Não dá pra negar que as pessoas, hoje em dia, estão sempre em busca do caminho mais fácil para realizar suas tarefas. Pra que ler um livro em busca de uma informação, se o Google rankeia os melhores sites de onde se pode encontrá-lá? Pra que gastar tempo e energia varrendo a casa, se o aspirador de pó robô pode deixá-la brilhando do mesmo jeito? Ou pra que se dar o trabalho de enfrentar a trilha sinuosa da montanha, quando o bondinho leva até o topo de modo muito mais rápido, fácil e sem intercorrências?
Perguntas como essas têm guiado a nossa geração à medida que a internet avança e torna a conveniência, isto é, o apreço por uma alternativa que simplifique o contexto e ofereça uma vantagem – seja ela, uma economia de tempo ou energia – objeto de desejo. E, embora seja impossível deixar de reconhecer os pontos positivos que a tecnologia trouxe, é necessário tecer uma crítica ao seu lado tirânico – aquele que ninguém conta e outros insistem em fechar os olhos.
Pra começo de conversa, vamos combinar que todos nós somos em maior ou menor grau, melhores amigos do imediatismo e facilmente nos vemos frustrados diante de uma situação que apresente uma solução “lenta” ou demande uma porção de esforço maior daquela que normalmente empregamos. Tal fato facilmente explica o porquê da maioria dos jovens da atualidade detestarem enfrentar filas, em contrapartida ao crescente sucesso dos apps de bancos, por exemplo.
Sem falar no fato de que pedir por delivery tornou muito mais cômodo realizar as refeições, até porque, fala sério: quem hoje em dia investe tanto tempo assim de domingo a domingo preparando comida à beira da boca do fogão, quando um clique no celular consegue facilitar todo esse processo? E mais, com opções para todos os tipos de paladar e dietas.
Sob uma perspectiva privilegiada, precisamos admitir que estamos sendo muito mimados pelas facilidades do dia a dia, não é? Ao ponto de nos tornarmos até mais críticos com aquilo que consideramos “dignos” do nosso tempo. Ah, e engana-se quem pensa que, com isso, estamos otimizando nossas horas e, consequentemente, com mais tempo de sobra pra gastar como bem entendermos.
A escritora, Betty Friedan, já em meados de 1963, constatou em seu livro “The Feminine Mystique”, após diversas análises, que as tecnologias domésticas criaram apenas mais demandas para as mulheres: “Mesmo com todos os novos aparelhos que economizam trabalho, a dona de casa americana moderna provavelmente gasta mais tempo em tarefas domésticas do que sua avó”. E o porquê disso, afinal? Ora, quanto mais as coisas se tornam fáceis, mais corremos atrás de tarefas igualmente “simples”, para preencher nosso tempo.
Lendo isso confesso que pensei “caramba, sim!”, pois quem aqui nunca se pegou abraçando mais demandas logo depois de terminar um bocado de outras, só para ter o que fazer, ao invés de descansar? Eu mesma faço isso direto, mas tenho tentado melhorar, afinal, não é fácil ir na contramão de um sistema que cultua a produtividade a todo custo e interpreta o ato de “pausar” como um desperdício de recursos.
Mas pera lá: se todo mundo está cansado de ouvir que o que torna a vista mais bonita e admirável é enfrentar os desafios do caminho até ela, então por que tem tanta gente abrindo mão dos riscos de se lançar em atividades, projetos e desafios que levam tempo e nos expõem a muitas chances de frustração, medo e fracasso? Embora, com isso, é claro, as chances de aprendizado cresçam exponencialmente também, porque querendo ou não, o ‘perder’, faz parte da evolução e, o quanto antes aceitarmos isso, melhor vai ser.
Pra finalizar, fica aqui a provocação: nem sempre o caminho mais rápido é o melhor, pois quem não sabe pra onde ir, mais rápido chegará a lugar nenhum. Que tal então aproveitarmos a estrada para interagirmos, aprendermos mais sobre os outros e sobre nós mesmos, se permitindo viver o processo lento e difícil como parte necessária para a construção de uma resposta melhor, ao invés de nos contentarmos apenas com a solução pronta?!
E aí, quem topa o desafio?