Hoje eu quero falar sobre a cultura da comparação e as redes sociais – afinal, todos nós já ficamos percorrendo as mídias sociais, comparando nossas vidas com o feed de um estranho enquanto o sono não vinha. Eu já abordei dois assuntos relacionados ao tema e que valem a leitura (autenticidade e a constante necessidade da aprovação alheia), acontece que eu acho que o ato da comparação merece destaque, pois vamos concordar que com as redes sociais aí e o mundo mais competitivo do que nunca, raramente o que impacta a nossa felicidade é a análise que fazemos do que temos, mas sim, o que temos em comparação com os outros ao nosso redor – o que é péssimo.
Se você for como eu, provavelmente se pegará frequentemente caindo na armadilha sempre atraente, embora emocionalmente perigosa, de se comparar com os outros. É impossível negar que toda aquela história de ‘a grama do vizinho é sempre mais verde…’, vira e mexe acontece, porém nos tempos das nossas avós olhava-se para o jardim ao lado, enquanto hoje, a gente pode escolher corpos, viagens, currículos, dietas, guarda-roupas entre outras coisas, ao redor do mundo. Pior, hoje enfrentamos um agravante, as mídias sociais que funcionam como querosene despejado na chama da comparação social, aumentando dramaticamente as informações sobre as pessoas às quais estamos expostos e incentivando nossas mentes a avaliar o tempo todo.
Olhando pelo lado positivo, a comparação social tem uma função evolutiva que nos ajudou a sobreviver e a socializar, além de ter a função de ‘auto-avaliação’, como assumiu Leon Festinger, em 1954, quando cunhou o termo. Para Thomas Mussweiler, professor de comportamento organizacional na London Business School, ‘a comparação é uma das maneiras mais básicas de desenvolvermos uma compreensão de quem somos, no que somos bons e no que não somos tão bons. Ela acontece não apenas de maneira estratégica, mas também espontânea e automática sempre que somos confrontados com os outros‘. Sendo assim, o auto-aperfeiçoamento pode ser ajudado pela comparação ascendente que nos inspira a sermos melhores.
Buscamos no outro o nivelamento para saber se estamos bem ou mal e como bem disse Leandro Karnal, ‘a função do hospício não é colocar os loucos lá dentro, é garantir que os que estão fora não são loucos. Os que estão fora olham, e dizem, bom, eu não estou lá então eu devo ser normal’. Porém, a comparação é tóxica e problemática quando serve apenas para notar diferenças intransponíveis – ‘ahhh ela é muito mais magra, rica e bonita do que eu‘ ou mesmo insistir em semelhanças com alguém que desprezamos (aquele perdedor também está desempregado).
Mark Twain já dizia que ‘comparação é a morte da alegria’. Devemos entender que o que as pessoas apresentam ao mundo exterior geralmente é uma versão editada da realidade, afinal, as pessoas têm menos probabilidade de revelar suas emoções negativas do que suas emoções positivas. Tendemos a subestimar a positividade na vida alheia e a verdade é que na vida, nós nunca chegaremos a um ponto em que seremos melhor do que os outros em todos os sentidos. O interessante de tudo isso é justamente aprender com os talentos de outras pessoas, aceitando nossas diferenças. Assim, você concentra sua energia em ser a melhor versão de si mesmo e mantém o foco em seus próprios objetivos e no que é necessário para alcançá-los.
Infelizmente, apesar de atingir a todos, nós mulheres, somos mais suscetíveis à ela por causa de uma tendência social de nos colocar umas contra as outras: Meghan x Kate; gorda x magra; mães x não mães; solteira x casada, etc. Por outro lado, a boa notícia é que a tendência de se envolver em processos de comparação diminui ao longo da vida, de acordo com um estudo de 2015, realizado por pesquisadores das universidades de Essex e Cambridge.
Busco diariamente me lembrar que vivemos a era da crise de identidade. As pessoas não sabem o que ou quem são, então por que me comparar com pessoas que estão mostrando o que de fato não existe? Tento focar a minha energia em valorizar o meu eu, a minha história, aprender com os meus erros e entender o que eu quero e faz sentido para mim. Claro que nem sempre é fácil e ainda tenho muito a aprender, mas ter esse mindset já me ajuda e, por isso, talvez te ajude também.
Sinto que sem a comparação, a pressão diminui, elimina-se a sensação de fracasso em uma sociedade que estimula a crença de que ‘ninguém quer parecer perdedor’. Sem ela, nos permitimos construir novos caminhos e trilhar um novo e único rumo, o nosso.
Para mergulhar ainda mais fundo
- A primeira e única coach de ‘comparação’ do mundo, Lucy Sheridan, traz reflexões muito interessantes em seu livro “The Comparison Cure: How to be less ‘them’ and more you”.