Essa semana me dei conta das inúmeras vezes que eu faço alguma tarefa pensando em ‘resolver tal coisa‘, em literalmente tirar da frente, quase que como se eu não a fizesse, eu fosse perder o controle da minha vida, da minha rotina, do que sou capaz. É como se muitas vezes eu estivesse mais preocupada em dar check na minha lista do que de fato curtir a jornada. Sério que a autoavaliação do que sou capaz se resume a quantidade de itens riscados da minha lista de tarefas? Ou seria tudo isso uma tentativa de controlar o tempo, de dar conta dele? Que sensação falsa é essa de que quando eu chegar ao final da lista de tarefas, ela irá zerar?
Tenho um milhão de coisas passando pela minha mente, e estou sempre adicionando mais. Para muitos, a lista de ‘to-dos‘, seja escrita ou mental, sofre de uma espécie de scroll infinito: atingir o fim dela pode ser inimaginável. Não é à toa que vemos a síndrome de burnout acometendo tantas pessoas. Como diz a jornalista Anne Helen Petersen, o burnout induz a paralisia de tarefas, porque é psicologicamente drenante: estar estressado e sobrecarregado deixa pouca margem para manobras mentais a fim de lidar com qualquer coisa que não seja urgente.
De acordo com Cal Newport, um professor da Universidade de Georgetown que frequentemente discute produtividade em seu podcast “Deep Questions”, o volume de coisas diferentes que uma pessoa toca durante um dia de trabalho aumentou muito, e isso é particularmente cansativo. Ele acha que essa exaustão torna mais difícil lidar com uma lista de to-do’s após o dia útil. Faz sentido, né? Tudo o que queremos pós trabalho não é lidar com tarefas e sim ligar a TV e desligar a mente.
Essa péssima combinação – mais tarefas para fazer x capacidade reduzida de fazer – não parece ser algo que possa ser facilmente revertido, especialmente por qualquer pessoa. Pois é…a gente vive se iludindo de que vamos encontrar a estabilidade perfeita, a resposta para a equação complexa que é a vida. Vivemos nos iludindo de que vamos ter ‘controle sobre tudo’. Não. A vida é aleatória e imprevisível e nós não temos controle sobre ela.
Vivemos tendo a sensação de que ‘precisamos fazer tudo certo’, de que ‘não podemos falhar’ e, consequentemente, vivemos aumentando a nossa lista de tarefas para justamente sermos a melhor versão de nós mesmos. Olha, aumentar a lista não é bem o problema, tá tudo bem usá-la como uma forma de organização, o que não dá é encará-la como um decreto de capacidade, de produtividade. Se tudo que está ali não for riscado, seria a gente um fracasso? Uma pessoa não produtiva?
Tenho certeza que não sou só eu que termino o dia passando tarefas de hoje para amanhã – mas para mim e meu lado malvado que adora dar as caras, parece que eu sou a única, mesmo sabendo que isso não é verdade. Aí eu repito ‘ninguém tá dando conta’ para ver se eu caio na real. Seja por conta dos filhos, do casamento, do trabalho, da casa, da alimentação, do futuro, dos negócios… tá difícil equilibrar os pratinhos, e não são só os meus pratinhos.
Eu venho tentando ser mais minha amiga. Como é fácil esquecer de exercitar essa ‘amizade’ tão importante. Já diria a aeromoça: ‘coloque a máscara de oxigênio primeiro em você, antes de ajudar a pessoa ao lado’. Pô, por que é tão difícil aplicar isso na vida real?
É claro que existem obrigações não negociáveis – as funções básicas do trabalho, cuidar das crianças, pagar as contas etc – que exigem atenção, mas uma vez definidos estes verdadeiros compromissos, você pode divorciar-se do conceito de ‘eu tenho que fazer’ quando se trata de outras tarefas que você achava essenciais, como acordar às 6 da manhã para organizar a cozinha quando fazer depois do trabalho será suficiente.
Hoje eu refleti sobre tudo, mas amanhã é um novo dia, e a lista de tarefas vai tá lá me esperando. Será que vou lembrar da tal amiga? Os dias são acelerados, e vira e mexe a ansiedade, minha companheira de longa data, aparece. De repente o tempo passa. E nada muda. Quanto tempo passará para tudo isso mudar?