Você se considera séria(o) demais? Prazer, eu sou uma dessas pessoas que levam a vida muito a sério. Se for para fazer, tem que ser bem feito. Crises existenciais são como um soco no estômago – é o fim do mundo, sem perspectivas. Tudo parece preto e branco. E o tempo voa, enquanto meus objetivos ficam lá, esperando para serem alcançados… E muitas vezes, fico tão presa na minha própria cabeça que sinto que estou desperdiçando anos de vida.
É complicado manter a clareza quando você leva a vida tão a sério.
Porém, convivendo mais e mais com crianças, percebi a importância de manter uma visão infantil em relação ao nosso próprio envolvimento com a realidade – precisamos nos permitir ‘simplesmente ser’, deixar rolar…
Espera aí, não estou dizendo que há algo de errado com as pessoas que levam a sério o ato de viver. Claro que não, valorizo quem tenta aproveitar ao máximo cada momento. Mas estou falando de uma seriedade diferente, aquela que sufoca qualquer curiosidade infantil que torna a vida interessante. Aquela forma perniciosa que surge no dia em que você aceita o mito de que a vida tem que ficar mais difícil, mais ocupada e menos agradável com o tempo. É essa falta de leveza e curiosidade que me incomoda tanto.
Durante muito tempo, o fato de relaxar parecia folga. O fato de não dar o máximo, soava como preguiça. O fato de deixar um pouco o acaso também ter seu impacto, parecia desvalorização. É como se eu estivesse me sabotando, ou pior, como se estivesse sendo julgada o tempo todo.
Com terapia, maturidade e conselhos sábios do meu pai, tenho tentado encarar a vida de forma mais relaxada. Antes, não havia espaço para erros ou diversão. Só foco e ansiedade. Mas depois dos 30 anos, passei a estar mais aberta ao desenrolar aleatório da vida e me senti à vontade com isso.
Quando você relaxa e começa a viver a vida de forma mais leve, pouco a pouco, o mundo interno e externo se suavizam. Você começa a rir mais, se conecta com mais pessoas, desfruta de momentos simples e, talvez o mais importante, se leva menos a sério. Coletivamente, essas mudanças tornam quase tudo na vida mais agradável.
É claro que isso pode entrar em conflito com o estilo de vida da maioria das pessoas ao seu redor que, geralmente, estão focadas em responsabilidades e compromissos. Mas é possível encontrar um equilíbrio entre relaxamento e responsabilidades. Você pode pagar as contas, trabalhar para atingir metas, cuidar dos filhos, ser um bom parceiro, tentar fazer o bem no mundo e assim por diante. A diferença está apenas no foco que se dá a determinadas áreas da vida. Se para você aumentar o patrimônio líquido, subir na carreira, maximizar o potencial, possuem menos prioridade do que antes, abrace essa realidade. Esteja aberto a essa reorientação de prioridades e avalie se ela é boa ou não a longo prazo.
A criança é o oposto da maioria dos adultos. Ela não está perdida em uma história sobre o que é sua vida ou o que ela precisa ser. Ela está simplesmente vivendo, totalmente presente com a aparentemente infinita novidade, alegria e dor que existem, quando se está experimentando o mundo pela primeira vez.
Portanto, se há alguma lição a tirar da edição de hoje, é que você pode (e provavelmente irá se beneficiar) ver o mundo mais como uma criança. Em vez de ficar absorto no diálogo incessante da mente adulta, tente ver o mundo com novos olhos. Mesmo que você consiga fazer isso apenas uma vez por semana, já é melhor do que nada.
Encerro com uma frase do filósofo, Jiddu Krishnamurti: “No dia em que você ensinar à criança o nome do pássaro, ela nunca mais verá esse pássaro”. Lembre-se: uma mudança sutil pode fazer toda a diferença na sua vida.