Acho que já falei aqui, mas sou hipocondríaca. A cada ano venho tentando melhorar e me policiar para não cair na cilada da minha cabeça que vai longe quando o assunto é me autodiagnosticar, automedicar etc… Um pequeno problema pode se transformar, em questão de segundos, em um grande drama em minha imaginação. O fato de, durante a gravidez, não ter podido ingerir praticamente nada, me ajudou a enxergar que, muitas vezes, eu exagerava. Antes, se tinha uma dor, já ia logo tomando remédio – hoje em dia, espero e avalio qual a real necessidade de me medicar. Enfim, tudo isso para introduzir o tema de hoje, que tanto me atrai.
Já refletiu sobre como os serviços de saúde de ultra diagnóstico, que proporcionam assistência médica avançada, personalizada e preventiva, podem ser particularmente atraentes para nós, em geral, e especialmente para hipocondríacos? Essas pessoas, constantemente preocupadas com doenças e suas consequências, encontram nessa tendência uma solução sob medida. A realidade é que estamos perto de poder prever nossa saúde futura a partir do DNA.
Perguntas difíceis como: ‘você gostaria de saber hoje que corre um alto risco de contrair uma doença, cujo início pode ocorrer daqui a três décadas? E se o teste genético der positivo para uma doença terminal que não tem cura, o que você faria?’ começam a ter que ser discutidas, uma vez que adentramos nessa nova era da medicina genômica.
Com o objetivo de oferecer cuidados de saúde avançados, personalizados e preventivos, a ideia é integrar a saúde e o bem-estar dos pacientes ao dia a dia. Diferente do tradicional, o foco não é na pessoa doente, mas sim, na análise prévia do indivíduo, identificando riscos e oportunidades.
Tal prática abrange uma compreensão da predisposição genética do indivíduo para doenças e fatores de risco, utilizando ciência de ponta – incluindo imagens (de tecnologia avançada) de ressonância magnética e ultrassom, testes genéticos e monitoramento contínuo de glicose, para fornecer avaliações abrangentes da saúde. Essas avaliações englobam vários aspectos, inclusive condicionamento físico, nutrição, saúde musculoesquelética, cognição e estado psicológico.
Essa matéria do FT destaca duas clínicas: Chi em Singapura e Hooke em Londres, que se autodenominam como os serviços mais abrangentes de diagnóstico, triagem e gerenciamento de saúde globalmente. Ambas contam com equipes médicas multidisciplinares para atender a indivíduos que buscam prevenir doenças, envelhecimento e comprometimento cognitivo, utilizando ciência moderna para fornecer informações detalhadas sobre a saúde, incluindo predisposições genéticas. A promessa é que, com esses resultados, os clientes possam influenciar positivamente o curso de suas saúdes.
O processo de teste, geralmente, é realizado ao longo de vários dias ou requer múltiplas visitas. Os resultados gerados por sistemas de IA são analisados por equipes médicas. A opção de assinar como “membership”, após o teste, proporciona suporte contínuo, permitindo acesso a médicos por seis meses, seguido por uma nova bateria de testes. Essa avaliação abrangente pode ser repetida anualmente com uma “membership” contínua.
Quanto aos preços: na Hooke, um programa completo começa em £ 15.000, enquanto na Chi, o custo é de US$ 15.000. A Hooke ainda oferece uma versão mais ‘curta’ do pacote, por £ 7.500. A entrada básica no “Estágio 1” da Chi custa US$ 3.250, e os diagnósticos e acompanhamento podem ser escolhidos a partir de uma lista mais extensa. Em paralelo, o fundador do Cleveland Clinic Center for Functional Medicine, autor de Young Forever e sexagenário (idade biológica: 43 anos) – criou recentemente o Function Health, uma assinatura on-line com testes de 100 biomarcadores sanguíneos – uma espécie de versão básica do que Hooke e Chi fazem, com preços a partir de US$ 499 por ano.
E quem são os clientes que estão aderindo a esses serviços? Muitos deles não estão sequer próximos de serem considerados “idosos”; na verdade, muitos estão na faixa dos 40 anos. Esses diagnósticos altamente avançados estão se consolidando como um setor significativo e passando a virar ‘mainstream’ para os afortunados.
Fato é: atualmente, temos um acesso sem precedentes às informações, e nossas informações genéticas logo serão adicionadas às bibliotecas globais de informações digitais às quais temos acesso quase instantâneo; neste caminho, o uso de índices de risco genético logo se tornará comum em nossas vidas. Como sociedade, precisamos entender o que esse conhecimento genético significa e o que não significa, e nos sentirmos confortáveis com a incerteza prognóstica inerente a esses pontos de risco genético.
E aí, você gostaria de saber mais sobre a sua saúde a ponto de até antecipar o destino dela?
Para se aprofundar mais:
- O livro Young Forever
- Essa matéria da TIME sobre Bryan Johnson, o homem que acha que pode viver para sempre
- O documentário Live to 100: Secrets of the Blue Zones