Estamos a poucos dias das eleições e é impossível ficar indiferente, portanto hoje faço um comentário e análise pessoal. O ponto que quero trazer aqui não visa te convencer a votar em ciclano ou odiar o beltrano. Independente de partido e opinião, quero compartilhar uma constatação que vai muito além: a internet deu voz a um exército de idiotas e isso ficou mais nítido com as eleições.
Quase um quarto da população mundial está no Facebook – no Brasil, 84% dos brasileiros acessam as mídias sociais diariamente, sendo assim, não é novidade para ninguém que tais redes diluíram a hierarquia vertical dos grandes meios de comunicação que detinham o monopólio de informar. Pessoas cada vez mais conectadas criaram oportunidades de participação e opinião sobre uma infinidade de assuntos, reforçando suas visões de mundo e invadindo o mainstream. Todo esse acesso à informação e a disseminação de ideias de diferentes lados passaram a afetar tudo, inclusive a vida política.
Como tudo na vida tem dois lados, aqui não seria diferente. Pensando no lado positivo, a conectividade trouxe mais democracia, mais oferta, mais alternativas e menos tutelagem. Por outro lado, com a facilidade do acesso às redes sociais, qualquer pessoa comum pode virar um jornalista. Tal conectividade tem permitido efeitos virais de opinião – o que permite que a ideia do Joãozinho ultrapasse barreiras, vá além do seu círculo de conexões mais próximas e atinja milhares e milhares de pessoas – acontece que Joãozinho, sem o apoio das redes, não teria sua informação disseminada para mais de 20 pessoas. E quem é Joãozinho? Não que ele não possa passar a sua opinião adiante, mas qual o embasamento de tal opinião? Ela é fundada em fatos verídicos ou, infelizmente, efeito de ‘bolhas de filtro’?
De acordo com uma pesquisa feita pelo DataSenado, pelo menos 72% dos brasileiros já viram, leram ou ouviram notícias políticas que desconfiam serem falsas. A pesquisa mostrou que é mais comum receber notícias aparentemente não verídicas entre os que acessam as redes sociais (74% deles dizem receber esses conteúdos) com relação aos que não as utilizam (64%).
E é justamente aí que mora o perigo. O Brasil tem um sistema político, onde nossa democracia ainda jovem pode sofrer com estes tipos de manifestações baseadas apenas e tão somente em percepções pessoais, muitas vezes sem nenhum fundamento de verdade.
As redes sociais funcionam, neste caso, como uma caixa de ressonância amplificando o que as pessoas pensam e dizem. Novamente, nada contra a propagação de ideias dentro de um ambiente democrático, porém grande parte dessas pessoas são despreparadas e acabam gerando mais conflitos pessoais, brigas de membros da mesma família, amizades desfeitas, enfim, um ambiente tóxico.
Como pano de fundo, resta apenas a constatação de que, infelizmente, o nosso sistema educacional não funcionou para dar um respaldo intelectual a uma parte importante da população. Consequência? A elevação da disseminação da desinformação, elevando a amargura em uma eleição já polarizada e violenta.
Para concluir, reforço que nós não estamos sozinhos nessa e o desafio de enfrentar esses obstáculos online à democracia não é exclusivo ao Brasil. Em todo o mundo, os impérios de mídia social permitiram que maus atores influenciassem as cédulas por meio de bots, notícias falsas e supervisão frouxa e lamentavelmente este é um problema que é ainda pior nos países que não falam a língua inglesa.
Apesar de todos os problemas supracitados, temos que comemorar o fato de termos uma democracia completa, uma das eleições diretas envolvendo um dos maiores colégios eleitorais do planeta (> 156 milhões). Mas, ainda acho que devemos sempre nos lembrar da grande frase de Churchill ‘a democracia é a pior forma de governo, com exceção de todas as demais’.