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Quando se quer controlar tudo, nada se controla

Tenho que confessar que sinto uma necessidade de controlar todas as coisas e eventos ao meu redor, mantendo-me (e aos outros) em padrões muito altos. Sim, eu tenho muita dificuldade em delegar, e sei que muita gente aí sofre do mesmo problema, então que tal a gente falar sobre a pauta: “paradoxo do controle”? 

Para quem não sabe, “paradoxo do controle” refere-se à ideia de que, quanto mais tentamos exercer controle sobre determinados aspectos de nossa vida, menos controle sentimos que temos. É um conceito com raízes na psicologia e na filosofia e tem várias interpretações e aplicações em diferentes campos. 

A necessidade de controle passa por diversas áreas da minha vida, desde carreira, ao que as pessoas pensam de mim, como alguém vai se portar em alguma ocasião e por aí vai… o controle não é mandar e desmandar, mas é de algum jeito controlar o resultado de toda e qualquer situação. Além disso, também sou uma grande planejadora, justamente por isso – nada de viagem sem roteiro. Gosto de planejar, porque gosto de saber o que virá a seguir. E quando não posso saber, gosto de planejar para todas as possibilidades que minha mente possa conceber. E os “e se” me causam muita ansiedade.  

Já falei muito sobre isso nas minhas sessões de terapia ao longo da vida e confesso que melhorei bastante, afinal, tudo isso é muito desgastante, pois é como se eu estivesse tentando arquitetar o resultado de cada evento na minha vida – sem falar que as tentativas de controlar ou prever cada variável podem ser inúteis e exaustivas.

Fiz isso por muito tempo em diferentes circunstâncias e o louco é que, às vezes, me pego fazendo, mesmo sabendo que não podemos controlar ou garantir o resultado de uma determinada situação. Tanta coisa pode atrapalhar um plano, uma meta. Coisas como as pessoas e suas opiniões. Ou os concorrentes e os ventos contrários, mudanças macroeconômicas. Ou eventos inesperados e imprevisíveis, como pandemias e guerras globais, fora a simples sorte. A realidade é que muitos aspectos da vida estão para além do nosso controle. 

Recentemente, me tornei mãe e sempre soube que esse seria um dos papéis mais difíceis da minha vida, não só por tudo o que envolve (educar e ser responsável por alguém), mas justamente pelo meu lado ‘controladora-perfeccionista’ de ser. Afinal, sabemos muito bem que a maternidade é o oposto disso – ela anda de mão dada, de um lado com a imprevisibilidade e do outro com a imperfeição. Minha vida passou a ter tantas tarefas e o dia continuou com as mesmas 24 horas, que nunca foi tão necessário aceitar o paradoxo –  tenho que abrir mão de algum controle para justamente recuperá-lo. 

Controle tem a ver com segurança. 

Como seres humanos, nos sentimos mais seguros quando estamos no controle. É nisso que nosso cérebro está programado para acreditar e agir. Na verdade, quando não estamos no controle, nossos sistemas de sobrevivência mais profundos são acionados para trabalhar contra o que quer que esteja ameaçando nossa segurança. O cérebro e o corpo têm um sistema absurdamente robusto, projetado para nos proteger e nos ajudar a sobreviver a tudo o que enfrentamos. Uma parte importante dessa funcionalidade é que ambos aprendem o que é uma ameaça com base em nossa experiência de vida. Se você teve uma existência bastante segura, então seu sistema tem menos gatilhos do que se seu mundo foi repleto de perigos.

A satisfação de controlar 

Existe de fato uma relação paradoxal entre controle e satisfação. De acordo com Colin Horgan, a nossa busca pela conveniência – amplamente facilitada pela tecnologia – levou a um mundo em que frequentemente nos sentimos insatisfeitos, apesar de termos escolhido esse caminho. Isso é amplamente discutido no livro do sociólogo alemão Hartmut Rosa, “The Uncontrollability of the World”. Sua ideia central é que a força cultural motriz da sociedade moderna é a crença de que podemos tornar o mundo totalmente controlável. No entanto, Rosa argumenta que o verdadeiro envolvimento com o mundo e a sensação de estar realmente vivo ocorrem quando nos deparamos com o incontrolável. A tentativa de controlar tudo acaba nos alienando do mundo e nos deixando insatisfeitos. Como diz o sociólogo, ‘um mundo que é totalmente conhecido, no qual do foi planejado e dominado, seria um mundo morto.’ Interessante, né? 

Por fim, vale o alerta: nosso desejo excessivo de controle pode prejudicar nossa capacidade de entrar em sintonia com o mundo e encontrar significado e propósito. É importante aceitar a natureza incontrolável do universo e mudar nossa abordagem de orientada para o controle para uma baseada na ressonância e na transformação adaptativa. Fica a dica: há valor em encontrar um equilíbrio entre tomar ações responsáveis e aceitar a imprevisibilidade da vida.

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