Lá vem eu e minhas reflexões…muitas vezes saio de um encontro em que eu prometi não me abrir muito, não falar sobre detalhes complexos da minha vida pessoal, justamente com a sensação de que fiz o oposto -que me abri demais, falei mais do que devia, me sentindo completamente exposta. Eu achava que esse problema de ‘oversharing’ era algo meu, que essa sensação é comum em alguém que é transparente e que gosta de compartilhar. Só que esses dias me deparei com um artigo do New York Times que diz que o ato de ‘falar demais e expor os pensamentos‘ sem controle, tem nome e acontece por uma razão. O texto fala muito no contexto de ‘dates’, mas a verdade é que esse comportamento se aplica a muito mais. Por isso, achei interessante e cá estou eu, refletindo e dividindo com vocês, para caso você que assim como eu sofre disso, aprenda e tente entender mais a respeito.
O artigo traz o termo ‘ego-depletion’ (esgotamento do ego), que costuma ocorrer em situações de stress ‘quando você gasta seus recursos mentais gerenciando um comportamento, o que o deixa com menos força de vontade para monitorar comportamentos subsequentes’. De acordo com o psicólogo Phoenix Jackson, ‘quando não estamos estressados, é mais fácil controlar nossos impulsos e controlar nossas emoções. No entanto, quando seu cérebro trabalha horas extras lidando com a tensão emocional, você pode acabar dizendo mais sobre si mesmo.’
Do jeito que andamos cansados, muitas vezes, filtrar é difícil. Para a psicóloga Carolyn Cole, dizer ‘mais do que se deve é considerado um ato inconsciente‘ e compartilhar demais é como beber demais: você não reconhece que é o único a fazer isso até que seja tarde demais.
Os motivos que levam as pessoas a compartilhar demais, variam. Pode ser porque elas se sentem sozinhas e querem se conectar como pode, devido a tendências narcisistas ou ainda porque querem pertencer e sentem que tem algo a provar – ‘muitos compartilhadores presumem que seu principal valor é agradar aos outros com suas histórias e piadas’, diz Heather Havrilesky, uma autora, ensaísta e humorista americana que escreve a coluna de conselhos ‘Ask Polly’ para a revista New York.
Sabemos que isso pode acontecer tanto no mundo online quanto offline. O medo de perder (FOMO – Fear Of Missing Out) nos leva a um mundo de atualizações de status, eventos, uma foto ou um check-in. Se você costuma ver fotos das férias de seus amigos ou aventuras emocionantes, pode ser tentador compartilhar seus destaques para parecer interessante ou para superar seus colegas. Coisas antes rotineiras passaram a ser compartilhadas nas redes sociais, afinal, as próprias plataformas (Facebook/Twitter, por exemplo), fazem perguntas como “o que está acontecendo?” ou “o que está em sua mente?”. Porém oversharing não é exclusivamente domínio dos nativos digitais, já que um estudo realizado por pesquisadores da Universidade de Edimburgo e da Universidade Northwestern, em Illinois, descobriu que o risco de compartilhar demais na conversa – ou fornecer ao ouvinte muitos detalhes irrelevantes – costuma aumentar com a idade.
Por outro lado, o compartilhamento excessivo não precisa ser negativo. Se eu sinto que a pessoa com quem converso se sente angustiada com algo, costumo me abrir para ela sobre algo semelhante que experienciei e como lidei com isso naquele momento. Às vezes, vale a pena deixar alguém saber algo um pouco desconfortável sobre você, se isso pode fazer com que a pessoa se sinta melhor sobre si própria. O oversharing pode ajudar as pessoas a fazerem conexões, sentirem uma maior sensação de autenticidade e estabelecerem uma comunidade digital que é importante para elas