Todo mundo que é usuário do Instagram e Facebook vem sentindo as mudanças que o Meta vem gerando nas plataformas. A grande maioria não tem gostado e tem sido comum expressarem sua insatisfação. De umas semanas para cá, a Internet foi inundada por artigos sobre esse cenário e muitas são as opiniões. Entenderemos melhor o que tais mudanças significam e por que estamos entrando em um novo momento das redes sociais.
Ao longo dos anos, a Meta “afinou” os feeds do Facebook e Instagram para oferecer uma proporção diferente de tipos de conteúdo – às vezes há mais conteúdo de notícias, às vezes há mais vídeos, às vezes há mais atualizações locais, etc. – mas a receita tem permanecido a mesma.
A mensagem nos últimos anos tem sido bem clara: a culpa é sua se seus posts não chegam a ninguém; se seu alcance está caindo, você não postou nada envolvente; não criou um reels bom o suficiente, ou não investiu um tempo adequado para ser o diretor de arte de sua própria vida.
Então, na semana passada, a gigante Meta anunciou que o Facebook newsfeed também mudaria para um modelo de distribuição de conteúdo algorítmico, baseado em recomendações, seguindo os mesmo passos mais recentes do Instagram. Ou seja, ambas plataformas oferecerão uma experiência semelhante à do TikTok, priorizando as recomendações personalizadas de conteúdo de vídeo dos criadores.
A chuva de reclamações vem de todos os lados. Kylie Jenner postou recentemente sobre seu descontentamento. Com mais de 360 milhões de seguidores no Instagram, sua influência não pode ser ignorada: a última vez que ela reclamou de uma mudança relevante sobre o Snapchat, o preço das ações da rede social caíram em 7%. Portanto, provavelmente não é coincidência que o CEO do Instagram, Adam Mosseri, tenha postado um vídeo discutindo algumas dessas recentes mudanças e planos. Nele, Mosseri reconhece que o mundo está mudando, e afirma que o Instagram deve estar disposto a mudar junto dele.
Sendo assim, graças ao TikTok, que popularizou a distribuição de conteúdo algorítmico, este é o fim das redes sociais como a conhecemos – estamos entrando na era da mídia de recomendação.
A mídia de recomendação
Neste modelo, o principal mecanismo para a distribuição de conteúdo é por algoritmos indefinidos, definidos pela plataforma, que prioriza a máxima atenção e engajamento dos usuários. Por exemplo, se a plataforma determinar que alguém adora filmes, essa pessoa será provavelmente impactada por muito conteúdo relacionado, porque é isso que melhor capta a atenção dessa pessoa. Isto significa que as plataformas também podem decidir o que os consumidores não verão, tais como tipos de conteúdo considerado problemático ou polarizador.
Ao contrário do que conhecemos hoje, a mídia de recomendação não é uma competição baseada na popularidade; ao invés disso, é uma competição baseada no melhor conteúdo. Através desta lente, não é de admirar que Jenner se oponha a esta mudança; seus milhões de seguidores simplesmente valem menos em uma versão de mídia dominada por algoritmos e não por seguidores. Neste novo modelo, ganha-se o melhor conteúdo para cada consumidor.
Uma melhor experiência de consumo
Enquanto no modelo antigo as pessoas veem o conteúdo de seus amigos independentemente da qualidade, agora, a distribuição do conteúdo é otimizada para o engajamento. Isto resulta em pouco desperdício de feed, e os padrões de consumo são altamente eficazes.
As plataformas também podem decidir o que é popular e quando. Antes, os criadores mantinham o poder de programação sobre o que é visto e quando. Hoje, a plataforma está sempre no controle. Isto é como as redes de televisão a cabo e rádio têm operado durante décadas; elas programam todas as mídias com base em decisões editoriais e comerciais.
Menos confiança e risco de segurança.
Por estar no controle e definir a quem e quando o conteúdo será mostrado, não há garantia de que os seguidores de um criador verá seu conteúdo. Na mídia de recomendação, o algoritmo é entendido como o decisor final sobre o que ganha e o que não ganha tração. Isto dá às plataformas muito mais vantagem para esconder conteúdo indesejado e, portanto, reduzir a necessidade de equipes de moderação massiva.
Sendo assim, conforme li por aí, neste novo modelo faremos menos escolhas explícitas (“estes são meus amigos”) e mais escolhas implícitas (“é aqui que o algoritmo recomenda que eu gaste minha atenção”) sobre como, quando e por que consumimos conteúdo. A curto prazo, podemos não notar muita diferença, mas será fascinante olhar para trás daqui a alguns anos e refletir sobre como nossos comportamentos pessoais mudaram.
O que você acha? Sua relação com o Instagram está mudando? As mídias sociais como conhecemos se foram de vez?
Quer saber mais?
A New Yorker publicou uma reportagem extensa (e excelente) com o título “TikTok e a queda dos gigantes das redes sociais”.