Prancheta 1

Como é morar em lugares inóspitos?

Meu pai tem mania de ficar no app Tempo do iPhone analisando como anda a temperatura nos lugares ao redor do mundo. A mania vai soar ainda mais estranha quando eu te contar que ele inclui dentro da lista lugares pouco inóspitos como Yakutsk e Tromsø. Isso tudo me gerou muita curiosidade e fez eu me perguntar: como é morar nesses lugares? Por que alguém opta por morar em lugares assim? Quais as peculiaridades dessas regiões pautadas por extremos? Então, hoje resolvi responder um pouco dessas perguntas e dividir com vocês os meus achados!

Pra você que não sabe, Yakutsk é considerada a cidade mais fria do mundo, ou seja, já dá pra entender o porquê da minha curiosidade em saber o que leva alguém a escolhê-la para morar. Localizada na Sibéria Oriental, a cidade conta com mais de 280.000 habitantes e tem o seu mês mais gelado em janeiro, no qual as temperaturas médias chegam a -50°C, restringindo a visibilidade das pessoas a 10 metros. Agora, antes de dar continuidade, você precisa entender o que o frio extremo faz com a gente. Normalmente quando enfrentamos -20°C, a umidade em nossas narinas congela e o ar frio começa a tornar difícil não tossir. A -35°C, o ar resfria o suficiente para entorpecer rapidamente a pele exposta, tornando as queimaduras por congelamento um perigo constante. E a -45°C, o uso de óculos fica complicado já que o metal gruda em suas bochechas e arranca pedaços de pele quando você decide removê-los.

Lá, todos os edifícios foram construídos sobre concreto e palafitas de aço, suspendendo-os por volta de 2m acima do solo. Isso acontece porque, durante o verão, quando as temperaturas podem subir até 40°C, a camada superior do solo congelado descongela, variando entre um metro até três metros de profundidade, alterando a estrutura. Para se ter ideia, os carros que foram feitos para funcionar a combustão costumam não ser desligados mesmo quando não estão sendo usados ou são guardados em garagens aquecidas. Ficar mais do que 15 minutos na rua, mesmo com muitas camadas de roupa, não é uma boa ideia.

Já outro destino que é marcado por extremos é Tromsø, que fica na pequena ilha de Tromsøya, rodeada por fiordes e montanhas, sendo a maior cidade do norte da Noruega. Localizada a 350 km acima do círculo polar ártico, com cerca de 75 628 habitantes, o local é constantemente associado a uma natureza exuberante, tornando-se destino de muitos turistas em busca da Aurora Boreal e aventuras.

A região é palco do fenômeno chamado, ‘Sol da Meia Noite’ – que ocorre no período de 20 de maio a 20 de julho – o qual deixa a cidade sob o sol 24 horas por dia, durante mais de um mês. Para se ter ideia, como há luz do dia a qualquer hora, as pessoas não obedecem ao relógio e costumam sair para pescar, fazer caminhadas e ciclismo no meio da noite. Indo em direção oposta, durante o inverno faz muito frio e os moradores precisam enfrentar outro fenômeno, conhecido como ‘A Noite Polar’, ou seja, acordar de manhã por dois meses sem ver o sol. Durante esse fenômeno, o sol permanece abaixo do horizonte durante todo o dia. Consegue imaginar o que isso pode gerar no seu organismo? Para se ter ideia, lá existe um hospital psiquiátrico que trata de depressão sazonal (SAD), com uma lâmpada especial que imita a luz solar. Além disso, quem mora por lá tem que estar preparado para uma neve infinita, que cai ao longo de sete meses, tendo como média 1 metro de profundidade até o final de março.

Então repito as minhas perguntas do início: como as pessoas conseguem sobreviver, e fazer coisas da vida cotidiana nesses lugares? Pegando gancho em um dos links que disponibilizei no ‘#pralercomcalma’ da edição passada para tentar responder essas dúvidas, reforço que a realidade é que ‘as pessoas tendem a pensar que o clima é mais importante para sua felicidade do que realmente é.’ A menos que você sofra de SAD, a mudança de lugar para um que tenha mais luz solar ou seja mais quente, provavelmente não vale a pena o esforço e não te trará mais felicidade.

Temos que nos lembrar que o ser humano aprende a se adaptar facilmente. Por exemplo, os habitantes locais de Yakutsk se tornaram especialistas em se adequar ao ambiente frio – eles sabem que os chapéus de pele são mais eficazes do que os chapéus de malha ao proteger a cabeça do frio; o mesmo vale para as botas de pele, que são as melhores candidatas para proteger os pés das queimaduras que o frio pode causar.

As casas em Yakutsk são construídas para suportar o ambiente gelado. Sem falar o quanto eles usam o clima a seu favor, exemplificado através de seus mercados ao ar livre, nos quais o peixe e a carne permanecem naturalmente congelados em exposição sem precisar de nenhum tipo de tecnologia para conservá-los. Outro ponto positivo, suas terras são extremamente férteis e maduras com muitos recursos naturais. Você sabia que cerca de 20% dos diamantes do mundo vêm de minas em Yakutsk? Além disso, a cidade tem uma variedade de opções de refeições, cinemas e outras formas de entretenimento da vida urbana. Ah, e tenho mais uma curiosidade pra te contar: um casaco de pele longa pode custar bem caro, e por isso as pessoas podem fazer uma espécie de mortgage sobre um casaco de pele, assim os bancos emprestam dinheiro e permitem que as pessoas comprem a roupa que precisam.

Em Tromsø, os jardins de infância costumam colocar os bebês para dormirem agasalhados em seus carrinhos fora de casa para que se acostumem com o frio. Já enquanto o sol não sai do céu, alterando o ciclo circadiano, é comum as pessoas ajustarem as janelas para que a casa fique mais escura em torno das sete ou oito horas da noite, por mais que a sensação às vezes é de que são cinco horas da tarde, sendo que na verdade já são dez horas da noite.

Agora que aprendemos um pouquinho sobre esses dois lugares que oferecem situações extremas, eu sinto que passamos a valorizar mais as condições do lugar que moramos, não é mesmo? Quem mais se sentiu assim também?

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