Vamos falar sobre o universo dos snacks e talvez você esteja se perguntando: por quê? Bem, não sei se está familiarizado com o tópico e a realidade que nos cerca, mas dados recentes mostram que 95% dos adultos americanos consomem snacks diariamente, com mais da metade relatando o consumo de pelo menos três snacks por dia. Além disso, seis em cada dez consumidores preferem snacks às refeições tradicionais. Entendeu por que quero trazer esse cenário para você?
Na década de 2000, os lanches ultrapassaram as refeições e as empresas capitalizaram essa tendência, criando produtos projetados para serem irresistíveis e hiper palatáveis. O boom dos snacks continua, impulsionado pela demanda do consumidor por conveniência e novidade, amplificada pela mídia social. O resultado é uma cultura em que os snacks são constantes, estão entrelaçados com a vida moderna e dificilmente desaparecerão.
Para contextualizar, historicamente, a sociedade americana organizava-se em torno de três refeições principais. Na década de 80, o dia de trabalho, o cardápio e o relógio social americanos eram orientados pelas refeições. Beliscar entre as refeições era visto com o mesmo desdém que colocar os cotovelos na mesa. Os pais advertiam: “vai estragar seu apetite!”. Se fosse criança, lanchar causava cáries e prejudicava o apetite; se fosse adulto, era um tanto indecoroso.
No entanto, uma convergência de fatores sociais, econômicos e culturais desencadeou uma verdadeira revolução. As mulheres marchavam para o mercado de trabalho, deixando para trás a imagem da dona de casa sempre à disposição para preparar refeições elaboradas. As crianças, agora com chaves de casa penduradas no pescoço, precisavam se virar com o que encontravam na despensa. E o que encontravam? Um paraíso de opções pré-embaladas, coloridas e irresistivelmente saborosas.
A indústria alimentícia, com seu faro aguçado para oportunidades, não perdeu tempo. De repente, as prateleiras dos supermercados se tornaram um caleidoscópio de embalagens chamativas, cada uma prometendo uma experiência gustativa mais emocionante que a outra. A proliferação de novos produtos passou de 250 novos itens por ano nos anos 1960-70 para 2.000 no final dos anos 1980. A revolução dos snacks invadiu a América, transformando para sempre nossa relação com a comida. Os cereais não eram mais apenas para o café da manhã – agora eram snacks para qualquer hora. As barras de energia, antes território exclusivo de atletas, agora eram o combustível de escolha para executivos apressados.
E assim, sem percebermos, o snacking se infiltrou em cada canto de nossas vidas. Nos anos 2000, documentários como “Super Size Me” e “Food, Inc.” trouxeram uma conscientização e preocupação com a dieta que se espalhou como um incêndio. Os Millennials deram início a uma mania de alimentos saudáveis com modismos como avocado toast e granola bowls. A tendência ganhou força com a Geração Z.
Em uma pesquisa recente da YouGov para a Whole Foods, 70% dos entrevistados da Geração Z indicaram que estavam dispostos a pagar mais por alimentos de alta qualidade. Como as opções orgânicas e à base de vegetais costumam ser mais caras, não é de surpreender que a conta de supermercado da Geração Z esteja alta. Trazendo ainda mais dados para vocês, o CreditKarma disse que, em uma pesquisa realizada em maio, mais de um quarto dos entrevistados que disseram ter notado que os preços dos alimentos estavam subindo também disseram que haviam pulado refeições para economizar dinheiro.
Mas a verdadeira revolução não está apenas na onipresença dos snacks, mas na forma como eles se tornaram parte de nossa identidade cultural. Está claro que os snacks não são apenas uma categoria de alimentos, mas um reflexo das mudanças na sociedade – nos ritmos de vida, nas prioridades e na própria relação com a comida.
Eles se tornaram mais do que apenas comida – são acessórios de moda, tópicos de conversação, símbolos de status. Em um mundo onde comprar uma casa parece cada vez mais um sonho distante, exibir uma lata de água Liquid Death ou uma garrafa de kombucha artesanal se tornou a nova forma de ostentação acessível. Afinal, você é o que você come – ou melhor, o que você “snack”.
Andrea Hernández, autora da newsletter Snaxshot, chama isso de novo “efeito lipstick” – uma teoria econômica que diz que os consumidores gastam dinheiro em luxos mais acessíveis, como batom, durante as recessões econômicas. “É uma forma de afluência econômica. Agora estamos entrando nesse fenômeno da comida não como uma necessidade básica, mas como uma experiência de luxo“, disse ela.
Essas bebidas não são apenas água, mas sim uma forma de expressar identidade e valores. Um consumidor de Liquid Death – avaliada pela última vez em US$ 1,4 bilhão, o dobro de sua avaliação de US$ 700 milhões em 2022 – pode ser um jovem frequentador de festivais ou uma pessoa de 30 e poucos anos que ficou sóbria recentemente.
Isso tudo pode ser perfeitamente exemplificado por influenciadores como Jade Lily, uma TikToker de 26 anos, que recentemente viralizou ao exibir suas compras de US$ 500 na Erewhon, uma rede de supermercados premium em Los Angeles. Seu carrinho, repleto de suplementos endossados por celebridades, frutas exóticas embaladas e bebidas como kombucha e Olipop, não é apenas uma lista de compras – é um manifesto de identidade.
A Erewhon, com seus smoothies de US$ 19 criados em parceria com celebridades como Kourtney Kardashian e Katy Perry, tornou-se o epicentro desse movimento. Ao colaborar com ícones como Hailey Bieber e Bella Hadid para criar bebidas exclusivas, a rede não apenas vende produtos, mas oferece uma experiência de luxo acessível. Esta estratégia tem sido incrivelmente bem-sucedida, uma vez que eles registraram lucros estimados em US$ 171 milhões no último ano e uma receita quatro vezes maior que a de supermercados convencionais. No entanto, a rede não está sozinha, outros exemplos notáveis incluem:
- Foxtrot Market: Uma mistura de loja de conveniência, café e mercado gourmet, ganhou popularidade em cidades como Chicago e Washington D.C. Seu modelo de negócios combina uma seleção cuidadosa de produtos locais e artesanais com uma forte presença digital.
- Pop Up Grocer: Um conceito inovador que combina varejo temporário com curadoria meticulosa de produtos. A Pop Up Grocer viaja por diferentes cidades, oferecendo uma seleção rotativa de snacks e alimentos de marcas emergentes e tendências.
- Whole Foods Market: Embora não seja novo, o Whole Foods continua sendo um destino popular para a Geração Z em busca de opções orgânicas e naturais.
- The Goods Mart: Autodenominada como a “7-Eleven saudável”, esta loja em Los Angeles oferece snacks e bebidas cuidadosamente selecionados, focando em opções sustentáveis e socialmente conscientes.
É…Surpreendentemente, em plena inflação, os jovens priorizam alimentos caros. A McKinsey revela: mantimentos são o principal gasto planejado da Geração Z e Millennials, superando até restaurantes e viagens. Alguns jovens assumem múltiplos empregos para frequentar a Erewhon diariamente e o Bank of America confirma: clientes da Geração Z gastam mais em supermercados premium que outras gerações.
Portanto, este fenômeno vai além do simples consumo; representa uma mudança fundamental na forma como a Geração Z vê a alimentação. Para eles, navegar pelas prateleiras de um supermercado premium não é apenas fazer compras – é uma declaração de estilo de vida, uma afirmação de consciência sobre saúde e sustentabilidade. Cada produto escolhido, cada smoothie de US$ 19 endossado por uma celebridade, é uma forma de comunicar valores e aspirações.
Todo esse processo é endossado pelas redes sociais que desempenham um papel crucial nisso tudo! Elas se tornaram vitrines virtuais para essas tendências, com influenciadores e contas dedicadas moldando as preferências de consumo. Algumas contas notáveis para você bisbilhotar: @popup.grocer; @erehwonmarket; @snaxshot; @newfoodspotting; @trytasty.
No fim das contas, a revolução dos snacks é um reflexo de nossas vidas cada vez mais aceleradas, de nossa busca por prazer instantâneo e de nossa necessidade de expressar individualidade através de escolhas de consumo. É a democratização do prazer culinário, a libertação das amarras do relógio de refeições que nos desafia a repensar não apenas o que comemos, mas como, quando e por quê o fazemos.