chicago, afirmou que não pode mais confiar nas dicas visuais dos clientes, que costumavam deixar seus cardápios de lado quando estavam prontos para fazer o pedido. Agora, os telefones permanecem sobre a mesa, mesmo desligados. “O mundo está se digitalizando a cada dia. Parecia que os restaurantes eram um dos poucos espaços públicos analógicos que nos restavam.” Além disso, Moran acredita que os QR codes também tornam os clientes menos propensos a pedir sobremesas, outra taça de vinho ou qualquer um daqueles “pequenos extras” que podem ser incluídos na conta. É incômodo ter que rolar a tela novamente.

Ao sair do digital e considerar o cardápio, concordamos que eles podem ser surpreendentemente reveladores. Além de informar sobre o que pode ser pedido no restaurante, eles também são uma cápsula do tempo da cultura, refletindo o conforto, os hábitos, os sabores e os valores de uma época. Isso tem sido verdade desde os primeiros cardápios americanos da década de 1840, que catalogavam os pratos opulentos dos hotéis que atendiam aos mais ricos. E deveria continuar sendo assim, especialmente agora, na era da fadiga dos QR codes. Só para deixar claro, em NY e Londres, os cardápios digitais  ainda são muito usados em cafeterias, cervejarias e estabelecimentos de comida casual, onde a rapidez no pedido e no pagamento é uma prioridade. Mas isso vem mudando nos demais estabelecimentos.

E é importante frisar: os menus físicos não estão apenas de volta, mas eles têm mais personalidade do que nunca. E para ilustrar isso, me deparei com essa matéria do NYT (que está incrível) cuja equipe de gastronomia coletou 121 cardápios de vários restaurantes de todo os EUA para, justamente, explorar as tendências e as nuances atuais da gastronomia. Os cardápios refletem o cenário em evolução das refeições fora de casa, apresentando características distintas, como a onipresença das saladas Caesar, a popularidade do caviar, o uso do yuzu e o ressurgimento de sobremesas nostálgicas, como a panna cotta.

Os cardápios físicos ganharam mais personalidade, apresentando cores fortes e brilhantes, fontes menores e o uso de mascotes fofos como ícones de restaurantes. Os designs informais, incluindo fontes extravagantes e formatação básica, transmitem um toque mais humano e acessível. Os restaurantes estão adotando toques sutis e analógicos, como carimbos, selos de cera e relevo para enfatizar a atenção aos detalhes.

Notavelmente, muitos cardápios sinalizam um compromisso com a equipe, incluindo taxas de serviço que contribuem para salários mais altos ou benefícios para os funcionários. Alguns cardápios até listam toda a equipe, incluindo os pronomes de gênero preferidos. O formato tradicional de aperitivo, entrada e sobremesa evoluiu para categorias baseadas em tamanho, oferecendo mais flexibilidade aos clientes. Além disso, há um foco crescente em opções sem álcool, com seções dedicadas a esse tipo de bebida.

As descrições dos pratos nos cardápios atingem um equilíbrio entre os detalhes elaborados da década de 1990 e a abordagem minimalista da década de 2000, fornecendo informações suficientes para transmitir a essência do prato e, ao mesmo tempo, manter um elemento de mistério.

Por fim, alguns cardápios, como os quadros de carta minimalistas em preto e branco, evocam uma estética nostálgica dos anos 90. Apesar da diversidade de estilos e cozinhas, os cardápios coletados compartilham um calor e um entusiasmo comuns para jantar fora, com alguns até incorporando humor, como o cardápio de um restaurante tailandês que funciona como uma peça de teatro em três atos.

E você, está a favor dos QR codes ou prefere o bom e velho cardápio físico?

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