você coleciona algo?

Ei, você coleciona algo?

O tema de hoje é daqueles bem curiosos e acho que pouco abordados: os colecionadores. Não estou falando daquelas pessoas acumuladoras, e sim daquelas que zelam por uma coleção. O que motivou a iniciar a coleção? Qual é o tipo de satisfação que colecionar dá? Existem histórias de pessoas que viajam o mundo atrás de itens para sua coleção, mas qual o impacto disso tudo na vida de um colecionador? Vem comigo!

Se você já colecionou algo ou conhece alguém que coleciona, sabe que coleções são mais do que simples aglomerações de itens. Elas são depósitos de história e de emoções, excedendo muitas vezes seu valor financeiro. Um verdadeiro colecionador requer uma conexão emocional, e muitas vezes tempo e dinheiro mas, para a grande maioria, ambos não significam nada quando comparados com o prazer que sentem ao possuir tais objetos.

Mas, o que motiva alguém a colecionar? 

Os psicólogos freudianos acreditam que colecionar é uma forma de impor ordem ao mundo. Olhando por essa lente, uma possível explicação é que crianças que não são amadas aprendem a buscar conforto no acúmulo de pertences; outra é que o colecionismo é motivado por ansiedades existenciais – a coleção, uma extensão de nossa identidade, continua viva, mesmo que nós não continuemos. E por fim, mais recentemente, os teóricos da evolução sugeriram que a coleção era uma forma de um homem atrair possíveis parceiras, sinalizando sua capacidade de acumular recursos. Além disso, há também um fenômeno conhecido como efeito dotação, que descreve nossa tendência de valorizar mais as coisas quando as possuímos. Outro é o conceito de contágio – alguns colecionadores são atraídos por pertences de celebridades, porque esses objetos são vistos como infundidos com a essência da pessoa que os possuiu. 

Colecionar é estar em movimento. O colecionador não é motivado pela coleção, mas pelo que está faltando nela, pelo objeto. É a perseguição em si e, principalmente, as lembranças

ligadas à busca – todos os colecionadores sabem exatamente onde e como conseguiram determinada coisa – que impulsiona e define os colecionadores. Portanto, a satisfação que o colecionar tem, não se trata do que ele coleciona. Trata-se do próprio processo de colecionar, é como se os objetos adquiridos fossem uma forma de dano colateral, que é meramente um subproduto do desejo de colecionar. Muitos colecionadores têm muito mais do que pode ser exibido. A coleção geralmente é armazenada em armários e caixas e, nesses casos, o valor está na ideia de possuir coisas. 

Um pouco de história…

As pessoas sempre fizeram coleções. Algumas das culturas mais antigas eram chamadas de caçadores-coletores (hunter-gatheres). No entanto, aqui o que era colecionado era definido em termos de valor de uso. Na era da soberania, a coleção se tornou um símbolo de consumo, como é o caso do potlatch, um ritual religioso no qual as tribos competiam para dar o maior número possível de presentes e destruir seus pertences. Quanto mais longe alguém estivesse disposto a ir, maior seria o status. Na sociedade industrial de massa, as coleções não são mais privilégio da elite, mas começam a se assemelharem umas às outras.  Enquanto o que era colecionado antes estava, via de regra, relacionado ao inútil e ao supérfluo, os objetos de coleção na era industrial geralmente não têm valor em si mesmos (como selos usados, cartões postais, borrachas, canetas…). Já hoje, as pessoas colecionam para se individualizar. Concomitantemente, o que é coletado não são mais itens padrão, mas, idealmente, algo exclusivo. 

Enfim, colecionar pode fazer uma pessoa mais feliz, pode ajudar ela a se conectar com outras pessoas que compartilham o mesmo interesse. Além disso, uma coleção pode proporcionar aprendizado uma vez que a pessoa pode estudar história, características, variações e curiosidades relacionadas, além claro, da conexão pessoal. Portanto, apesar de ser algo subjetivo, podendo variar de pessoa para pessoa, colecionar algo que realmente desperte sua paixão e traga felicidade ao longo do processo é algo que pode valer a pena.

Para se aprofundar mais:
Podcast NYT ‘Why We Collect?’

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