EYN - Pra se aprofundar 2025

2025 em retrospectiva: o que realmente importou (e por quê)

Olhar para trás, em 2025, é perceber que a Eat Your Nuts não falou de assuntos isolados. Falou de tensões. Entre controle e entrega, performance e intimidade, tecnologia e desejo de contato real. O ano foi menos sobre tendências passageiras e mais sobre o que está mudando por baixo da superfície.

Um dos fios mais claros foi a forma como lidamos com o corpo, o tempo e a vitalidade. Ao investigar a obsessão contemporânea pela longevidade e pelo bem-estar, ficou evidente que viver melhor deixou de ser apenas um desejo legítimo e passou a operar como novo marcador de status. Saúde, descanso, equilíbrio e autocuidado entraram na lógica do luxo — sofisticados, desejáveis, mas também excludentes. Nesse cenário, bem-estar deixou de ser apenas cuidado e passou a carregar expectativa, performance e comparação.

Essa pressão se conecta diretamente a outra ideia que atravessou o ano: a tirania da excepcionalidade. A noção de que não basta viver,  é preciso viver de forma extraordinária, consciente, otimizada, inspiradora. O resultado é um esgotamento difuso, em que até escolhas íntimas parecem precisar de validação estética ou moral. Envelhecer, que sempre foi universal e misterioso, virou quase um problema técnico a ser resolvido. Em vez de vitalidade, começamos a trocar presença por controle.

Essa lógica da performance extrapolou o corpo e contaminou a vida social. Falamos de rótulos performáticos, da necessidade constante de se definir, de se explicar, de parecer coerente o tempo todo, e do cansaço coletivo que isso produz. Não por acaso, temas como largar o controle, evitar maus conselhos ou aceitar o caos dos 30 apareceram como pequenas insurgências contra uma cultura que exige clareza permanente.

Em paralelo, vimos crescer um desejo quase visceral por refúgio emocional. A estética da casa da avó, o retorno do telefone com fio, o prestígio do invisível, dos third spaces e até do anonimato nas redes sociais apontam para a mesma direção: menos palco, mais abrigo. Em um mundo onde tudo é performance, desaparecer virou upgrade. O silêncio, o offline e a intimidade ganharam novo valor simbólico.

As mídias sociais, aliás, atravessaram um ponto de inflexão. Questionamos seu futuro, mas também observamos como elas transformaram nossa relação com acontecimentos extremos. Tragédias passaram a ser consumidas em tempo real, mediadas por timelines que pedem reação imediata, opinião, engajamento. A empatia ganhou forma de performance; a indignação, de conteúdo. Isso nos obrigou a perguntar: o que acontece quando até o sofrimento vira parte do fluxo? Que tipo de atenção estamos oferecendo, e a quem?

A tecnologia esteve presente o tempo todo, mas nunca como fetiche neutro. Investigamos a chegada dos robôs humanoides domésticos, a possibilidade de estrelas gastronômicas criadas por prompts, o risco real de desaprendermos a escrever e até novas fronteiras do entretenimento adulto. Em todos esses temas, a pergunta era a mesma: o que estamos terceirizando, e a que custo?

Ao mesmo tempo, emergiu um forte debate sobre símbolos, desejo e consumo. Do cheiro de sobremesa virando assinatura olfativa à moda investindo em reciclagem em escala, passando pela guerra simbólica entre luxo, China e TikTok, ficou claro que o consumo não é mais só funcional, ele comunica pertencimento, valores e até crenças. Não à toa, falamos de fé migrando para novos formatos, de espiritualidade fora das instituições e até de Einstein como um espiritualista acidental.

As relações também mudaram de tom. Exploramos o divórcio da geração Z, o retorno do “felizes para sempre”, o fim do gentle parenting e as novas formas de lidar com infância, autoridade e afeto. Tudo isso sob o pano de fundo de uma sociedade que parece menos segura das próprias respostas, e mais aberta a revisitar acordos antigos.

Por fim, 2025 foi um ano profundamente sensorial. Da mesa dos kidults às meias japonesas tratadas como objeto cultural sério, passando pelos luxury memoirs e pela ficção científica como ferramenta essencial para imaginar futuros possíveis, a sensação dominante foi clara: precisamos sentir para entender. Pensar não basta mais. É preciso tocar, cheirar, ouvir, experimentar.

Essa retrospectiva não encerra nada. Ela organiza pistas. Porque, se algo ficou evidente ao longo do ano, é que o extraordinário não está em prever o futuro, mas em ler o presente com atenção radical, sem transformar tudo em performance.

Obrigada por atravessar 2025 com a Eat Your Nuts.  Seguimos olhando de perto.

Direitos reservados Eat Your Nuts