Eu tenho muita ressaca e muitas vezes deixo de beber por conta dela. Só de pensar naquela dor de cabeça infinita, a fraqueza, o enjoo e tontura que o dia seguinte carrega, eu desisto de ‘chutar o pau da barraca’ no bar. A verdade é que eu gosto de beber e sempre gostei – não bebo, porque serei mais ‘socialmente aceita’ ou porque quase todos os programas ‘sociais’ envolvem álcool. Eu bebo, porque aprecio o sabor de certas bebidas – margarita, sakê, cerveja e um bom vinho, sempre brilham meus olhinhos.
Essa semana estava lendo uma série de artigos e newsletters que assino quando me deparei com a notícia de que novas pesquisas sugerem que a maioria das ‘curas para a ressaca’ que conhecemos para trazer de volta o nosso eu e mandar embora o ‘zumbi’ que nos transformamos quando ela bate, não possuem uma ciência sólida por trás. Como assim não existe cura para a ressaca? Pois é… Sendo assim e curiosa que sou, fui ler mais a respeito pra tentar aprender mais sobre.
O estudo
Pesquisadores do King’s College London e do South London and Maudsley NHS Foundation Trust analisaram 21 estudos, de um total de 386 participantes, que envolviam remédios comuns para curar a ressaca, como vitaminas, ervas, produtos comerciais e medicamentos de venda livre. Publicado no Journal Addiction, eles demonstraram ter poucas evidências de que qualquer suplemento possa aliviar o nosso sofrimento durante a ressaca. Apesar de alguns dos remédios apresentarem potencial para o alívio dos sintomas, foi concluído que mais pesquisas são necessárias para que qualquer um deles seja sustentado pela ciência.
Dentre os tratamentos analisados, alguns tiveram mais resultados sob os sintomas da ressaca: o extrato de cravo, o ácido tolfenâmico (analgésico e antiinflamatório) e o pyritinol (um tipo de vitamina B6).
O Resistente x o Vulnerável à Ressaca
Nem todo mundo sente ela da mesma maneira, mas como algumas pessoas conseguem não sentir os sintomas do dia seguinte? Está tudo na genética. Já reparou que pessoas de ascendência chinesa, japonesa e coreana têm uma mutação que impede seus corpos de quebrar efetivamente o álcool, resultando em acetaldeído acumulado, rubor alcoólico e ressacas piores – mas com menor chance de distúrbio de uso de álcool (alcoolismo)? Por outro lado, 23% das pessoas afirmam ‘nunca sofrer de ressacas, mesmo quando bebem muito’. Provavelmente são bons genes que ‘ajudam a expulsar o álcool e seus metabólitos do sangue, e amortecer a inflamação que pode resultar da intoxicação.’
As ressacas pioram à medida que envelhecemos?
Não há provas para este mito. Na verdade, de acordo com Richard Stephens do Alcohol Hangover Research Group, um estudo feito em 2013 descobriu que as ressacas são cerca de sete vezes mais prováveis para jovens de 20 anos do que para jovens de 60 anos, apesar disso estar provavelmente relacionado à intensidade da bebedeira.
E qual a visão sobre o álcool nos dias de hoje?
Já falamos por aqui sobre isso, mas a pandemia acelerou uma tendência crescente das ‘férias sóbrias’. Tem até empresa de viagens que está se especializando nisso, que é o caso da We Love Lucid que teve um aumento de 60% nas reservas e consultas nos últimos 18 meses. Dentre os clientes que a procuram, 70% são pessoas que não consomem álcool, enquanto 30% são simplesmente ‘curiosos’. Essa é uma tendência que parece vir para ficar, já que o Global Wellness Institute, uma organização sem fins lucrativos dos EUA, prevê que até 2022 o turismo de bem-estar em todo o mundo valerá quase US$ 1 trilhão, um quinto do mercado.
As tendências
Cada vez mais lojas que vendem bebidas alcoólicas compram vinhos que se encaixam dentro de uma nova categoria chamada de ‘Better For You’, que conta com vinhos que possuem geralmente níveis inferiores de álcool, açúcar, calorias, além de enfatizar a sustentabilidade e/ou transparência na rotulagem dos ingredientes. A BFY aumentou quase 100%, em 2020, em comparação com 2019, de acordo com dados Nielsen. Esse é o caso da marca Sunny With a Chance of Flowers que promete ter apenas 85 calorias, zero açúcar e 9% de álcool.
Outro mercado que vem numa crescente são as‘hard seltzer’ que conseguiu, num curto espaço de tempo, o que levou mais de três décadas para ser feito com cerveja artesanal, conquistando uma participação superior a 10% do espaço ocupado por elas, além de crescer mais de US$ 4,1 bilhões em vendas anuais. E o que elas são? Bebidas cuja composição principal é água gaseificada com sabor e álcool que atraem muitos consumidores devido à vasta gama de opções de baixo teor calórico e baixo teor de açúcar