Segundo o relatório de tendências Inclusion’s Next Wave da Wunderman Thompson, 64% dos homens entrevistados no Brasil, na China, no Japão, no Reino Unido e nos EUA concordam que a sociedade sempre estereotipa os homens. E isso nos mostra como reimaginar a masculinidade é uma conversa importante e contínua numa sociedade que vem buscando, aos poucos, redefinir as noções tradicionais do que significa ser homem.
Até recentemente, e ainda hoje, em muitas partes do mundo, os homens eram criados para serem protetores: lutadores e provedores econômicos. Os homens deveriam receber apoio emocional, enquanto as mulheres deveriam receber apoio econômico e “proteção”. Já na década de 70, enormes mudanças entre homens e mulheres tiveram início, culminando na expansão das noções de gênero de hoje.
Infelizmente, muitos homens ainda acreditam que devem evitar pedir ajuda e que não devem falar sobre seus medos, tristezas ou isolamento emocional. Os homens jovens estão lutando para se adaptar às mudanças nas ideias sobre masculinidade. O feminismo tem um objetivo declarado. Os homens, por outro lado, não têm um objetivo ou uma meta, ao que tudo indica.
O lado bom da história é que, mesmo que lentamente, as narrativas culturais estão se tornando mais diversificadas, oferecendo uma paleta mais ampla de representação para os homens, mostrando que reimaginar a masculinidade não significa diminuir ou apagar os aspectos tradicionais de ser homem, mas expandir a definição para abranger um conjunto mais diversificado e inclusivo de qualidades e comportamentos.
Quem viu o filme da Barbie se deparou com um Ken ocupando o segundo lugar no quesito ‘importância’, mas que depois de uma jornada de autodescoberta, acaba por jogar fora suas aspirações de macho alfa, concluindo que ele é “Kenough”.
Outros exemplos de narrativas como essa, podem ser vistas na publicidade. A Dove Men+Care, no mercado indiano, produziu um filme para o Dia dos Pais que desafia os estereótipos sociais de masculinidade e redefine o que significa ser pai no mundo de hoje, enfatizando a importância da expressão emocional e do carinho. Já a Glenlivet USA realizou um experimento social registrado em vídeo, no qual pais reais e seus filhos leram em voz alta um roteiro repleto de estereótipos escrito por IA. A campanha “O que significa ser pai hoje?” pede que todos celebrem os pais pelo que eles realmente são, contemplando todas as suas vulnerabilidades.
A moda também está oferecendo alternativas aos arquétipos duros das passarelas, com embaixadores como Timothée Chalamet (Bleu de Chanel) e Harry Styles (Gucci) propondo uma interpretação mais suave e fluida da masculinidade.
Tudo isso faz parte de um movimento que visa reenquadrar a masculinidade e a feminilidade como construções sociais em vez de imperativos genéticos. Homens, ao ver a masculinidade como uma construção social, tornam-se mais abertos a aceitar como essa construção não os serve. Hoje, para um homem ‘ser’ é necessário a liberdade de personalizar sua identidade de gênero e não ser forçado a usar o que está na prateleira.
Para se aprofundar ainda mais:
- O documentário The Mask You Live In (2015) se destaca por sua compaixão, contexto e histórias comoventes em primeira pessoa. Ele explora a definição restrita de masculinidade nos Estados Unidos e os danos que ela causa a meninos e homens.
- Esta Matéria da CNN de abril de 2021 com Christiane Amanpour, que examina as crises de saúde pública negligenciadas as quais afetam os homens, especialmente, a depressão não tratada, o isolamento emocional e o suicídio.
- O artigo do The Guardian, ‘We are all vulnerable: that’s where a new conversation about masculinity begins’ – super interessante também trazendo diferentes perspectivas.
- O livro ‘Os meninos são a cura do machismo’, de Nana Queiroz – ideal para as mães de meninos.