Que a verdade seja dita: o conceito de histeria está entrelaçado há séculos à opressão das mulheres – e hoje, a gente quer te contar como e de que forma isso acontece, já que, infelizmente, quando olhamos para os tempos atuais, isso não parece ter mudado tanto.
Na Grécia Antiga, histeria era uma doença 100% associada ao feminino, não à toa, se buscarmos pela raiz da palavra, vamos descobrir que o próprio nome já entrega isso, pois em grego, “histerus” significa útero e seus sintomas eram creditados à locomoção interna que o órgão realizava em busca de umidade (whaaat?).
Tá, mas desmistificando o conceito, histeria era o nome dado para caracterizar mulheres com surtos de pânico, ansiedade, irritabilidade, insônia, dores de cabeça, perda de apetite, entre outros sintomas. Mas, (é claro) não para por aí, pois à medida que essas mulheres se mostravam contrárias a realidade da época, também eram taxadas de histéricas e, consequentemente, penalizadas.
- Na Idade Média, a palavra era associada à bruxaria, levando muitas mulheres à fogueira;
- No período pós Revolução Industrial e no auge da burguesia, em meados do século XIX — as mulheres que se sentiam sufocadas pelos limitantes papéis impostos pela sociedade patriarcal, eram mandadas a hospitais e consultórios para receber o “devido tratamento”;
- Em tempos atuais, basta aumentar um pouquinho o tom de voz, ficar brava ou se mostrar contrária a uma opinião que foi dada e pronto: você também já recebe o título e é vista como uma descontrolada.
Hoje, a histeria é oficialmente tida como um transtorno psicológico – uma forma de neurose, que se manifesta fisicamente tanto em mulheres, como homens – cujos sintomas são: ansiedade excessiva, sintomas histéricos ou obsessivos, compulsão, fobias e depressão.
No entanto, apesar desse conhecimento, ainda é comum vermos mulheres lutando por seus direitos sendo chamadas de histéricas de modo pejorativo, assim como também tendo suas emoções tratadas como drama e irracionalidade, em uma tentativa de deslegitimação. Talvez você não saiba, mas muitos transtornos reais manifestados em mulheres ao longo da história foram desqualificados pela crença de que elas são naturalmente desequilibradas e volúveis, o que dificultava o tratamento e contribuía para uma vida miserável.
E, ao que parece, essa representação tradicional do sexo feminino: de delicadeza e fragilidade, ainda permeiam o imaginário popular e é, igualmente, reforçado pelas telas. Quer um exemplo prático? O homem quando expressa sua raiva é viril, corajoso e forte, ele bate, espanca e quebra tudo que está à sua frente e as pessoas acham isso o máximo! A mulher, por sua vez, é mais silenciosa e se limita a demonstrar tal sentimento deixando apenas uma única lágrima escorrer lentamente de seus olhos de forma comicamente graciosa.
Mas seria isso a raiva feminina? Não mesmo! A pressão social que as mulheres enfrentam para manter a pose e não expressar suas emoções, especialmente a raiva, é sufocante!
E, ao que parece, a internet também está de saco cheio disso, pois a trend: “FEMALE RAGE” ou, em português, “Raiva Feminina”, ganhou força! Nas redes sociais, vídeos editados de personagens femininas tendo crises de raiva e expressando toda a sua potência têm sido trazidos à luz e desafiado os estereótipos de gênero, afinal, as mulheres do século 21 querem gritar, quebrar coisas, levantar suas vozes e impor suas opiniões, sem serem julgadas por isso.
E só para deixar claro: a ideia da trend – e desse texto – não é, de forma nenhuma, defender e apoiar que as mulheres sejam violentas, obviamente, ok? Apenas mostrar que todas têm o direito de sentir e expressar suas emoções de forma tão livre como qualquer homem faz e, o principal, sem serem rotuladas de “histéricas” por isso!
E aí, você já tinha parado para pensar sobre isso?