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Quão verdadeiro é o ditado “as pessoas não mudam”

Quão verdadeiro é o ditado “as pessoas não mudam”? Sempre tive como resposta para essa pergunta o sonoro ‘não’ – penso que as pessoas são inerentemente estáticas em suas personalidades, comportamentos e crenças. Entretanto, tenho que admitir que a verdade dessa afirmação é complexa e depende de vários fatores.

Os psicólogos afirmam que a personalidade é composta por cinco traços: extroversão, ou o quanto você é sociável; conscientização, ou o quanto você é autodisciplinado e organizado; agradabilidade, ou o quanto você é caloroso e empático; abertura, ou o quanto você é receptivo a novas ideias e atividades; e neuroticismo, ou o quanto você é deprimido ou ansioso. As pessoas tendem a ser mais felizes e saudáveis quando obtêm pontuações mais altas nos quatro primeiros traços e mais baixa no neuroticismo. Falando um pouco sobre mim, sou bastante aberta e consciente, mas tenho um neuroticismo fora de série – sou muito ansiosa e já tive depressão. Não gostaria de mudar 100%, mas com certeza, melhorar certos aspectos da minha personalidade que são sim ditados por vícios de comportamentos. 

A genética, o ambiente e as experiências de vida influenciam o desenvolvimento da personalidade, desafiando a noção de traços fixos. Uma compreensão fluida da personalidade contrasta com teorias anteriores, como a tipologia de Carl Jung e o Myers-Briggs Type Indicator, que simplificam demais a personalidade humana.

Foi justamente pesquisando a ciência da personalidade, que me deparei com a ideia de que é possível moldar deliberadamente os cinco traços, até certo ponto, adotando determinados comportamentos. 

Segundo o papa em mudança de personalidade, Brent Roberts, psicólogo da Universidade de Illinois em Urbana-Champaign, a personalidade pode mudar de várias maneiras ao longo do tempo, desafiando a noção de que nossos traços são “fixos como gesso”, como disse o psicólogo William James, em 1887. Para ele, que divulgou várias pesquisas demonstrando esse fenômeno, existe uma “forte inclinação por parte de muitas pessoas para conceber a personalidade como algo imutável”. Isso simplifica o mundo de uma maneira bastante conveniente, pois elimina a necessidade de assumir responsabilidade por quem você é.

De acordo com ele, com esforço, é possível direcionar a personalidade para uma direção mais positiva e efetuar mudanças significativas em poucas semanas, ao adotar comportamentos alinhados com a pessoa desejada. Em uma metanálise realizada em 2017, que incluiu 207 estudos, Roberts e colegas descobriram que um mês de terapia poderia diminuir o neuroticismo em aproximadamente metade do que seria o declínio típico observado ao longo da vida de um indivíduo.

E por que queremos mudar os outros? 

É compreensível querer que os outros mudem. Todos nós já tivemos aquela pessoa em nossas vidas que sempre nos pegamos dizendo: “se ao menos ela…” Mês após mês, ano após ano – nós a amamos, nos preocupamos e nos importamos com ela, mas quando damos tchau ou desligamos o telefone, pensamos: “se ao menos ela…”. 

Isso possivelmente ocorre, porque queremos nos sentir seguros contra um mau comportamento. Queremos limitar as maneiras pelas quais as pessoas podem nos prejudicar. Queremos ter controle. Sem falar que é mais fácil colocar o fardo da mudança nos outros, mas temos que concordar com um fato: nós não podemos fazer uma pessoa mudar. Podemos inspirá-la a mudar, educá-la para a mudança, apoiá-la em sua mudança, mas não podemos fazer com que ela mude.

O fato é que, forçar alguém a agir de determinada maneira, mesmo que seja para o seu próprio bem, implica em coerção ou manipulação, o que invade os limites pessoais e pode prejudicar o relacionamento, às vezes mais do que ajudar. É dessa forma que as melhores tentativas de ajudar alguém geralmente saem pela culatra. Não é possível fazer com que alguém seja confiante, respeite a si mesmo ou assuma responsabilidades – porque os meios que você usa para fazer isso destroem a confiança, o respeito e a responsabilidade.

Dar um ultimato a alguém é forçá-lo a atender às nossas necessidades, quer ele seja capaz disso ou não. Talvez funcione no curto prazo, se a pessoa concordar por medo de, digamos, ser abandonada, mas ela ficará ressentida por ter sido pressionada a fazer algo que não queria. Portanto, não se pode importunar ou forçar alguém a mudar. Uma mudança genuína só ocorre quando a pessoa sente que é sua escolha, que ela a iniciou e está no controle. Caso contrário, a mudança perde sua eficácia.

Dito isso, ao meu ver, quando se trata de mudança pessoal iniciada por si próprio, atitudes podem, sim, ser modificadas. Comportamentos negativos podem ser desaprendidos, e hábitos prejudiciais podem ser melhorados, se as questões subjacentes forem abordadas. No entanto, em geral, a personalidade tende a permanecer relativamente estável ao longo da vida, especialmente em comparação com outras pessoas. Certas características às quais somos geneticamente predispostos, como problemas de saúde mental ou traços de personalidade fundamentais mencionados anteriormente, são provavelmente difíceis ou improváveis de serem alteradas. 

Por outro lado, acredito sim no que Brian Little, psicólogo expert em personalidade e autor de Who Are You, Really? diz: as pessoas podem ter “múltiplas personalidades” – podendo ser uma pessoa diferente em situações diversas. E com isso, propõe que as mesmas possam agir temporariamente fora de seu caráter, adotando “traços livres”, geralmente a serviço de um projeto pessoal ou profissional importante. 

Enfim, embora o ditado “as pessoas não mudam” possa refletir a observação de que alguns indivíduos apresentam consistência em seus comportamentos e características, acredito que ele ignora a complexidade da natureza humana e a capacidade de crescimento, adaptação e transformação. As pessoas podem melhorar e até mudar certos aspectos, mas a extensão e a natureza dessa mudança variam muito entre os indivíduos e dependem de uma infinidade de fatores.

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