Como andam suas resoluções de ano novo? Se não estiver caminhando muito bem, saiba que você não está sozinho nessa, uma vez que geralmente elas falham nos primeiros meses do ano mesmo – um estudo descobriu que a metade delas se dissolve após três meses, por isso, nem se sinta muito mal!
Arthur Brooks, autor da coluna ‘How To Build a Life’, na The Atlantic, que sempre aborda questões de significado e felicidade, sugere um novo approach para aderirmos quando as coisas não estão indo muito bem: criar uma lista de anti-resoluções. Ou seja, uma lista de coisas que você não quer fazer no ano – por exemplo, evitar passar tempo com pessoas que não te façam bem, ou ir a lugares que você não gosta. Achei interessantíssimo!
Tal abordagem é, na verdade, baseada em um antigo conceito filosófico conhecido como via negativa, popularizado em dois tratados cristãos passados e supostamente escritos por Dionísio, o Areopagita – um teólogo do quinto ou sexto século. Dionísio escreveu que Deus não podia ser descrito com qualquer conceito ou nome mundano e que ele só podia passar a ser conhecido ao contemplarmos o que ele não é. Este paradoxo também aparece nas obras de Tomás de Aquino, que argumentou em sua Summa Theologiae do século XIII, que se você pensa que entende Deus, você não entende.
Em suma, a via negativa é saber reconhecer que quando você não sabe o caminho certo, você pode ser bem sucedido concentrando-se no que você sabe que está errado. Se você tem se sentido estagnado em seu trabalho ou relacionamento – mas não sabe exatamente o que fazer para melhorar as coisas, a via negativa pode ser exatamente o que você precisa.
Fiquei morrendo de vontade de colocar isso em prática para as questões que andam empacadas na minha vida. E não se assuste, pode soar mais difícil do que de fato é, porque no geral nós costumamos usar uma versão de ‘via negativa’ casual o tempo todo, uma vez que a gente já tende a ter o que os psicólogos chamam de ‘viés de negatividade’ – uma propensão a perceber mais detalhes que incomodam sobre aqueles que gostamos.
Imagina um final de semana na praia: você consegue visualizar o que não gostou mais facilmente do que o que gostou. Quando chegar em casa, você terá uma lista de coisas que vivenciou, e poderá rapidamente citar as que não gostou e não quer repetir da próxima vez. Em contraste, as coisas que você pode melhorar são hipotéticas. Portanto, o conhecimento subtrativo é praticamente garantido para levar à melhoria, mas o conhecimento aditivo, muitas vezes, é apenas um palpite.
Pensando em termos práticos, para usar a via negativa a fim de melhorar nossas vidas, o ideal é complementar a lista que temos de to-dos com uma lista do que não fazer. Escreva as coisas que você faz por hábito ou obrigação, mesmo que elas baixem seu espírito. Talvez você decida evitar alguns amigos tóxicos, talvez você apague suas contas na mídia social, porque elas consomem seu tempo e o fazem sentir-se só… e por aí vai. Se você terminou um relacionamento, e quer evitar os erros no futuro, a resposta é a via negativa – que tal escrever uma lista de todas as dimensões de seu romance que foram problemáticas, e que você deve evitar no futuro? Ou o oposto: você quer reavivar um relacionamento existente que não anda muito bem…nesse caso, o casal deve sentar junto e se perguntar “o que estamos fazendo que está nos deixando infelizes?”
Ao adotar a abordagem da via negativa você conseguirá simplificar e racionalizar suas prioridades, o que pode levar a maior clareza, foco e produtividade. Também permitirá uma tomada de decisão mais intencional e a capacidade de alocar melhor o tempo e os recursos para o que realmente importa. Bora praticar?
Fonte: Texto escrito baseado no artigo da The Atlantic