Sexta-feira passada, eu e meu marido fomos assistir ao filme “One Love”, que celebra a vida de Bob Marley. Enquanto andávamos até o cinema, eu me questionava sobre o que eu iria escrever pra vocês nesta edição. Mal sabia eu que a resposta estaria ali, naquela sessão de cinema. Durante o filme, uma intensa onda de emoções me invadiu e eu não pude evitar pensar: ‘preciso compartilhar esses sentimentos que o filme me trouxe, essa vibe da música do Bob’, especialmente numa semana em que estive refletindo muito sobre legado, impactada pela partida de Abílio Diniz. Fiquei intrigada em entender mais sobre a religião rastafári e as crenças de Marley, especialmente através das letras de suas músicas. Então aqui está um pouco mais sobre ele, caso você não seja familiarizado!
Apesar de serem poucos os rastafáris no mundo (li em um artigo de 2021 que há cerca de 1 milhão deles), praticamente todo mundo já ouviu falar deles. E isso é, em grande parte, graças à Bob Marley, que se tornou uma figura central na divulgação da cultura jamaicana e da religião rastafári, especialmente por meio das letras poderosas de suas músicas, que conquistaram fama mundial.
Bob era um homem sem tempo e com uma missão que ninguém na música popular havia tentado antes, segundo uma matéria da revista Rolling Stone. Ele conseguiu popularizar o reggae – um estilo musical que antes soava estranho e desconhecido para muitos ouvidos – e transmitir as verdades de sua conturbada terra natal, a Jamaica, para um público de massa. E olha, ele não só popularizou esse tipo de música, mas também a religião rastafári, que tá super ligada com o reggae – ambos essenciais para a identidade emergente do povo negro da Jamaica.
É triste pensar que Bob não teve a chance de ver sua missão aqui na Terra se realizando. Mesmo depois de 43 anos de sua partida, ele e suas músicas ainda bombam! Não é só porque os discos dele continuam vendendo muito, mas porque a mensagem dele ainda está viva. E olha, não foi uma missão fácil, não. Marley não estava cantando sobre como seria fácil trazer paz pro mundo, mas sim sobre como o inferno na Terra é real pra muita gente.
Ele estava intimamente familiarizado com as realidades que suas músicas retratavam. Suas músicas eram testemunhos vivos; ele tinha vivido ao lado dos desfavorecidos, testemunhado a opressão e sentido na pele as balas disparadas. Foi sua habilidade de retratar essas experiências de forma genuína e vívida que sustentou sua obra musical, tornando-a única e incomparável.
Uma das mensagens interessantes que Bob passa é que, apesar de dedicar sua vida a falar pra diáspora negra – aquela população que foi dispersa ou colonizada por causa da escravidão e do imperialismo – ele nunca expressava ódio pelos brancos, mas sim ódio pelo poder injusto de um povo subjugar outro.
Ele abriu sua música pro mundo todo, com a fé de que a música poderia unir todo mundo e acabar com o racismo e a desigualdade. E essas mensagens poderosas foram influenciadas pela religião dele, que acredita num Deus supremo, que eles chamam de Jah. Eles acreditam na união.
Em uma das músicas dele, “Zion Train”, Marley falava sobre como a sabedoria é mais importante do que dinheiro – “não ganhe o mundo e perca sua alma. A sabedoria vale mais que ouro e prata”. Ele incentivava os ouvintes a buscarem paz e poder dentro de si mesmos, e não nas coisas materiais. Em outra música, “Could You Be Loved”, a mensagem dele era simples: “viva sua vida da melhor maneira possível, mas aceite que você é imperfeito, como todo mundo”.
“Get Up, Stand Up” é considerada por muita gente a música mais forte sobre direitos humanos e a luta por eles. Nela, Bob criticava abertamente o cristianismo e pedia pro ouvinte não buscar um Deus eterno, mas sim buscar a verdade na Terra. O movimento rastafári pode ser visto como um movimento de renovação, um esforço consciente dos membros de uma sociedade para construir uma cultura mais justa. E tem uns versos que sugerem que, no fim das contas, a verdade sobre um governo corrupto vai ser descoberta – ‘‘you can fool some people sometimes. But you can’t fool all the people all of the time” (você pode enganar algumas pessoas algumas vezes, mas não pode enganar todo mundo o tempo todo”).
Marley escreveu “Redemption Song” quando estava começando a aceitar o diagnóstico de câncer. Aqui ele expressa uma mensagem de esperança e autocapacitação, convidando os ouvintes a se libertarem das correntes da opressão mental e a se tornarem os arquitetos de seu próprio destino – ‘emancipate yourselves from mental slavery, no one but ourselves can free our minds’.
Não poderia deixar de mencionar, “don’t worry about a thing … cause every little thing is gonna be alright”, que nos ensina que a preocupação é um lugar ruim para colocarmos nossa energia. Já sua famosa frase ‘the truth is, everyone is going to hurt you. You just got to find the ones worth suffering for” nos traz para a realidade de que a vida nem sempre é um mar de rosas, mas são os espinhos que nos ensinam o valor das rosas, nos lembrando que devemos escolher sabiamente nossas batalhas e as pessoas em nossas vidas.
Podia passar horas aqui listando frases impactantes, porque se tem algo que Marley sabia fazer era música com letras poderosas. Mas mais do que isso, eram mensagens verdadeiras e cheias de significado. No fundo, refletindo aqui, acho que sua mensagem mais bonita de todas é sobre a autenticidade. Para ele, era crucial que mostrássemos quem realmente somos em todos os momentos, sem máscaras ou falsidades – uma lição que se torna ainda mais relevante em um mundo onde todos parecem querer ser iguais, por conta da influência das redes sociais..
Pra fechar, suas letras vão muito além de palavras cantadas com uma melodia. Elas são como um grito de resistência, uma dose de esperança e um abraço de união. Seguem inspirando e fortalecendo milhões ao redor do mundo, mostrando que a música de verdade tem o poder de mudar não só o que a gente ouve, mas também o que a gente sente e pensa. Mesmo que Bob tenha partido, o legado dele vive para sempre através dessas letras poderosas.