Se você chegou a assistir a série da Apple TV+, We Crashed, deve ter se deparado com a mulher de Adam Neumann, Rebekah, incentivando-o inúmeras vezes a manifestar seus desejos e ambições, pois assim as mesmas se tornariam realidade. Aí, resolvi ir atrás dessa ‘prática’ e descobri que a ‘manifestação‘ É ALGO e em crescente expansão!
Mas o que é ‘manifestação’ exatamente?
De acordo com Angelina Lombardo, autora de A Spiritual Entrepreneur, “manifestar-se é tornar realidade tudo o que você quer sentir e experimentar…através de seus pensamentos, ações, crenças e emoções“. Essencialmente, é trazer algo tangível para sua vida através da atração e da crença, ou seja, se você pensa assim, essa ‘coisa’ virá.
A prática de se manifestar não é nova — remonta tanto ao movimento Novo Pensamento do século XIX quanto, mais recentemente, a um ressurgimento no ano 2006 graças ao livro de autoajuda ‘The Secret’ que vendeu 30 milhões de cópias e teve Oprah Winfrey como fã. A pandemia fez a busca pelo termo crescer exponencialmente — no Google o aumento foi de 600%, no Instagram as ‘hashtags’ #manifestation e #manifest já somam 15 milhões de postagens e no TikTok, as visualizações de conteúdo relacionadas estão atualmente ultrapassando os 16 bilhões.
A jornalista Stuart McGurk foi a um evento chamado Manifest 2022 em Londres em que todos os convidados eram incentivados a dizer ao resto do grupo por que estavam lá e o que queriam manifestar. Traumas, abortos, infância abusiva, vícios, depressão, câncer, entre outras razões, eram mencionadas, mas uma palavra apareceu repetidamente: pandemia. Quase todos queriam manifestar amor-próprio ou “abundância”, um termo que pode significar mais de uma coisa, mas muitas vezes está relacionado a dinheiro. Quase todos se sentiam perdidos.
Por que os jovens millennials e a Gen Z estão se interessando cada vez mais pela manifestação?
Bom, isso pode ser porque eles não tinham nada para fazer durante a pandemia ou pode ser que a adesão à ideia soou como uma coisa boa durante tal período difícil, dado que estudos apontam que acreditar num poder maior pode ter um efeito positivo na maneira como vemos e interagimos com o mundo ao nosso redor. As pessoas que são religiosas mostram menor grau de depressão e ansiedade e também tendem a viver mais tempo.
Vale reforçar que esse não é o primeiro evento e nem a primeira vez que as pessoas buscam respostas na fé após um trauma. Logo após a Primeira Guerra Mundial, por exemplo, houve um forte aumento do espiritualismo: após tantas mortes, as pessoas encontraram conforto no pensamento de que a morte em si não era o fim. Agora, estudos recentes sugerem que o pensamento positivo pode, de fato, levar a uma melhoria da saúde mental e física.
Como tudo que tem demanda tem oferta, esse caso não foi diferente e naturalmente a comercialização de soluções relacionadas ao tema começou a acontecer. Por exemplo, a astrologia promete um futuro muito mais brilhante do que o presente e de uns anos para cá entrou para o mundo dos apps e assinaturas, com o Sanctuary ou o Big Zodiac que vale mais de US$ 2 bilhões. Já o mercado da ‘manifestação’ é difícil de quantificar – ele vem sendo explorado por livros, joalheria de bem-estar (com cristais), eventos e mais — mas, é claramente a subseção de crescimento de um mercado de bem-estar que agora se diz valer de US$ 1,5 bilhão.
Por fim, entendi que, como parte da manifestação, é preciso olhar para tudo ao seu redor de forma ultra positiva. Afinal, uma vez que os eventos são o resultado direto das manifestações, então a lógica indica que as consequências negativas devem ser o resultado delas também – e, portanto, devem ser consideradas positivas. Você se entrega ao destino, mas é uma coisa de sua própria autoria.