Sabemos que não precisamos estar sozinhos para nos sentirmos só. Também sabemos que podemos estar rodeados de pessoas e mesmo assim nos sentirmos sozinhos. Tendo isso como premissa, hoje te faço uma provocação, você sabe a diferença entre solidão e solitude? Ambos sentimentos são altamente complexos e apesar de compartilharem sua essência na mesma experiência fundamental, a forma como interagimos com cada um destes sentimentos dá origem a dois estados mentais diferentes.
A solidão é uma emoção e percepção de uma sensação de ausência, de falta de conexão, de pertencimento, ao mesmo tempo em que se deseja construir mais laços com os outros do que realmente se tem. “Por que as pessoas têm que ser tão solitárias? Qual é o objetivo de tudo isso? Milhões de pessoas neste mundo, todas elas ansiosas, olhando para os outros para satisfazê-las, mas isolando-se“, perguntou Haruki Murakami em um de seus romances. Isolamento é a palavra-chave aqui: solidão é uma sensação de isolamento que pode persistir mesmo quando outras pessoas estão presentes.
Indo na direção oposta, a solitude é retirar-se para dentro de si mesmo, é ter prazer em sua própria companhia. Através da solitude, conseguimos nos auto-regularmos emocionalmente e também passar tempo conosco mesmos, uma vez que ela nos possibilita estar dentro de nossas cabeças, afinal, somente quando estamos afastados de todas as distrações e de outras pessoas é que temos espaço para meditar sobre a vida e descobrir coisas importantes.
É importante entendermos que como enxergamos o ato de estar só, faz toda a diferença se vamos vivenciá-lo como solidão ou solitude. Quando nos concentramos no sentimento de isolamento dos outros e do mundo, estar sozinho pode produzir uma espiral de pensamentos negativos. Quando apreciado como um momento de descoberta e de reconexão consigo mesmo, estar sozinho pode produzir insights poderosos e contribuir para a saúde mental.
Infelizmente na agitação de nossas vidas, há pouca oportunidade de abraçar a solitude. Cada momento tranquilo é impiedosamente repleto de estímulos. Não podemos esperar um táxi ou ficar em uma fila sem pegarmos o celular ou trocar ideia com alguém. Os momentos tranquilos e solitários são cheios de barulho, para que não passemos muito tempo com nós mesmos.
‘Somos ensinados desde pequenos que a sociabilidade é boa, que a multidão é felicidade e que o pertencimento e a realização vêm dos relacionamentos.’ Há de fato muita verdade nisso. De um lado, quando reservamos um tempo para nós mesmos, nos damos espaço para imaginar. Quando nossa mente não é constantemente bombardeada com conteúdo, ela pode criar. Por outro, a solidão pode muitas vezes ser o terreno escuro e fértil para a depressão.
O equilíbrio entre solidão e solitude é uma faca de dois gumes. Não há uma maneira segura de distinguir os dois. A solitude é muitas vezes um estado escolhido, enquanto que a solidão é forçada, mas ainda assim, não é algo simples e claro, por conta dos riscos de depressão. Pensando nisso, encerro a reflexão com o conselho de Samuel Johnson, o gigante literário e depressivo para aqueles com uma disposição melancólica , “se você está ocioso, não fique sozinho; se você é solitário, não fique ocioso.”