Por mais de uma década, comer num lugar considerado cool significava entrar num cenário que parecia ter nascido dentro do Pinterest: paredes off white, monstera estrategicamente inclinada, móveis claros, cerâmicas em tons de rosa empoeirado e aquela estética de startup às 10h e brunch às 11h. Era um pacto silencioso do design millennial. Tudo instagramável, tudo suave, tudo neutro. Chamaram isso de Wayfair ficção do mundo.
Mas o encanto quebrou. O visual minimalista virou repetição, depois virou piada e agora virou cansaço. A experiência estética deixou de parecer respiro e virou template. E como sempre acontece quando uma estética chega ao limite, outra nasce do colapso. A nova febre é o chamado nostalgic tavern. Um clima que troca paredes limpas por madeira escura, cadeiras herdadas, luminárias que parecem saídas de um romance dos anos 70 e uma coleção de objetos que contam histórias. Ou pelo menos fingem que contam.
O eixo dessa virada está menos no design e mais na sensação. O público quer calor, memória, textura, estranhezas. E não mais lugares que parecem filhos de um mesmo render. É o tal vibe shift que críticos apontaram lá atrás, agora amplificado pela cabeça pós pandemia, pós política fatigada e pós algoritmo. Quando o mundo está ansioso, a casa da avó vira refúgio emocional.
A prova dessa mudança está nos hotspots recentes dos Estados Unidos.
• O Feathers Tavern, com clima de conto de fadas rural americano.
• O Kissa Corazón, em Los Angeles, que parece a sala de um tio excêntrico que coleciona luminárias misteriosas.
• O Ophelia’s Pizza Bar, em Nashville, quase forrado de quadros e pequenos tesouros.
• O Victorian, novo bar de April Bloomfield, onde o paisley e os móveis antigos reinam.
• E o queridinho da vez, segundo o Eater, o Pitt’s, em Red Hook.
É uma estética que não teme o excesso. O excesso virou charme. O designer Evan Collins chama essa guinada de movimento natural de escapismo em tempos turbulentos. Depois de anos de bom gosto padronizado, a cultura pede de volta o direito de ser estranha. O designer do Pitt’s vai ainda mais longe. Segundo ele, a monocultura estética nasceu do ritmo veloz das tendências e também de imagens geradas por IA que vivem eternamente na mesma paleta bege. A resposta é um grito por personalidade.
E não é só no ambiente. O cardápio também mudou. Aqueles nomes minimalistas do tipo cenoura ou beterraba perderam espaço. Voltaram as descrições longas, quase literárias, que falam da fazenda, do molho, da brasa, da textura, da intenção. O retorno da narrativa.
Nada disso significa que o minimalismo morreu para sempre. Ainda tem restaurante abrindo com paleta rosa suave e blob art por toda parte. É seguro, é comercial, é fácil. Mas a força cultural do momento está no nostalgic tavern. É um clima de memória inventada com cheiro de estante antiga e cara de casa vivida.
No fundo, estamos só lembrando algo que o minimalismo apagou. Restaurantes não são estúdios de foto. São organismos vivos. Lugares que acumulam histórias, ecos, imperfeições e afetos. E se não dá para voltar para a casa dos avós, tudo bem. Uma luminária Tiffany no canto e um relógio de gato na parede já fazem o truque.