Desde pequena, as aulas de história sempre foram minhas favoritas. Sentava hipnotizada ouvindo sobre grandes batalhas, revoluções e personagens fascinantes que moldaram nosso mundo. Em casa, meu pai – um verdadeiro poço sem fundo de conhecimento histórico – sempre foi minha fonte inesgotável de histórias e curiosidades. “Pai, me conta sobre a Guerra Fria?” ou “Como era São Paulo nos anos 60?” são perguntas que até hoje faço com frequência, e ele sempre tem uma nova perspectiva para compartilhar.
Por isso, não me surpreende ver que não estou sozinha nessa paixão pelo passado. O mercado de conteúdo histórico está experimentando um crescimento sem precedentes, transformando a maneira como consumimos e nos relacionamos com a história. De podcasts a livros, parece que nunca houve tanto interesse em explorar as narrativas que nos trouxeram até aqui. E eu claro, tô amando a trend!
Em um momento em que as matrículas em cursos universitários de história estão em declínio (queda de 10% no Reino Unido e 15% nos EUA nos últimos anos), o interesse público pelo passado paradoxalmente dispara. O podcast “The Rest is History”, por exemplo, alcança impressionantes 12,5 milhões de downloads mensais, superando programas consagrados como “This American Life”.
O fenômeno não se limita apenas aos podcasts. Em 2023, o Reino Unido e a Irlanda registraram recordes históricos na venda de livros sobre história desde 1998. Nos Estados Unidos, em um ano eleitoral, as publicações históricas superaram pela primeira vez as vendas de livros sobre política, em uma proporção de dois para um.
Por que História? Por que Agora?
Especialistas apontam diversos fatores para esse boom:
- Demografia em transformação: Dan Carlin, criador do popular podcast “Hardcore History”, sugere que o envelhecimento da população tem papel crucial. À medida que envelhecemos, nossa conexão com o passado se intensifica.
- Tempos de mudança: em períodos de profundas transformações tecnológicas e políticas, como o atual, sociedades tendem a voltar seu olhar para o passado. Os vitorianos, durante a Revolução Industrial, desenvolveram fascínio por dinossauros e civilizações antigas. No pós-guerra, Hollywood produziu épicos históricos recordistas de bilheteria.
- Escape do presente: a história oferece uma perspectiva única para discutir questões contemporâneas sensíveis. Como exemplifica Mary Beard, renomada historiadora britânica, debates sobre liberdade de expressão tornam-se mais produtivos quando contextualizados através de eventos históricos distantes.
O Negócio da História
O sucesso comercial desse movimento tem criado novas oportunidades. A Goalhanger, produtora do “The Rest is History”, fechou contrato com Hollywood para desenvolver formatos televisivos e cinematográficos. No mundo digital, historiadores como Heather Cox Richardson conquistam milhões de seguidores em newsletters e redes sociais.
O modelo de negócios também se diversifica. Dan Carlin, por exemplo, gera sua principal receita não através de publicidade, mas de vendas diretas de episódios aos ouvintes, com pacotes chegando a US$ 100. O conteúdo histórico tem a vantagem única de não “vencer” – episódios antigos continuam relevantes e vendáveis.
O Segredo do Sucesso
O êxito desses criadores de conteúdo histórico parece residir em três elementos principais:
- Autenticidade na abordagem e profundidade de pesquisa
- Relacionamento parassocial com o público, criando conexões duradouras
- Capacidade de tornar o passado relevante para questões contemporâneas
Como resume Dominic Sandbrook, do “The Rest is History”: “As pessoas amam as histórias, os personagens e a sensação de serem transportadas para o passado. Elas buscam a riqueza das experiências humanas e os mundos desaparecidos que nunca mais encontraremos.”
Em uma era de transformações aceleradas e incertezas, o passado parece oferecer não apenas lições, mas também um terreno fértil para entretenimento, reflexão e compreensão do presente.
Este texto é uma adaptação livre do artigo “The Business of History Is Booming”, publicado pela Bloomberg em 3 de janeiro de 2025, por Will Dunn. Trouxe as informações de forma mais acessível e acrescentei reflexões pessoais sobre o tema.