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O fim da era dos celulares em sala de aula? 

Que a verdade seja dita: começamos e terminamos nossos dias conectados aos nossos celulares, realidade essa que também se aplica aos mais novos e que dados já comprovam: o Brasil lidera o ranking global de uso de celular entre os jovens, com aproximadamente 95% dos pré-adolescentes e adolescentes teclando desde cedo… 

Não à toa, vê-los entretidos nas telinhas em qualquer lugar ou hora do dia, se tornou comum, inclusive, dentro das escolas. É fato que algumas apoiam esse cenário, tanto pela busca de mais tecnologia quanto pela praticidade, já que há uma otimização de tempo e recursos quando o aluno tem na palma da mão um universo de dados e pesquisa. Todavia, imagine o quão exaustivo deve ser para o professor, enquanto toca sua disciplina, ficar controlando as tecnologias e repetindo “guardem os celulares”, quando seu uso acaba sendo como fonte de “cola”, de “conversas paralelas” e “distrações”.

Se por um lado, para muitos, os celulares e a tecnologia passaram a ser vistos como aliados da educação, e essenciais – por conta de todo contexto pandêmico – por outro, foi-se ignorado o potencial de bombas relógios que eles também podem ter. Recentemente,  no “Relatório de Monitoramento Global da Educação, resumo, 2023: a tecnologia na educação: uma ferramenta a serviço de quem?”, publicado pela Unesco, riscos relacionados ao uso excessivo de celulares em sala de aula foram levantados. 

Evidências apontam que esse uso pode prejudicar o desempenho educacional das crianças, assim como altas doses de exposição às telas podem afetar de forma negativa a estabilidade emocional dos alunos. Segundo a Unesco, a adoção de medidas que limitem o uso de tecnologia poderia trazer inúmeros benefícios, como:

✅ auxílio aos professores, à medida que evita interrupções causadas pelo uso de celular durante as aulas;

✅ melhoria do aprendizado dos alunos (otimizando o nível de concentração e foco);

✅ proteção do bullying virtual (cada vez mais emergente na sociedade);

✅  reforço da mensagem de que a interação física entre professor e aluno não deve ser substituída por alternativas digitais e que, portanto, se faz necessária uma “visão centrada em humanos” para a educação.

Vale ressaltar que, recentemente, a Holanda anunciou que irá banir celulares, tablets e smartwatches das salas de aula a partir de 1º de janeiro de 2024, justamente com o objetivo de afastar as distrações trazidas pelos aparelhos e ajudar os alunos a se concentrarem e aprenderem bem! Países como França, Finlândia e Alemanha têm seguido decisões semelhantes após esse comunicado… será que esse movimento vai pegar?.

Voltando ao assunto…a Unesco sugere, ainda, que legisladores em todo o planeta reflitam bem antes de abraçar tecnologias digitais, a fim de que elas não venham a prejudicar os alunos nas escolas, pois, embora os impactos positivos e a eficiência econômica sejam potencialmente altos, ao mesmo tempo, podem ser superestimados.

Bom, ao que tudo indica, o Brasil já deu seu primeiro passo contrário a esse movimento, já que, pela primeira vez, as escolas estaduais de São Paulo não vão mais receber os livros didáticos do programa nacional gerido pelo MEC, que compra obras para todo o País há tempos. Renato Feder, secretário da Educação paulista, abriu mão de 10 milhões de exemplares para os alunos do 6º ao 9º ano, a partir do ano que vem, para usar exclusivamente o material digital.

Diante dessa discussão fervorosa, fica a pergunta: qual caminho seguir? Qual a decisão mais assertiva a ser tomada? Bom, certamente eu não tenho essa resposta na ponta da língua, amo livro de papel – acho insubstituível – mas entendo a evolução e também consumo obras pelo meu Kindle, por exemplo. Seguimos nos adaptando e a sociedade se transformando, agora, pensando sobre a educação dessa e das próximas gerações: me assusta bastante saber que chegamos a um ponto da nossa história humana em que medidas se fazem necessárias para que as nossas crianças dêem um tempo do celular, ainda mais dentro do ambiente escolar, onde tudo isso deveria suceder naturalmente. 

Ah, e claro, vale destacar que essa discussão é muito mais complexa do que as pessoas acham que é, porque enquanto muitas delas se convenceram de que os celulares e a tecnologia são uma grande vantagem, eu levanto a seguinte bola: será que ter tudo na mão e de tanto fácil acesso, onde bastam alguns cliques para conseguir inúmeras informações e dados sobre qualquer assunto, não limita outras habilidades, como o senso crítico, a paciência, a curiosidade e mesmo o “aprender a errar?”. Afinal, tudo vindo da internet está mastigado, pronto para uso, o que, consequentemente, torna nossos cérebros menos ativos e mais preguiçosos para pensar. Quem concorda?

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