Essa semana a comunidade judaica celebrou o Rosh Hashaná, que é o ano novo judaico. Achei que seria interessante trazer um pouco sobre o simbolismo que essa data representa, pois acredito que muitos ensinamentos e mensagens vão muito além da religião em si, servem para nós evoluirmos como seres humanos e também caem como uma luva diante do cenário que vivemos ano passado e ainda estamos enfrentando.
Os hebreus usavam um calendário lunisolar muito antes de o calendário gregoriano ser estabelecido como o sistema usado em outros lugares do mundo, por isso, para eles estamos entrando no ano de 5.782. O calendário judaico contém 12 meses e consiste de 353 a 355 dias, em vez de 365 ou 366 e essa é a primeira grande data do que chamamos de Grandes Festas (ou Grandes Dias Santos), um período de dez dias que termina com Yom Kippur – o dia mais sagrado do ano judaico, o dia do perdão.
Judeus de todo o mundo celebram nesta data, a criação do mundo e dos humanos por Deus, sendo este considerado um período para as pessoas refletirem sobre o ano que passou e pedir perdão pelos erros cometidos, lembrando também de não repeti-los no próximo ano. É uma oportunidade para nos tornarmos melhores versões de nós mesmos e para orar para que nossos nomes sejam escritos no Livro da Vida por mais um ano.
Trago uma frase que o neurologista, psiquiatra e sobrevivente do Holocausto Viktor Frankl disse uma vez e que cabe perfeitamente no contexto desta reflexão “quando não somos mais capazes de mudar uma situação, somos desafiados a mudar a nós mesmos.” Paremos para pensar: o último ano foi de enormes desafios, um ano de muito sofrimento em que pessoas ao redor do mundo lamentaram seus entes queridos, expressaram gratidão para com os funcionários da linha de frente, sofreram com o que viria a seguir e lidaram com frustrações novas e inesperadas. Enfrentamos de fato uma situação que não podemos mudar, mas a maneira de encará-la, essa sim, podemos, desde que abramos espaço para esse tipo de reflexão.
Muitos são os exemplos de evolução do Judaísmo, e a mensagem a ser passada é sempre a mesma: nós não estamos sozinhos nos sentimentos de medo, trauma, isolamento. Enquanto lidamos com a pandemia e suas consequências contínuas, a história do povo judaico é um bom exemplo de superação e traz esperança. O momento atual é de mudança, mas devemos nos lembrar que não é o primeiro e não será o último. A tragédia que enfrentamos pode ainda não ter ficado para trás, mas encontraremos forças para superá-la.
Um dos costumes mais fascinantes do Rosh Hashaná é chamado Tashlich. Durante esta cerimônia, os judeus dirigem-se a um corpo de água – pode ser um oceano, rio ou lago – e jogam pequenos pedaços de pão. Este ato simboliza uma oportunidade de, literalmente, “abandonar” seus pecados para serem levados pela correnteza ou comidos por peixes. O ato não deve ser banalizado e não devemos usá-lo como uma saída para toda vez que houverem erros, mas é um entendimento de que todos nós fazemos coisas das quais não nos orgulhamos.
Errar é humano e todo mundo cometeu erros no ano passado, todo mundo acumulou um pouco de pão, mas em vez de ficar pensando para sempre no que fizemos de errado, Tashlich nos permite reconhecer a nossa intenção de retornarmos ao nosso verdadeiro eu, nos permitindo reconhecer que somente quando você se perdoar por seus erros passados poderá se concentrar em melhorar no futuro.
Dedico a newsletter de hoje ao recomeço e convido todos a se inspirarem nessa tradição judaica para também buscarem a renovação. Quer você celebre Rosh Hashaná ou não, um shaná tová umetuká, um ano bom e doce a todos vocês.