Falei anteriormente sobre as “casas burras” e, hoje, trago o conceito de “dumbphones”, em alta, especialmente entre a Geração Z, incluindo nomes e links de apps, artigos e empresas que ilustram bem essa tendência.
O termo “dumbphone” refere-se a telefones simples, sem os recursos dos smartphones, e está se tornando popular devido às crescentes preocupações com o tempo excessivo de tela, ansiedade e privacidade de dados. Fiquei surpresa ao encontrar uma página no site da Nokia dedicada a esses produtos, com frases como “feito com simplicidade em mente” e “perfeitos para desintoxicação digital quando você precisa de um pouco de descanso”.
Inspirados nos anos 90, eles não oferecem acesso ao turbilhão de aplicativos que contribuem para o alto tempo de tela – apenas mensagens de texto e chamadas, se preferir. No início deste mês, a New Yorker chamou a popularidade dos dumbphones de “indústria caseira em expansão”. Segundo o artigo, outro fator que impulsiona o crescente interesse nos dumbphones é a preocupação com a segurança online das crianças. Os pais estão cada vez mais confrontados com evidências de que plataformas como Instagram e TikTok estão ativamente tentando atrair seus filhos, sem falar nas preocupações com o impacto negativo desses aplicativos na ansiedade e autoestima dos adolescentes. Isso ecoa os argumentos de Jonathan Haidt em seu novo e já tão falado livro, que propõe nada de smartphones para crianças antes do ensino médio.
Essa tendência também se estende aos adultos, que após quase duas décadas utilizando iPhones, estão experimentando um certo cansaço com a vida digital. Muitas horas são dedicadas diariamente às nossas telas brilhantes, porém a experiência online nem sempre é gratificante. O problema é que nos falta o autocontrole para nos desconectarmos voluntariamente, o que nos leva a buscar dispositivos que nos ajudem ativamente a evitar o excesso de uso. Essa busca por uma alternativa implica em optar por abandonar a tecnologia predominante e adotar um “minimalismo digital” mais reflexivo, como proposto por Cal Newport, colaborador da The New Yorker.
Nos Estados Unidos, a DumbWireless, estabelecida em 2022, oferece uma variedade de telefones que vão desde US$ 50 até mais de US$ 300 – provenientes de empresas como Light, Punkt e Nokia – acompanhados por planos de serviço da T-Mobile, que oferecem várias opções de dados. O casal Will Stults e Daisy Krigbaum, residentes em Los Angeles, criaram a plataforma após enfrentarem dificuldades para se desconectar do mundo digital. Em termos numéricos, a DumbWireless registrou vendas de aproximadamente US$ 68.000 em telefones no último mês, um aumento significativo em relação aos US$ 5.000 de março de 2023. Já a Nokia testemunhou um aumento de vendas de seus telefones flip em 2023, dobrando em comparação com 2022, conforme relatado pelo Yahoo News.
Os influenciadores e as marcas também estão envolvidos, com os criadores de conteúdo do YouTube compartilhando suas experiências e recomendações. Já a Heineken lançou recentemente, em estoque limitado, o The Boring Phone, juntamente com a marca de roupas Bodega. Sem aplicativos, o telefone solicita aos usuários que iniciem conversas.
O Light Phone, lançado em 2017, oferece uma alternativa minimalista aos smartphones. Sua segunda versão, lançada em 2019, inclui recursos básicos, como chamadas, mensagens de texto e aplicativos selecionados, como alarme, calendário e bibliotecas de música – excluindo deliberadamente aplicativos de mídia social e streaming. Os cofundadores, Tang e Hollier, pretendem oferecer utilidade sem contribuir para a economia da atenção. Assim como a DumbWireless, a Light Phone teve um aumento na demanda, com a receita dobrando de 2022 a 2023 e projetada para dobrar novamente em 2024.
Impulsionado por preocupações sobre os efeitos negativos dos smartphones, o Light Phone está sendo procurado por instituições educacionais, com parcerias já em vigor e discussões em andamento com várias outras escolas. Essas iniciativas têm demonstrado efeitos positivos na produtividade e vida social dos alunos.
Para a Geração Z, a tecnologia digital é uma característica onipresente em suas vidas. No entanto, ao contrário das gerações anteriores, eles demonstram uma maior capacidade ou motivação para lidar com os impactos negativos associados – fato esse exemplificado pelo redescobrimento das tecnologias do passado (ou até mesmo de antes de nascerem), como telefones fixos com fio, que segundo eles, oferecem uma conexão mais autêntica, e mostrando interesse por formatos como CDs, vinis e fotografia analógica, anteriores à era do iPhone.
Apesar da dependência de smartphones ter diminuído um pouco entre a Geração Z e a Geração Y nos últimos anos, a maioria ainda depende de telas. Em 2018, 28% dos entrevistados de 18 a 29 anos disseram que dependiam de smartphones. Em 2023, isso caiu para 20%, de acordo com uma pesquisa da Pew Research de 2023. A abordagem limitada dos “dumbphones” pode ajudar a reduzir o tempo de tela e promover um maior engajamento com o mundo ao nosso redor, além de potencialmente reduzir problemas como depressão e solidão associados ao uso excessivo de smartphones.
Recentemente, a Apple abriu o acesso à função Screen Time do iPhone para desenvolvedores terceirizados, possibilitando a criação de programas que ajudam os usuários a limitar seu tempo de tela bloqueando aplicativos. Dois jovens engenheiros, T.J. Driver e Zach Nasgowitz, aproveitaram essa oportunidade para introduzir o Brick, um acessório para iPhone lançado em setembro de 2023. O Brick é um cubo de plástico magnetizado que, junto com um aplicativo correspondente, permite selecionar e bloquear os recursos desejados no smartphone. O dispositivo começou a ser produzido em uma impressora 3D e, atualmente, a equipe possui quinze máquinas operando 24 horas por dia, enviando centenas de produtos diariamente.
Eu confesso que não conseguiria me desligar assim todos os dias, muito por causa do meu trabalho, mas amaria testar aos finais de semana ou, pelo menos, uma vez por semana. Afinal, essas tendências refletem não apenas uma preocupação com a saúde mental e o bem-estar, mas também uma aspiração por uma vida mais autêntica e significativa, onde as conexões humanas e experiências do mundo real são priorizadas. À medida que continuamos a explorar essas alternativas, é evidente que estamos redefinindo nossa relação com a tecnologia e tentando abrir caminho para um futuro mais consciente e equilibrado.